Musas Eternas Especial

Dossiê Carlos Reichenbach

Eu dirigi Vanessa: Entrevista com José Adalto Cardoso

Por Matheus Trunk

José Adalto Cardoso foi um realizador de destaque na Boca paulista.  Ao todo, dirigiu 14 longas-metragens entre 1980 e 1987. Com a atriz Vanessa Alves, o diretor fez dois filmes: O Motorista do Fuscão Preto (82) e Massagem For Men (83). Atualmente, Adalto mora em Batatais, no interior de São Paulo. O realizador falou por telefone com a Zingu! sobre esses dois trabalhos com a atriz.

Zingu! – Como você conheceu o trabalho da Vanessa?

José Adalto Cardoso – Eu sempre gostei muito do trabalho dela. Queria trabalhar com ela desde que a vi nos filmes dos amigos. Ela sempre foi uma atriz diferenciada, bastante comportada. Nosso primeiro trabalho juntos foi em O Motorista do Fuscão Preto e depois eu fiz questão que ela estivesse comigo no Massagem For Men.

Z – Ela sempre foi uma atriz quieta?

JAC- Sim. Ela sempre foi uma pessoa bastante discreta. Acho que isso inclusive é uma vantagem do ator porque ele não fica dando palpites no trabalho do diretor. Nisso, ela era uma profissional diferenciada entre as demais da Boca.

Z – Você se lembra de algum momento importante desses trabalhos com ela?

JAC – Teve uma cena em O Motorista em que a participação da Vanessa foi muito marcante. Ela fazia uma moça que era namorada de um mecânico, que era interpretado pelo Diogo Angélica. No roteiro, o personagem do Diogo sofria um acidente. Nós fizemos uma cena em que a personagem da Vanessa encontrava o namorado acidentado e ficava chorando. A Vanessa emocionou toda a equipe porque ela fez a cena tão bem, que ela continuou chorando mesmo depois de a cena ter acabado. A gente precisou depois acalmar ela, falando que o trabalho tinha terminado. Ela é uma atriz que se entrega de cabeça ao trabalho e não vê nada além do personagem. Ela se identificou bastante com a personagem em O Motoristae acho que gostou de ter participado do filme.

Z – O Motorista do Fuscão Preto foi feito depois do filme Fuscão Preto do Jeremias Moreira Filho?

JAC – Na verdade, os dois filmes foram feitos ao mesmo tempo. O Motorista do Fuscão Preto é baseado numa canção de uma dupla caipira chamado Tonete e Taubaté. O Jeremias fez uma fita baseada numa música do cantor Almir Rogério, que fazia bastante sucesso na época. Inclusive, o Almir participa como ator do Fuscão Preto. Esse filme do Jeremias era focado no público infantil. Inclusive ele acabou chamando a Xuxa para participar da película. Na época, os filmes que tinham sucesso garantido eram as pornochanchadas que eram feitas para um outro público. Por isso, o filme dele acabou sendo prejudicado e não fez o sucesso esperado. Mas era um trabalho muito bem produzido.

Z – O Motorista teve grande bilheteria?

JAC – Deu resultado. Só que os produtores tinham a expectativa de ter feito mais. Por isso, o filme foi lançado com muitas cópias. O Motorista era um drama e só foi terminado graças à garra de toda a equipe.

Z – Você chegou a ter algum outro projeto com a participação da Vanessa?

JAC- Sim. Ela tentou a carreira de cantora também, e chegou a gravar um compacto que era destinado para o público infantil. Depois, eu tive a idéia de fazer um filme dramático em que ela interpretava uma cantora que fica perturbada com o sucesso que conseguiu obter. Eu cheguei a falar com o Odair Corona, que era produtor da gravadora Chantecler. Mostrei o compacto e ele gostou, me falou que ela tinha uma voz comum, pequena, mas bem colocada. Mas depois esse filme acabou não acontecendo. Acho inclusive que ela nunca soube desse projeto. Mas era um filme muito ambicioso.

Z – Você acha que ela merecia ser uma atriz mais reconhecida?

JAC- Na minha opinião, ela tinha cacife pra ser uma das atrizes tops da Boca como a Helena Ramos, por exemplo. Esse negócio de consagração vai muito de sorte, contingência, essas coisas. A Vanessa sempre foi uma menina talhada, era uma atriz que tinha muita garra. A gente percebia claramente isso nela. Como moro no interior, estou meio distante desse pessoal da época. Gostaria muito de revê-la, porque além de termos trabalhado juntos, ela foi uma grande amiga minha.

Musas Eternas Especial…

Dossiê Carlos Reichenbach

Um Mestre e sua Musa

Por Adilson Marcelino

“Minha paixão é pelo cinema, é para ele que corro atrás. Nunca fui atrás da televisão. Nunca foi minha praia”. Vanessa Alves fez essa declaração em entrevista para o meu site, Mulheres do Cinema Brasileiro, há alguns anos. E ainda que tenha feito alguns trabalhos na TV, foi mesmo nas telas que se tornou uma deusa e uma das mais amadas musas da Boca do Lixo.

Agora, se é o cinema a praia definitiva da atriz, o seu lugar especial é, definitivamente, no cinema do GRANDE Carlos Reichenbach.

Antes da carreira cinematográfica, Vanessa Alves – que ainda assinava só Vanessa – era modelo, fazia comerciais e participações em programa de TV. Selecionada em teste para A Filha de Emanuelle (1980), dos míticos Oswaldo Oliveira, diretor, e Antonio Polo Galante, produtor, os marmanjos tiveram que esperar a ninfeta fazer 18 anos para estrelar a produção.

Nesse comecinho de carreira no cinema, Carlão já está presente no trabalho da atriz. O cineasta a convida para O Paraíso Proibido (1981), segundo filme de Vanessa. E sob a direção do mestre, atua depois em mais quatro: Extremos do Prazer (1983), Filme Demência (1986), Anjos do Arrabalde (1987), e Garotas do ABC (2003).

Vários dos primeiros filmes de Carlos Reichenbach eu nunca consegui assistir, pois nem sempre chegavam a Belo Horizonte – e, se chegaram, perdi o bonde da época. Por isso não conheço O Paraíso Proibido e Extremos do Prazer. Fico só imaginando, cá com meus botões, o tanto que Vanessa Alves brilhou, pois o cineasta a escalou para outros trabalhos, e já disse, mais de uma vez, que ela e Ênio Gonçalves são seus atores-símbolos.

Mas como Deus ajuda quem cedo madruga, Filme Demência chegou a BH e no cinema mais amado por mim, o Roxy – sala sem maiores confortos, mas que se tornou verdadeiro templo para a cinefilia da minha geração, e que, infelizmente, não existe mais. Habitual freqüentador do cinema, nem acreditei quando Filme Demência entrou lá. Não conhecia o cinema do Carlão, mas já sabia de sua importância – e qual cinéfilo não sabe disso? Se não sabe, jamais poderá ser cinéfilo. Filme Demência foi minha porta de entrada – bela porta de entrada – e depois assisti todos os posteriores e alguns anteriores, como o episódio de As Safadas e meus xodós A Ilha dos Prazeres Proibidos e O Império do Desejo.

Pois bem, fui assistir a Filme Demência como abelha em pote de mel, mas, para meu desespero, não haveria sessão já que não tinha quórum suficiente de espectadores para apreciar a fita. E assim foi no segundo dia e também no terceiro dia. Esse quórum mínimo realmente existia, e não adiantava implorar para o porteiro e, pobre de marré-de-ci, nunca que teria dinheiro para comprar ingressos equivalentes. Daí que tive a idéia de juntar uma turma de amigos, implorar para alguns irem comigo, e assim pude, finalmente, assistir a essa obra-prima do cinema brasileiro.

E quem estava lá, na tela, pedindo carona para o Fausto de Ênio Gonçalves, toda serelepe? Naquele momento não sabia, mas rapidamente aprendi que era Vanessa Alves, mesmo porque era impossível não perceber a beleza, o talento e o frescor da jovem atriz – e olha que além de Ênio, tinha também um infernal Emílio de Biase aprontando todas como um Mefisto muito particular, e que, nesse trajeto, inclusive, encarna uma velhinha assustadoramente perigosa e maravilhosa.

O quarto encontro de Vanessa Alves com Carlão todo mundo já sabe. E para esse não precisei juntar gente para ver, pois foi um sucesso: Anjos do Arrabalde. E como todo mundo sabe também, Vanessa Alves arrasou em um elenco de feras – Betty Faria, Clarisse Abujamra e Irene Stefânia são as adoráveis e inesquecíveis professoras da periferia paulista – e levou para casa o Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante no XV Festival de Gramado, em 1987, e também o Prêmio Governador do Estado de São Paulo.

Pois bem, se Carlão estava lá no ‘inicinho’ da carreira de Vanessa Alves, foi ele também que trouxe a deusa novamente para as telas, depois de tempos longe dela, em Garotas do ABC, para a alegria de todos nós.

Os cinemas de Carlos Reichenbach e de Vanessa Alves estão intimamente entrelaçados. É a história de um mestre e sua musa.

Inventário Grandes Musas da Boca

Meire Vieira

Por Adilson Marcelino

A Boca do Lixo em São Paulo “importou” muitas atrizes do Rio de Janeiro para suas produções. Uma delas é Meire Vieira, que se tornou uma de suas musas.

Meire Vieira nasceu no Rio de Janeiro no dia 2 de junho de 1939. Nos quase quarenta filmes em que atuou, seu nome aparece em diferentes grafias: Meire Vieira, Meyre Vieira, Meire Vieyra, Meiri Vieira.

Meire Vieira já tinha atuado em vários filmes no Rio de Janeiro antes de iniciar carreira também em São Paulo. Descoberta por Pedro Carlos Rovai, antes de estrear no cinema era modelo e manequim, e chegou a ter uma boutique. Estreia no clássico A Viúva Virgem, de Rovai, em 1972, comédia erótica com a deusa Adriana Prieto que levou multidão ao cinema. E é novamente com Rovai e também em comédia erótica protagonizada por Adriana Prieto que Meire Vieira brilha como uma mulher casada fogosa e autorepressora em Ainda Agarro Essa Vizinha.

Outro ótimo momento em solo carioca é em O Libertino, de Victor Lima, em que é uma cafetina que se disfarça de professora para fugir do cerco do Comendador, interpretado pelo saudoso Costinha, diretor de uma liga de moralidade contra a pornografia. No cinema carioca, a atriz atua em muitos outros filmes de cineastas como Ronaldo Lupo, Roberto Machado, Ismar Porto, Victor di Mello, Saul Lachtermacher e Carlo Mossy.

Os primeiros filmes de Meire Viera em São Paulo são as comédias Quando Elas Querem e Eles Não, de Ary Fernandes; Cada Um Dá o Que Tem, no episódio Uma Grande Vocação, de Sílvio de Abreu; e O Quarto da Viúva, de Sebastião Souza, em que tem destaque como Marta Alvarado.

Em Possuídas Pelo Pecado, Meire Vieira se encontra com três nomes fundamentais da Boca do Lixo: David Cardoso, Ody Fraga e Jean Garret. Cardoso é o produtor e protagonista; Ody o co-roteirista; e Garret o diretor e co-roteirista. No filme, David Cardoso é André, motorista do rico empresário Leme, um homem déspota que humilha suas secretárias, adora orgias regadas a muita bebedeira, e que se sente frustrado por não ter filhos. O que ele não imagina é que seu motorista e braço direito pretende matá-lo em plano arquitetado por sua esposa Raquel, de quem André é amante, para se apoderarem de sua fortuna. No filme, Meire Vieira é Raquel, a mentora intelectual do crime, como ela mesma gosta de se autodenominar. Ambiciosa, ela pretende matar o marido para ficar com seu dinheiro e se casar com o amante. Possuídas Pelo Pecado é mais um filme de talento da bem-sucedida parceria entre Jean Garret e David Cardoso, e que rendeu outros dois belos sucessos: A Ilha do Desejo e Amadas e Violentadas.

Meire Vieira atua em outros filmes cariocas na época, mas dá sequência à carreira no cinema paulista. Atua em Presídio de Mulheres Violentadas, de Luiz Castellini, Oswaldo Oliveira e Antonio P. Galante. O filme tem argumento de Galante, o mítico produtor da Boca do Lixo, em único filme em que ele se envereda pela direção e que é exemplar do gênero presídio feminino que originou vários filmes.

Em Pintando o Sexo, Meire Vieira está no episódio dirigido por Egidio Eccio e que dá nome ao filme – os outros dois são O Lobo Mau, a Vovó e a Netinha, de Jairo Carlos, e Concheta, também de Eccio. No filme, ela é a protagonista Márcia, uma mulher em fogo, mas sem poder liberar a libido, já que o marido só quer saber de trabalho. Márcia tenta de tudo, faz curso de striptease e posa de modelo para o vizinho pintor. Mas como o marido só quer mesmo saber de suas pastas de trabalho e a carne é fraca, ela acaba pulando da pose estática para a transa no chão com o vizinho.

Em 1977, chega às telas o ótimo Escola Penal de Meninas Violentadas, de Antonio Meliande. O filme proporciona à Meire Vieira uma personagem perfeita para seu tipo marcante de mulher sedutora, auto-repressora e perversamente sexual. Ela é a Madre Superiora que dirige, junto a algumas freiras, uma escola de correção para prostitutas encarceradas – e é lá que essas mulheres vão encontrar um verdadeiro inferno instaurado pela loucura sádica e assassina da Madre.

Escola Penal de Meninas Violentadas é um dos grandes momentos do cinema da Boca, uma produção de Galante, que co-assina o argumento com Rajá de Aragão, e roteiro de Roberto Mauro. Antonio Meliande, que dirige e assina a fotografia, reuniu um elenco de deusas: Meire Vieira, Arlete Moreira, Zilda Mayo, Zélia Martins, Suely Aoki, e Nicole Puzzi – que ainda assinava só Nicole, novinha novinha e linda, no papel de uma freira que enfrenta a vilania da Madre e paga alto preço por isso.

Escola Penal de Meninas Violentadas é um grande momento de Meire Vieira na Boca do Lixo, mas é com o mestre Carlos Reichenbach que ela viverá seus pontos mais altos no cinema paulista. A atriz atua em A Ilha dos Prazeres Proibidos e O Império do Desejo, dois “cults” do cineasta, ambos produzidos por Antonio Polo Galante.

Em A Ilha dos Prazeres Proibidos, Meire Vieira é Lúcia Solanas, mulher que vive refugiada em uma ilha junto ao marido, o escritor Willian Solanas. Os dois e outros moradores da ilha vivem em um paraíso até a chegada da matadora de aluguel, Ana Medeiros, feita pela deusa Neide Ribeiro. Grande sucesso de bilheteria, A Ilha dos Prazeres Proibidos é uma metáfora perfeita para os sombrios tempos políticos da época, com alta carga libertária, poética e existencial. Um clássico dos anos 70.

Depois, Carlos Reichenbach volta a escalar Meire Vieira, dessa vez como a protagonista de O Império do Desejo, uma obra-prima do cineasta. No filme, ela é Sandra, uma recente viúva que viaja até uma casa de praia que era mantida pelo marido e que estava ocupada por grileiros. Essa ambientação na Ilhabela é a geografia perfeita para o cineasta povoar com alguns dos mais fascinantes personagens do cinema brasileiro: um advogado, um casal de hippies, duas jovens em acampamento, uma jornalista chinesa, um poeta pirado, duas prostitutas.

Tudo em O Império do Desejo é perfeito: o argumento, o roteiro, a fotografia, a direção, o elenco. E que elenco! Além de Meire Vieira estão Benjamin Cattan, Roberto Miranda, Márcia Fraga, Aldine Muller, Nádia Destro, Misaki Tanaka, Orlando Parolini, Marta Anderson. Obra-prima absoluta!

Nos Tempos da Vaselina é uma produção de Galante dirigida por José Miziara e ambientada no Rio de Janeiro. O filme conta a história de Onofre, em sensacional interpretação de João Carlos Barroso, um matuto da roça que se muda para o Rio de Janeiro, onde mora em um apartamento em Ipanema com o primo. Divertido, Nos Tempos da Vaselina é uma típica comédia que investe no tom malicioso, aqui com direito à ambientação que mistura tardes na praia e noites nas discotecas, febre no país nos anos 70.  No filme, Meire Vieira é uma viúva ardente que assusta o pobre Onofre com o que ele imagina como possíveis acessórios sexuais.

No final dos anos 70, a atriz faz em A Noite dos Imorais, filme policial do grande cineasta e fotógrafo Reynaldo Paes de Barros com uma história intrigante: uma arma passa de mão em mão e assim são apresentados os personagens em situações diversas. Atua também no “cult” Histórias que Nossas Babás não Contavam, uma produção de Aníbal Massaini Neto, dirigida por Oswaldo de Oliveira.

Sucesso de bilheteria, Histórias que Nossas Babás Não Contavam é uma adaptação sacana da fábula infantil. No filme, Branca de Neve vira Clara das Neves na pele mulata da deusa Adele Fátima, cercada por sete anões nada ingênuos. É mais uma personagem perfeita para Meire Vieira, que vive a rainha má e madrasta de Clara das Neves. Hilário!

Na década de 80, Meire Vieira encontra e reencontra nomes notáveis da Boca do Lixo. Mais uma vez é dirigida por Jean Garret e Antonio Meliande. Com o primeiro em O Fotógrafo, filme amado por muitos fãs, em que é Leila, uma mulher rica que se deixa fotografar em um bordel. Com o segundo atua em Anarquia Sexual, em que um instituto de pesquisa reúne jovens em uma ilha deserta, vigiados por uma inspetora repressora. Marca também o encontro com Oswaldo de Oliveira, agora na direção, em A Prisão, mais um filme do gênero presídio de mulheres e que virou um “cult” internacional.

Por fim, a década de 80 marca também o encontro de Meire Vieira com o cinema de Alfredo Sternheim, com quem atua no “cult” Corpo Devasso; na aventura As Prostitutas do Dr. Alberto, sobre experiências nazistas em que a atriz é a esposa do carrasco Dr. Alberto, interpretado por Serafim Gonzalez; e no suspense Tensão e Desejo, protagonizado pela deusa Sandra Graffi.

Depois de atuar na minissérie Bandidos da Falange, de Aguinaldo Silva, na Rede Globo, e em Nunca Fomos Tão Felizes, belíssimo filme de Murilo Salles – mas já no Rio de Janeiro -, Meire Vieira abandonou o cinema sem deixar vestígios.

É claro que Meire Vieira faz muita falta, mas uma coisa é certa: a musa jamais será esquecida.

***

Pitaco do diretor

Inicialmente, Meire Vieira era – e é – uma das profissionais mais respeitadas no meio. Ela tinha respeito à profissão, era pontual, e procurava no diretor o que tinha que fazer. Ela sempre se destacou. Foi uma grande alegria trabalhar com ela. Primeiro veio a surpresa, porque, em geral, as atrizes não tinham uma formação, e ela tinha aquela formação de atriz.  Por isso se destacou. E também pelo profissionalismo e pela beleza, além do talento.

José Miziara dirigiu Meire Vieira em Nos Tempos da Vaselina (1979).

***

Filmografia (large)

A Viúva Virgem (1972), de Pedro Carlos Róvai;
O Supercareta (1972), de Ronaldo Lupo;
Um Virgem na Praça (1973), de Roberto Machado;
O Libertino (1973), de Victor Lima;
O Fraco do Sexo Forte (1973), de Osíris Parcifal de Figueroa;
Divórcio à Brasileira (1973), de Ismar Porto;
As Depravadas (1973), de Geraldo Affonso Miranda;
Como era Boa Nossa Empregada (1973), em episódio de Victor di Mello;
O Marido Virgem  (1973), de Saul Lachtermacher;
Ainda Agarro Essa Vizinha  (1974), de Pedro Carlos Rovai;
Uma Mulata Para Todos  (1975), de Roberto Machado;
Com as Calças na Mão  (1975), de Carlo Mossy;
Quando Elas Querem… e Eles Não (1975), de Ary Fernandes;
Cada um Dá o Que Tem (1975), em episódio de Sílvio de Abreu;
O Quarto da Viúva (1976), de Sebastião de Souza;
As Loucuras de um Sedutor  (1976), de Alcino Diniz;
As Mulheres que dão Certo  (1976), em episódio de Adnor Pitanga;
Possuídas pelo Pecado  (1976), de Jean Garret;
Presídio de Mulheres Violentadas  (1976), de Luiz Castellini, Oswaldo de Oliveira e Antonio P. Galante;
Pintando o Sexo  (1977), em episódio de Egídio Eccio;
Escola Penal de Meninas Violentadas  (1977), de Antonio Meliande;
Deu a Louca nas Mulheres  (1977), de Roberto Machado;
A Ilha dos Prazeres Proibidos  (1978), de Carlos Reichenbach;
Bonitas e Gostosas  (1978), de Carlo Mossy;
Nos Tempos da Vaselina  (1979), de José Miziara;
Histórias que Nossas Babás Não Contavam  (1979), de Oswaldo de Oliveira;
Quanto Mais Pelada… Melhor (1979), de Ismar Porto;
A Noite dos Imorais  (1979), de Reynaldo Paes de Barros;
Corpo Devasso  (1980), de Alfredo Sternheim;
O Império do Desejo  (1980), de Carlos Reichenbach;
A Prisão  (1981), de Oswaldo de Oliveira;
O Fotógrafo (1981), de Jean Garret;
As Prostitutas do Dr. Alberto  (1981), de Alfredo Sternheim;
Anarquia Sexual  (1982), de Antonio Meliande;
Tensão e Desejo  (1982), de Alfredo Sternheim;
Nunca Fomos Tão Felizes  (1984), de Murilo Salles.

Fontes:
Livros: Dicionário de Filmes Brasileiros (Antonio Leão da Silva Neto) e Cinema da Boca – Dicionário de Diretores (Alfredo Sternheim)
Sites: Mulheres do Cinema Brasileiro, Estranho Encontro e IMDb.

Filmografia

Dossiê Carlos Reichenbach

Como diretor:


1965 – Duas cigarras (incompleto)

1966/68 – Esta rua tão Augusta


1968 – As Libertinas (episódio Alice)

Argumento, roteiro e direção de Carlos Reichenbach.

Fotografia e câmera: Waldemar Lima

Diretor Assistente: Antônio Manuel

Montagem e edição: Glauco Mirko Laurelli

Seleção musical: Salatiel Coelho

Produtora Xanadú Prod. Cinematográficas

Elenco: Célia de Assis, Terezinha Sodré, José Carlos Cardoso, Eduardo Campos, Antônio Manuel, Mady Sand e Benedito Lara.

35mm, 40’, Preto e branco.


1969 – Audácia! – A fúria dos desejos (Prólogo, com co-direção com Antônio Lima, e episódio A badaladíssima dos trópicos x Os picaretas do sexo)

Argumento, fotografia e direção de Carlos Reichenbach.

Roteiro: Jairo Ferreira e Carlos Reichenbach.

Montagem: Jovita Pereira Dias

Trilha Musical: Ravel, Xavier Cugat, Jimmy Hendrix, Brahms, etc.

Produtora: Xanadú Prod. Cinematográficas

Elenco: Maria Cristina Rocha, Palito, Sabrina, José Carlos Cardoso, Cléo Ventura, Gilberto Sálvio, Francis Cavalcanti, Marco Antônio Lellis, Wanda Rocha e Verônica Krimann.

35mm, 42’, Preto e Branco.

1971 – Corrida em Busca do Amor

Direção: Carlos Reichenbach 

Argumento: Aram Babaeghian e Renato Grecchi 

Diálogos: J. B. de Souza

Roteiro: Carlos Reichenbach, Jairo Ferreira e Percival Oliveira 

Fotografia: Cláudio Portioli

Músicas originais: Toni Ricardo, Vic Barone e Dick D’Anello;  seleção musical: Carlos Reichenbach

Montagem: Sylvio Renoldi

Produtores: Renato Grecchi, Nissin Katalan e Aram Babaeghian   

Elenco: David Cardoso, Gracinda Fernandes, Vic Barone, Luiz Carlos Clay, Dick D’Anelo, Tony Ricardo, Tuska, Carlos Bucka, Vitória Dowska, Celsa Moram, Cavagnole Neto, Jairo Ferreira, Antônio Andrade, Antônio Melliande, Antônio Ravagnoli, Carlos Reichenbach, Renato Gredhi, Tom Ricardo, Caetano Bianchi, S. Dávila 

35 mm, 92′, COLOR

1975 – Lilian M., relatório confidencial

Direção: Carlos Reichenbach
Assistente de direção: Marta Salomão Jardini
Roteiro: Carlos Reichenbach
Fotografia: Carlos Reichenbach
Seleção Musical: Carlos Reichenbach
Montagem: Inácio Araújo
Produtores: Elias Guri Filho e Carlos Reichenbach
Gerente de produção: Percival Gomes Ferreira
Co-produção: Serviços Publicitários Jota Filmes e Brasecran
Cenografia: Marta Salomão Jardini
Elenco: Célia Olga Benvenutti, Benjamin Cattan, Sérgio Hingst, Maracy Meio, Edward Freund, Walter Marius, José Júlio Spiewak, Theresa Bianchi, Caçador Guerreiro, Genésio Carvalho, Wilson Ribeiro, Paolo Picchi, Washington Lasmar

35mm, 120’, COLOR


1978 – Sede de Amar – Capuzes negros

Direção: Carlos Reichenbach
Assistente de direção: Kátia Carneiro
Roteiro: Mauro Chaves
Fotografia: Carlos Reichenbach
Musical: Mauro Chaves
Montagem: Alain Fresnot
Figurino: Reinaldo Cabral
Produção: Ney Fernando Arruda Alves
Gerente de produção: Percival Gomes Ferreira
Co-produção: Nefer Produções Cinematográficas
Cenário: Dárcio Lima

Distribuição: U.C.B. – União Cinematográfica Brasileira

Elenco: Sandra Bréa, Luiz Gustavo, Roberto Maya, Deivi Rose, Kátia Grumberg, Renato Máster, Fernando Benini, Oswaldo Barreto, Wilson Ribeiro, Márcia Fraga, Luiz Parreiras, Roberto Miranda, Genésio Carvalho, João Maia Neto, José Júlio Spiewak, Dino Arino, João Maia Neto, Sebastião Prado, Paulo Yassumitsu, Walter Silva, Lúcia de Santi, lvi Mari, Messias Garcez, Leal Silveira, Maria Antônia, Lígia Freitas Valle

35 mm, 92’, COLOR


1979 – A Ilha dos Prazeres Proibidos

Direção: Carlos Reichenbach
Roteiro: Carlos Reichenbach
Fotografia: Carlos Reichenbach
Musical: Roberto Pólo Galante
Seleção Musical: Carlos Reichenbach
Montagem: Walter Wanny
Produção: Antônio Pólo Galante
Co-produção: Galante Filmes e Ouro Filmes
Distribuição: Seleção Ouro e Art Filmes

Continuista: Isabel do Amaral

Elenco: Neide Ribeiro, Meire Vieira, Zilda Mayo, Roberto Miranda, Fernando Benini, Teka Klaus, Olindo Dias, João Maia Neto, Fátima Porto, Carlos Casan

35 mm, 90’, COLOR


1979 – Sonhos de vida


1979 – O M da minha mão

1979 – Sangue corsário

1980 – O Império do Desejo

Direção: Carlos Reichenbach
Assistente de direção: Carlos Shintomi
Roteiro: Carlos Reichenbach
Fotografia: Alfredo Stinn Alfredo Stinn (Carlos Reichenbach)
Seleção Musical: Carlos Reichenbach
Montagem: Walter Wanny / Gilberto Wagner
Produção: Antônio Pólo Galante
Co-produção: Galante Filmes
Distribuição: Ouro Filmes

Figurino: Sylvia Galante

Elenco: Roberto Miranda, Benjamin Cattan, Márcia Fraga, Meiry Vieira, Orlando Parolini, Jose Luiz França, Nádia Destro, Misaki Tanaka, Dino Arino, Genésio Carvalho, Maria de Fátima, Felipe Donavan, Maristela Moreno, Cavagnole Neto
Aldine Muller, Marta Anderson, Martha Martins

35 mm, 96’, COLOR


1981 – O Paraíso Proibido

Direção: Carlos Reichenbach
Assistente de direção: Carlos Xavier Shintomi
Roteiro: Carlos Reichenbach
Produção: Roberto Polo Galante
Co-produção: Galante Filmes
Distribuição: Ouro Filmes e Art Filmes

Fotografia: Alfredo Stinn (Carlos Reichenbach)
Musica: Hyldon, Papete, Oswaldinho Do Acordeon e Almir Satter
Figurino: Sylvia Galante
Montagem: Gilberto Wagner

Elenco: Jonas Bloch, Vanessa Alves, Luiz Carlos Braga, Ana Maria Kreisler, Fernando Benini, Carlos Casan, Toni Fernandes, Railda Nonato, Débora Berbert, Selma Egrei, Patrícia Scalvi, Antônio Carlos Aiello, Carlos Barreto, Carlos Eduardo de Castro, Jônia Freund, Walter Laurentis, Goretti Oliveira, Eduardo Passini, Glória Rios, Iria Rodrigues, Hélio Rosa

35 mm, 90’, COLOR


1981 – Amor, Palavra Prostituta

Direção: Carlos Reichenbach
Assistente de direção: Inácio Araujo
Roteiro: Carlos Reichenbach e Inácio Araujo
Música: Cezar Franck
Produção: Eder Mazzini, Inácio Araujo, Jean Garret, Cláudio Cunha e Alfredo Cohen
Co-produção: Iris Produções Cinematográficas, Cláudio Cunha Cinema e Arte, Brasil Internacional Cinematográflca e Titanus Filmes
Distribuição: Brasil Internacional Cinematográfica

Fotografia: Carlos Reichenbach
Edição: Éder Mazzini
Cenários: Inácio Araujo

Elenco: Orlando Parolini, Patrícia Scalvi, Roberto Miranda, Alvamar Taddei, Zaira Bueno, Rita Hadich, Wilson Sampson, Vânia Buchioni, Maurice Legeard, Luiz Castellini, Isa Kopelman, Lygia Reichenbach, Michel Coben, Benjamin Cattan, Liana Duval, Gilson Moura, Eder Mazzini, Elizabeth Sardelli, Eduardo Santos

35 mm, 92’, COLOR

1982 – As Safadas (episódio A Rainha do fliper)

Escrito, fotografado e dirigido por Carlos Reichenbach

Diretor de produção: Eduardo Santos

Montagem e edição Éder Mazini

Produzido por Antônio Polo Galante

Elenco: Zilda Mayo, Wilson Sampson, Carlos Koppa e Jonia Freund

35 mm, 30’, COLOR

1983 – Extremos do Prazer

Direção: Carlos Reichenbach
Assistente de Direção: Carlos Shintomi
Roteiro: Carlos Reichenbach
Produção: Jean Garrett e Antônio D’Ângelo
Direção de produção: Eduardo Santos
Co-produção: Embrapi – Empresa Brasileira de Produtores Independentes e Helena Filmes
Distribuição: Embrapi

Música: Carlos Reichenbach
Som: Jorge Ventura
Fotografia: Carlos Reichenbach
Camera: Carlos Reichenbach
Assistente de câmera: Luiz Antônio de Oliveira
Fotografia de cena: Carlos Shintomi
Desenho de Produção: Carlos Shintomi
Edição: Eder Mazzini
Maquiagem: Maria Antônia Lombardi

Elenco: Luiz Carlos Braga, Taya Fatoon, Eudes Carvalho, Roberto Miranda, Rosa Maria Pestana, Rubens Pignatari, Sandra Graffi, Vanessa Alves, Marco Rossi, Eduardo Zá, Judith Ferreira Lima, Carlos Reichenbach

35 mm, 92’, COLOR

1986 – Filme Demência

Direção: Carlos Reichenbach
Argumentos: Carlos Reichenbach
Roteiro: Carlos Reichenbach e Inácio Araújo
Produção: Éder Mazini, Carlos Reichenbach e Aníbal Massaini Neto
Co-produção: E.M. Cinematográfica, Cinearte Filmes, Beethoven Street Filmes e Embrafilme
Distribuição: Embrafilme

Música: Manoel Paiva e Luiz Chagas
Fotografia: José Roberto Eliezer
Desenho de Produção: Campelo Neto
Edição: Eder Mazzini

Elenco: Ênio Gonçalves, Emílio di Biase, Imara Reis, Fernando Benini, Rosa Maria Pestana, Kátia Lopes, Júlio Calasso, Cláudio Willer, Benjamin Cattan, Alvamar Taddei, Carina Cooper, Liana Duval, Valeska Canoletti, Renato Máster, Roberto Miranda, Orlando Parolini, John Dôo, Benê Silva, Jairo Ferreira, Carlos Reichenbach, Wilson Sampson, Vanessa Alves

35 mm, 90’, COLOR

1987 – Anjos do Arrabalde – As Professoras

Direção: Carlos Reichenbach
Roteiro: Carlos Reichenbach
Produção: Produções Cinematográficas Galante, Transvídeo e Embrafilme
Distribuição: Embrafilme

Música: Luiz Chagas e Manoel Paiva
Fotografia: Conrado Sanchez
Direção de arte: Sebastião de Souza
Edição: Eder Mazzini

Elenco: Betty Faria, Vanessa Alves, Irene Stefânia, Clarisse Abujamra, Nicole Puzzi, José de Abreu, Ricardo Blat, Ênio Gonçalves

35 mm, 90’, COLOR

1990 – City Life (episódio Desordem em progresso)

Escrito, fotografado e dirigido por Carlos Reichenbach.

Supervisor de diálogos: Inácio Araujo.

Diretor de arte: Sebastião de Souza.

Música original: André Luiz Oliveira.

Som direto Tide Borges e Lia Camargo.

Montagem e edição Éder Mazini.

Produtor executivo: Júlio Calasso.

Produtores: City Life Foundation / Rotterdam Films / Casa de Imagens Cinema e Vídeo

Elenco: Paulo Marrafão, Laurente Caraguá, Luís Ramalho, Sílvio Ferreira, Guilherme Lisboa, Júlio Calasso Jr., Zé da Ilha, Ricardo Homuth, Emilio de Mello, Cristina Rodrigues, com participações especiais de Marlene França e Iara Jamra.

16mm (negativo de filmagem), 35mm (cópia final), 20’, COLOR

1993 – Alma Corsária

Direção: Carlos Reichenbach
Roteiro: Carlos Reichenbach
Produção: Sara Silveira, Dezenove Som e Imagem Produções
Distribuição: Riofilme

Música: Carlos Reichenbach
Fotografia: Carlos Reichenbach
Desenho de Produção: Henrique Lanfranchi
Direção de arte: Renato Theobaldo
Figurino: Andréia Ramalho
Edição: Cristina Amaral

Elenco: Bertrand Duarte, Jandir Ferrari, Andrea Richa, Flor, Mariana De Moraes, Jorge Fernando, Emílio Di Biasi, Abrahão Farc, Roberto Miranda, Ricardo Petráglia, Paulo Marrafão, David Ypond, Amazyles de Almeida, Rosana Seligmann, André Messias, Denis Peres, Joaquim Paulo do Espírito Santo, Walter Forster, Cristiane Couto, Bruno de André, Carolina Ferraz, Leonardo Medeiros

35 mm, 111’, COLOR


1994 – Olhar e Sensação

1997 – Murilolendo

1999 – Dois Córregos – Verdades Submersas pelo Tempo

Direção: Carlos Reichenbach
Assistentes de direção: Daniel Chaia e Sergio Concílio
Roteiro: Carlos Reichenbach
Produção: Sara Silveira, Maria Ionescu, Caio Gullane e Fabiano Gullane
Co-Produção: Dezenove Som E Imagens, Tv Cultura e Fundação Padre Anchieta
Distribuição: Riofilme

Música: Ivan Lins
Arranjos e Produção Musical: Nelson Ayres
Música Incidental: Mario Gennari Filho, Eduardo Souto, Alexander Skriabin, Robert Schumann, César Franck, Robert Schumann, Ferrúccio Busoni, Fréderic Chopin e Franz Schubert
Fotografia: Pedro Farkas
Câmera: Pedro Ionescu
Desenho de Produção:
Direção de arte: Luís Rossi
Figurino: Andréa Velloso
Edição: Cristina Amaral
Som direto: Gabriel Coll e Pedro Mejia
Editor de Som: Eduardo Santos Mendes
Mixagem: José Luiz Sasso
Preparação das Atrizes: Fátima Toledo
Produtora de Elenco: Vivian Golombek

Elenco: Carlos Alberto Riccelli, Beth Goulart, Ingra Liberato, Vanessa Goulart, Luciana Brasil, Kaio César, Luiz Damasceno, Thomaz Jorge, Sergio Ferrara, Antoune Nakhle, Cristina Cavalcanti, Lina Agifu, Zé da Ilha, Ingrid Silveira, Igor Silveira, Paulo Mendes, Jacqueline Jorge, Francisco Cestari, Sebastião Manoel de Abreu, Maurity Fornazaro, Joana Curvo, Rita Martins, Fabiana Barbosa, Déia Brito, Sérgio Cavalcante, Maurílio Taddeu, Marcelo “Jacó” Araújo, José Jerônimo, André Mürrer

35 mm, 111’, COLOR.


2002 – Equilíbrio e Graça

2003 – Garotas do ABC

Direção: Carlos Reichenbach
Roteiro: Carlos Reichenbach
Colaboração no Roteiro: Fernando Bonassi
Produção: Sara Silveira
Produção executiva: Maria Ionescu
Produtores Associados: Loc’all de Cinema e Televisão e Selton Mello
Apoio: Tv Cultura, Fundação Padre Anchieta, Governo do Estado de São Paulo, Prefeitura do Rio de Janeiro, Prefeitura de São Bernardo do Campo e Rio Filmes
Direção de Produção: Eliane Bandeira e Rui Pires
Distribuição: Riofilme

Trilha Sonora e Arranjos: Nelson Ayres
Música: Nelson Ayres, Zé Ricardo, Macau, Marcos Levy, Carlos Reichenbach, Richard Wagner e Paulo Vanzolini
Som Direto: Romeu Quinto
Edição de Som: João Godoy e Eduardo Santos Mendes
Mixagem: José Luiz Sasso
Fotografia:  Jacob Sarmento Solitrenick
Operadores de Câmara: Rodrigo Toledo e Jacob Sarmento Solitrenick
Desenho de Produção: Valdy Lopes Ferreira
Direção de arte: Luis Rossi
Figurino:  Carolina Li
Edição: Cristina Amaral
Produtora de Elenco: Vivian Golombek

Elenco: Fernando Pavão, Ênio Gonçalves, Selton Mello, Antônio Pitanga, Michelle Valle, Vanessa Alves, Natália Lorda, Luciele Di Camargo, Vanessa Goulart, Fernanda Carvalho Leite, Rocco Pitanga, Dionísio Neto, Eduardo Sofiatti, Milhem Cortaz, Fabio Ferreira Dias, Adriano Stuart, Vera Mancini, Ângela Corrêa, Márcia de Oliveira, Viviane Porto, Lina Agifu, Kelly di Bertolli, Ana Cecília Costa, Mariana Loureiro, Neide de Deus, Fafá de Belém, Alessandro Azevedo
35 mm, 124’, COLOR

2004 – Bens Confiscados

Direção: Carlos Reichenbach
Roteiro: Carlos Reichenbach e Daniel Chaia
Produção: Sara Silveira e Betty Faria
Produção executiva: Maria Ionesco
Co-produção: Dezenove Som e Imagens, Super Nova, Riofilme e Casa de Cinema de Porto Alegre
Distribuição: Riofilme

Música: Nélson Ayres
Música Original: Ivan Lins
Fotografia: Jacob Sarmento Solitrenick
Camera: Jacob Sarmento Solitrenick
Direção de arte: Luís Rossi
Edição: Cristina Amaral

Elenco: Betty Faria, Werner Schünemann, Antônio Grassi, Eduardo Dusek, Márcia de Oliveira, Marina Person, Fernanda Carvalho Leite, Renan Augusto

35 mm, 108’, COLOR

2007 – 3 haikais

2007 – Falsa Loura

Roteiro e Direção: Carlos Reichenbach
Produtora: Sara Silveira
Produtora Executiva: Maria Ionescu
Diretor de Produção: Josmar Bueno Júnior
Fotografia: Jacob Sarmento Solitrenick (ABC)
Montagem: Cristina Amaral
Som Direto: Gabriela Cunha
Direção de Arte: Valdy Lopes Ferreira
Figurinista: Cássio Brasil
Diretor Assistente: Daniel Chaia
Produtora de Elenco: Vivian Golombek

Música Original e Arranjos: Nelson Ayres e Marcos Levy

Canções: Paulo Ricardo, Alexandre Leão, Isolda & Milton Carlos, Carlos Reichenbach e a TRUPE.
Elenco: Rosanne Mulholland, Cauã Reymond, Djin Sganzerla, Maurício Mattar, João Bourbonnais, Léo Áquilla, Vanessa Prieto, Luciana Brites, Maeve Jinkings, Jiddu Pinheiro, Suzana Alves, Emanuel Dórea, Priscila Dias, Naruna Costa, Ingrid Silveira, Pedro Noizyman, Ádria Sandrade, André Guerreiro Lopes, Flávia Lorenzi, Renata Zhaneta, Daniela Christopher, Maurício Madruga, Isaac Ferreira, Júlio Machado. Com participações especiais de Bertrand Duarte, Luiz Henrique, Bruno de André, Deivy Rose, Rogério de Moura e a banda TRUPE (Raoni Carneiro, Fran Landim, Du Françani, Pedro Altério e Gabriel Altério).

35 mm, 103’, COLOR


Como diretor de fotografia e operador de câmera:
data não confirmada – Hamlet – de Ricardo Elias

1965 – Via Sacra, de Orlando Parolini (16mm – inacabado)
1968 – Odisséia, de Miguel Chaia (16mm – inacabado)
1969 – Audácia! – A fúria dos desejos
1970 – Orgia ou o homem que deu cria, de João Silvério Trevisan
1970 – Os Amores de Um Cafona – de Penna Filho e Osiris Parcifal de Figueiroa
1973 – O Guru e os Guris – de Jairo Ferreira

1975 – Lilian M., relatório confidencial
1977 – Excitação, de Jean Garret
1978 – Meus homens, meus amores, de José Miziara
1979 – Mulher, Mulher – de Jean Garret
1979 – J.J.J., o amigo do super-homem, de Denoy de Oliveira
1979 – A força dos sentidos, de Jean Garret
1979 – A ilha dos prazeres proibidos
1979 – A dama da zona, de Ody Fraga
1979 – A mulher que inventou o amor, de Jean Garret
1979 – Nem Verdade, Nem mentira – de Jairo Ferreira

1980 – Viúvas precisam de consolo, de Ewerton de Castro
1980 – O gosto do pecado, de Cláudio Cunha
1981 – Amor, palavra prostituta
1982 – As prostitutas do dr. Alberto, de Alfredo Sternheim
1982 – A Rainha do fliper, primeiro episódio de As safadas
1982 – Instinto Devasso, de Luiz Castillini
1983 – Doce delírio, de Manoel Paiva
1984 – Extremos do prazer
1984 – Elite Devassa, de Luiz Castillini
1985 – Gozo Alucinante – de Jean Garret
1991 – Sua Excelência, o Candidato – de Ricardo Pinto e Silva
1991 – Amor, Aventura e Transporte Público – de Bruno de André
1993 – Alma corsária
1995 – Glaura, de Guilherme de Almeida Prado (15 min)
1998 – A voz e vazio: a vez de Vassourinha, de Carlos Adriano (15 min)


Como diretor de fotografia:
(assinando com o pseudônimo de Alfred Stinn)
1980 – Império do desejo
1981 – O paraíso proibido

Como compositor e executante da Trilha Musical Original:
1994 – Alma Corsária
1994 – Olhar e Sensação

Como autor da Seleção Musical:
1974 – Até A Última Bala, de Luigi Picchi
1978 – Snuff, Vítimas Do Prazer, de Cláudio Cunha
1978 – Belas e corrompidas, de Fauzi Mansur
1980 – A mulher que inventou o amor, de Jean Garret

Como ator:

1968 – O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla
1970 – Ritual de sádicos (O Despertar da Besta), de José Mojica Marins
1970 – O pornógrafo, de João Callegaro
1970 – Sertão em festa, de Osvaldo Oliveira
1971 – Finis Hominis, de José Mojica Marins
1971 – No Rancho fundo, de Oswaldo Oliveira
1972 – Gringo, o último matador, de Edward Freund
1975 – Ainda Agarro este Machão, de Edward Freund
1976 – A casa das tentações, de Rubem Biáfora
1977 – O vampiro da cinemateca, de Jairo Ferreira
1978 – Belas e corrompidas, de Fauzi Mansur
1978 – Noite em chamas, de Jean Garret
1980 – A mulher que inventou o amor, de Jean Garret
1986 – Filme demência
 

Como roteirista de outros diretores:
1977 – Vítimas do prazer, de Cláudio Cunha (argumento e roteiro)
1978 – Noite em chamas, de Jean Garret

Sede de Amar: Capuzes Negros

Dossiê Carlos Reichenbach

Sede de Amar: Capuzes Negros

Direção: Carlos Reichenbach

Brasil, 1978.

Por Rubem Biáfora*

“Em “A Ilha dos Prazeres Proibidos”, obra de encomenda, Carlão Reichenbach, não obstante atendendo uma encomenda e não obstante o inútil lado “mad”, o prejudicial tom de “contestação marginal” de personagens e fraco fio de intriga, conseguiu dar uma demonstração de força singular, não só continuando (como em “Excitação”) a dominar lindamente a iluminação como, principalmente, lembrar um William Witney ou um Ray Nazarro ao fazer vibrar e valorizar o impossível. Pois aqui temos a outra encomenda de que ele se desincumbiu antes até daquela fita mas que nos chega agora. No entrecho de Mauro Chaves pitadas de “Caçada Sádica” e de outros filmes: obscuro empregado (Luís Gustavo) que sem esperanças cobiçava a esposa (Sandra Bréa) de poderoso industrial (Roberto Maya) é raptado por um grupo de encapuzados juntamente com a mulher de seus anseios e vem a ser encerrado, ambos quase desnudos num galpão longínquo e ignorado. Esperemos que Reichenbach repita a façanha.”


*Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 04/03/79.

O Paraíso Proibido

Dossiê Carlos Reichenbach

Jonas Bloch e Vanessa Alves: Onde está a liberdade? Será no encontro da felicidade?

O Paraíso Proibido

Direção: Carlos Reichenbach

Brasil, 1981.

Por Eduardo Aguilar

um depoimento

1982. Eu era, então, um cinéfilo apaixonado. Logo, fazer cinema é meu projeto de vida – mesmo que ainda pareça um sonho muito distante. Um amigo me convida para tentar batalhar algum tipo de estágio na “controversa” Boca-do-Lixo, local de onde saem às famigeradas pornochanchadas. Da minha parte, tirando a timidez, o entusiasmo tomou conta: além de conhecer bem inúmeras pornochanchadas, eu admiro os subversores do gênero, diretores capazes de lidar com o popular sem perder de vista seus objetivos artísticos. Entre eles, se destacam Fauzi Mansur, Jean Garret, John Doo, Luiz Castellini e principalmente Carlos Reichenbach.

Pois bem, estamos eu e meu amigo no escritório de A. P. Galante, uma figura singular, produtor de longa história. É um prédio assobradado e, do ponto de vista de uma varanda, ao observar o movimento da Rua do Triunfo, Galante nos esclarece não haver nenhuma produção em andamento, até que, inesperadamente, ele avista o cineasta Carlos Reichenbach entrando no escritório da Embrapi e nos sugere “procurem aquele cabeludo ali”, apontando na direção de Carlão. Lá chegando, precisamos da cara de pau do meu amigo para estabelecer o contato, mas logo fomos surpreendidos pela tão conhecida generosidade do Carlão. Se, de um lado, esse meu amigo faz bem essa ponte, em contraponto, conforme me sinto à vontade, começo a citar os cinco filmes que já havia assistido do Carlão (Amor, Palavra Prostituta; Império dos Desejos; Lilian M., Relatório Confidencial; A Ilha dos Prazeres Proibidos e O Paraíso Proibido) e, além de dar detalhes, confesso minha enorme admiração por Lilian M. Assim, minha paixão pelo cinema superou minha timidez e estabeleceu a amizade entre eu e Carlão, fatores preponderantes que me permitiram adentrar no meio cinematográfico.

No entanto, naquela tarde de 82, lembro que não me fiz de rogado, se por um lado, confessei minha admiração pela obra do grande diretor, também deixei claro que não gostava nem um pouco de O Paraíso Proibido. Lembro que Carlão disse ser um de seus filmes prediletos, uma obra extremamente pessoal, ainda sim, confesso que a declaração não me comoveu. Mas o fato é que anos depois revi o dito filme em uma mostra do MIS. Que dizer? Viver a vida faz toda diferença. Entendi muito melhor sobre o que o filme falava e, para além disso, compreendi as escolhas narrativas, a perfeita combinação entre forma e conteúdo, que talvez nem mesmo Filme Demência, o meu preferido de Reichenbach, tenha conseguido obter.

O Paraíso Proibido é um desses filmes que é preciso rever constantemente. Na primeira oportunidade, eu, ainda nos meus vinte e poucos anos, por mais que tivesse minhas angústias – e eu as tinha -, não consegui me afeiçoar por aquele personagem vivido por Jonas Bloch. O grande ator, mais uma vez em ótima atuação, fazia o papel de um radialista enfastiado com a vida, com o mundo, buscando distância de tudo que recusava: casamento, status de profissional bem sucedido, a necessidade de TER para poder SER em uma grande metrópole. Em função disso, esse homem “foge” para uma cidade litorânea buscando se re-encontrar, porém, para seu martírio, tudo de que queria distância vai diretamente ao seu encontro: a ex-mulher; o amigo/empresário, com proposta de trabalho tentadora; e até mesmo quem não contemplava aquele universo; a amante intelectual (que residia na cidade litorânea), começa a agir no mesmo patamar de cobranças dos demais, com a única diferença que o faz com um verniz pedante. Mas a questão para mim, era agüentar aquele cara, ele sim, um personagem pedante, irritante mesmo, e para piorar, o filme era narrado de forma extremamente linear. Anos depois, ao rever o filme, perto dos quarenta, tudo pareceu tão pertinente, tão preenchido de sentido, que Celso Felix, o personagem de Jonas Bloch, de “irritante” passou a ser um provocador.

Contudo, é preciso dizer que além da vivência alcançada aos quarenta anos, o que mudou meu olhar sobre este filme foi ter descoberto A Primeira Noite da Tranqüilidade, de Valerio Zurlini. Ao ver o filme de Zurlini, praticamente a mesma situação colocada no filme de Carlão, só que no lugar do radialista havia um professor, fiquei embasbacado com a melancolia que saltava da tela em cada imagem, a maestria com a qual o diretor conseguiu capturar a atmosfera da tristeza, um trabalho mágico de composição que beirava a perfeição, desde o adequado desleixo proposto no personagem de Alain Delon, passando pela belíssima fotografia que combinava precisamente com a bucólicacidade litorânea escolhida para as filmagens.

Enfim, o filme de Zurlini é a trajetória de um homem em busca de liberdade, de respirar novos ares na tentativa de se re-inventar. Mas onde está a liberdade? Esta é também a questão central do filme de Carlão: “Como podemos afirmar nossa individualidade se a todo o momento “os outros” nos cobram atitudes, limitam nossas ações com todo tipo de chantagem?” Mas convém deixar claro, que o filme nunca perpassa uma visão intolerante sobre o outro, pessoalmente acho que o personagem do amigo inconveniente, capaz de oferecer a própria mulher como moeda de troca, é um dos personagens mais intensamente humano da obra de Carlão.

Todavia, estar no mundo é aceitar a possibilidade do outro e, por conseqüência, fazer “escolhas”, que é o que nos torna livres. Portanto, escolhas são mediadas pela relação com o outro. Este desafio sempre me parece o que realmente dá sentido à vida, pois se transitar por ela fosse atravessá-la sem dificuldades inerentes que surgem do contato com o outro, estaríamos de fato no “paraíso”. Por isto, é bem instigante que o filme se chame O Paraíso Proibido, caso contrário, tudo seria um tanto sem graça, “um caminhar sem obstáculos”. Aceitar essa “limitação” sobre nossas ações é como ter que aceitar a impossibilidade da liberdade. No filme de Carlão, ao contrário da tristeza capturada pela câmera de Zurlini, há o enorme incomodo vivido pelo personagem, uma angústia sem resposta sobre como exercer o direito de buscar um caminho próprio, alheio a idéia de se subjugar ao estabelecido como “a melhor escolha” pela sociedade.

Não sei quais as verdadeiras intenções de Reichenbach com o seu final redentor, propondo ao personagem central um encontro com a felicidade. A meu ver, seria um encontro possível com uma espécie de liberdade, ainda que, paradoxalmente, esta felicidade, no caso do filme, seja em decorrência de um novo amor, quer dizer, em decorrência do “outro”. Por isso acredito que a liberdade exista exatamente no efêmero, apenas breves momentos dessa sensação enquanto a felicidade/amor não corrói a liberdade.

De repente, me vem à mente o filme de Eastwood, Interlúdio de Amor, no qual o personagem também ranzinza vivido por William Holden, parece de pronto rejeitar a idéia de felicidade, mesmo que efêmera, por considerar que a possibilidade dessa felicidade perecível já seria em si uma razão para desistir da mesma. O elemento subversor no filme de Carlão é que não há razão para temer a felicidade, e nesse caso, o final feliz, ainda que irônico, é uma idéia brilhante, sobretudo por que propõe esperança: a crença na Utopia.

Eu tinha combinado com o Gabriel, atual editor-chefe da Zingu!, que encaminharia para esta edição – em homenagem ao Carlão – um texto sobre O Paraíso Proibido e um depoimento, no entanto, as coisas se misturaram de tal forma que resolvi não distinguir um texto do outro.

Por fim, fico por aqui e, a meu ver, O Paraíso Proibido está lado a lado com Filme Demência, uma obra-prima que precisa ser redescoberta. 

*Embrapi: Produtora independente que reunia diretores e técnicos numa proposta provocadora de produção, infelizmente não foi adiante. (very small)

O Império do Desejo

Dossiê Carlos Reichenbach

O Império do Desejo

Direção: Carlos Reichenbach

Brasil, 1980.

Por Vlademir Lazo Correa

Quem conhece a obra de Carlos Reichenbach apenas por seus filmes mais recentes deve estar acostumado com um classicismo em seu estilo que não encontra equivalente em O Império dos Desejos, um dos seus primeiros trabalhos. Por outro lado, é um filme que esbanja inventividade, e que tem a ver com muito do cinema transgressor mundial que se fazia na década de setenta, um filme em que Carlão dirige ora como um iniciante cheio de idéias, ora como um veterano na época já dono de invejável bagagem cinematográfica e literária – e já senhor de muitos dos segredos mais ocultos da difícil arte da aventura de filmar.

O título imposto pelos produtores faz menção aos sucessos dos filmes eróticos de Nagisa Oshima do final da década de setenta (O Império dos Sentidos e O Império da Paixão), mas o verdadeiro caldeirão de referências de Reichenbach são outros, a começar pelas idéias de Wilhelm Reich, o psicanalista dissidente de Freud, que teorizou sobre a sexualidade, procurando ver no sexo um elemento de libertação, e que inspirou a obra cinematográfica do iugoslavo Dusan Makavejev, influência confessa de Reichenbach. O Império do Desejo é uma espécie de pornochanchada intelectualizada, mistura alta erudição com autênticas baixarias, podendo ser apreciada tanto pelo sensualismo que emana de seus fotogramas quanto pelo olhar reflexivo e altamente irônico sobre o sexo e a primazia da carne, além de acentuadamente político. Ainda sobre o sexo, Carlão filma com uma fé quase mística no potencial do desejo e no modo como enxerga a sensualidade como sinal de vida, ao mesmo tempo que atuando como um legítimo contraventor, contrabandeando idéias políticas e libertárias para dentro de um típico filme erótico da Boca do Lixo da época, porém muito, mas muito acima da média da produção daquele período.

É um dos roteiros mais inspirados do diretor, que mais uma vez como é recorrente (mas não predominante) em sua filmografia, reúne em um fim de mundo uma galeria de personagens insólitos, a partir da chegada de Sandra (Meire Vieira), viúva de um milionário industrial, no litoral, onde pretende conhecer a casa na praia que herdou do falecido marido. Lá entra em contato com o Dr. Carvalho (Benjamin Cattan, impagável), um advogado picareta que a auxilia judicialmente na posse da propriedade, e também um casal de hippies que contrata como caseiros na residência pelo período de uma semana, para desespero do advogado, que com o seu falso moralismo repudia os hábitos libertinos do casal.

Esse é o ponto de partida de O Império do Desejo, um acúmulo de experiências em que todas as peças se encaixam com perfeição, numa narrativa séria e ao mesmo tempo debochada, quase que sem precedentes no cinema nacional: uma mistura de comédia demolidora com drama desesperado, e uma liberdade anárquica e criadora que remete ao Cul-de-sac, de Roman Polanski, por ambientar a história num único local, para onde convergem as situações mais inesperadas e os personagens mais extravagantes ─ entre os quais, os dois marginais que viajam num jipe, o Gordo & o Magro, que com seus trejeitos e afetações parecem saídos diretamente do clássico Bang Bang, de Andrea Tonacci, e que são algumas das figuras mais divertidas do filme de Carlão. Ou a dupla de estudantes que acampam por perto, uma delas a intelectual feminista (interpretada por Aldine Muller), que em desajuste com as regras pré-estabelecidas, acaba ela mesma criando as suas próprias leis (em sintonia com o pensamento libertário feminino corrente na época), mas sem perceber o quanto auto-centrada ela se torna com a sua ideologia e discurso.

Cabe ainda destacar o hippie tardio representado por Roberto Miranda (o alter-ego do diretor nos filmes desse período), que, com a menor de idade (Márcia Fraga) que o acompanha, forma um casal adepto do amor livre (ele já na faixa dos 35 anos) e do não ter onde morar, além do mais excêntrico de todos os personagens, uma espécie de profeta e anjo exterminador todo vestido de branco, feito por Orlando Parolini, um ex-alto executivo que, por causa das “malditas leituras” (como define o advogado Carvalho), usou o dinheiro para ficar pobre, gastando em poesias, e hoje em dia limpa a praia enquanto liquida boçais de toda e qualquer espécie, enquanto cita passagens de Fernando Pessoa. Por outro lado, a jornalista chinesa que transa de todas as maneiras possíveis com o profeta louco ao mesmo tempo em que recita trechos de Marx e Sade e que é canibalisticamente devorada pelo parceiro é pura citação godardiana.

O Império do Desejo é um filme celebratório que se constrói num clima de “tudo pode acontecer” e que em meio aos conflitos que narra é um registro da tentativa de uma utopia sonhada, mas que não se concretizou. Por que o mundo moderno parece cada vez mais dominado pelos estúpidos com idéias congeladas na cabeça, ou que não as têm nenhuma ─ justamente os tipos que o anjo exterminador aniquila em sua cruzada pela praia em O Império do Desejo. Ou então as questões que tomam de assalto e dilaceram o hippie soturno que, questionando o amor livre, se pergunta “onde acaba o libertário e começa o promíscuo” e conhece o ciúme quando a sua parceira de cama se atrai pelo namorado da dona da casa, um galãzinho arrogante e insuportável com o qual transa, transformando-se em uma experiência desagradável para a menina (o que vem se tornando um dos temas centrais da obra recente do diretor).

Em certos aspectos, o filme do Carlão é profético em relação ao mundo que vem se delineando desde aquela época até os dias de hoje, até por ter sido realizado numa era de transição em que, passadas as conquistas da revolução de costumes dos anos sessenta, os oitenta entravam com tudo em outros tipos de transformações. Formalmente, O Império do Desejo é um filme que parece pulsar a cada momento e com uma liberdade de filmar que contagia o espectador e nos faz querer pegar uma câmera e um carro e ir para o litoral filmar com os amigos. E esta é, sem dúvidas, a maior experiência com que um cineasta pode compartilhar com o seu público.

Lilian M., Relatório Confidencial

Dossiê Carlos Reichenbach

Lilian M., Relatório Confidencial
Direção: Carlos Reichenbach
Brasil, 1975.

Por Daniel Salomão Roque, especialmente para a Zingu!*

Nas entrevistas que concedeu para divulgar seu último longa-metragem, Falsa Loura, Carlos Reichenbach chegou a afirmar umas tantas vezes que este era uma obra-irmã de Lilian M, Relatório Confidencial. Eis uma declaração monstruosamente sintética e de enorme perspicácia, que diz muito sobre ambos os filmes e mais ainda a respeito de seu realizador. Reichenbach não é apenas um dos mais talentosos e importantes cineastas do Brasil, mas também um dos mais hábeis na arte de se reinventar: suas fitas, ainda que pareçam opostas em determinados momentos, estabelecem diálogos umas com as outras e apresentam um raro senso de coerência.

Mais de trinta anos separam as trajetórias de Célia Olga Benvenutti e de Rosane Mulholland, período no qual Carlão passou da condição de iniciante (Lilian M é seu segundo longa) para veterano. Assim sendo, a relação entre uma obra e outra não é a de gêmeos idênticos em aparência e comportamento, mas de irmãos com grande diferença de idade que, a despeito de carregarem o mesmo DNA, são dotados de temperamentos bastante distintos. Os dois se valem da técnica cinematográfica que se escancara como tal, do mosaico de referências e da reciclagem de clichês para costurar retratos nada vulgares do sexo feminino, da prostituição e das classes populares paulistas; no entanto, o autor não utiliza estes recursos da mesma forma e tampouco aborda as temáticas sob o mesmo ângulo. Se Falsa Loura flerta nitidamente com o melodrama e o filme musical, Lilian M se apropria destes e de diversos outros gêneros, fugindo a qualquer classificação: o universo caipira tão caro à cinematografia brasileira, as perseguições das fitas policiais, os hormônios típicos da pornochanchada, o bucolismo do cinema japonês, os detetives burros do noir e tiradas godardianas compõem um painel heterogêneo e debochado, quase grotesco, que em muito difere da dolorosa delicadeza da película de 2007.

Já na abertura, Lilian M demonstra ser incomum. Não vemos ninguém, os letreiros não aparecem de imediato; só o que temos é a imagem de um gravador e o diálogo em off entre um homem (possivelmente o diretor) e a atriz principal. Esta, ao ser interrogada a respeito de sua identidade, confunde-se e informa não o nome da personagem que interpreta, mas o seu verdadeiro, sendo logo corrigida pela voz masculina. O que se segue, de acordo com o próprio subtítulo, é uma sucessão de relatos íntimos acerca do meretrício e dos relacionamentos vazios: Maria, esposa de um humilde plantador de chuchu, abandona marido e filhos para tentar a sorte na cidade grande; lá, torna-se amante de um empresário para quem trabalha como doméstica e que a inicia na “vida fácil”. Como vingança, a ex-lavradora e recém-nascida prostituta passa a atender clientes sob o pseudônimo de Lilian, nome da mãe de seu patrão.

A narrativa é deveras fragmentada, e essa fragmentação deve-se mais ao uso constante de elipses do que a inversões cronológicas propriamente ditas: muito do poder deste filme se baseia naquilo que não sabemos. Reichenbach vai além da sugestão, esbarrando na omissão. Em certo ponto, o interlocutor pede à narradora que abrevie o discurso; nossa protagonista troca a toda hora de parceiro sem que fique claro como se deram as separações e o que ocorreu nos intervalos entre um romance e outro; relatos de situações que em circunstâncias normais seriam consideradas grandes ganchos são interrompidas sem o menor pudor; por fim, existe Maria, de quem pouco ou nada sabemos, uma vez que o filme é sobre Lilian.

O paradoxo de Lilian M é o fato de todos no filme falarem mais que a boca, menos a dita cuja. Célia Olga personifica um enigma. Sua presença é força motriz de eventos inacreditáveis, uma bizarra fauna humana profere monólogos aos seus ouvidos, e, no entanto, quase não escutamos sua voz. Ao filmar Maria, ou melhor, Lilian, nos contando suas peripécias em flashback, o autor aproxima público e protagonista de maneira brutal, ao mesmo tempo em que sugere uma mistificação desta mulher. Embora isso aconteça de vez em quando, Lilian dificilmente ri, chora ou demonstra qualquer tipo de emoção; ela é helênica, impassível e quase sempre mantém uma postura hierática, mesmo quando sua em bicas no sertão ou atende a uma multidão de escrotos num puteiro de quinta categoria. Seria reducionismo dizer que a personagem transforma os lugares por onde passa: mais do que isso, Lillian se mescla ao ambiente, e assistir ao filme é conhecê-la por intermédio dos coadjuvantes.

A sociologia barata não tem espaço no trabalho de Carlos Reichenbach. Se a fita em questão alude a temas como exploração sexual, desigualdade de classes, repressão política e êxodo rural, o cineasta não o faz para defender uma tese ou por proselitismo, mas sim com o objetivo de construir um universo próprio. Tal premissa fica evidente quando tomamos como exemplo uma cena de Alma Corsária, outro belo filme do mesmo diretor. Numa certa altura da história, uma prostituta nascida no interior do estado de São Paulo viaja rumo à sua cidade natal acompanhada de um amigo, que será apresentado ao pai da moça como se fosse seu noivo. Reunido com a família da jovem, o rapaz assiste na televisão às imagens de um lavrador sonhando com a hipótese dos filhos um dia estudarem na metrópole: é um trecho de Lilian M. A auto-citação não é nenhum pouco gratuita, e mostra que Reichenbach não cai no simplismo de utilizar o cinema como mísera ferramenta para discorrer sobre os grandes problemas do nosso tempo. Para ele, cinéfilo apaixonado e utopista assumido, os assuntos delicados é que servem de pretexto para se discutir os filmes. E, em se tratando da grandeza e originalidade de seu estilo, isso não é subestimar as questões sociais e tampouco sobrevalorizar a sétima arte.

*Daniel Salomão Roque é fanático por quadrinhos e cinema. Colaborou fixamente com a Zingu! por 15 edições, das quais 12 com a coluna Tesouro dos Quadrinhos.

Garotas do ABC

Dossiê Carlos Reichenbach

Garotas do ABC

Direção: Carlos Reichenbach

Brasil, 2003.

Por João Pires Neto

(Contém spoilers)

O projeto e a inspiração

No projeto original concebido por Carlos Reichenbach em 1987, logo após Anjos do Arrabalde, dois longas seriam rodados simultaneamente, nas mesmas locações e com as mesmas personagens. Sonhos de Vida e Vida de Sonhos reproduziriam a visão pessoal do cineasta sobre duas faces distintas do universo feminino operário na periferia da Grande São Paulo: enquanto o primeiro abordaria a rotina de trabalho árdua das mulheres em uma indústria têxtil, o próximo apresentaria a realidade destas nos raros momentos de folga. Segundo o próprio Reichenbach, a premissa do projeto era descaradamente anarco-libertária, pois partia do conceito de que o tempo livre é o único e verdadeiro espaço de liberdade do ser humano.

Garotas do ABC, o seu décimo terceiro trabalho, é o piloto resultado deste projeto audacioso, que ao longo de quase uma década foi se alterando (Carlão chegou a cogitar uma série de seis produções protagonizadas com cada uma das personagens apresentadas neste primeiro filme, que se chamaria ABC – Clube Democrático, com a possibilidade de ser exibido em 13 episódios na televisão). O cineasta confessa que a maior inspiração para o projeto foi o monumental Berlin Alexanderplatz (1980), considerado por muitos a obra máxima do alemão Rainer Werner Fassbinder. A série televisiva, uma adaptação de quase 16 horas do romance expressionista de mesmo nome publicado por Alfred Döblin em 1929, tinha como cenário a realidade operária e o submundo da Berlim no início do século passado.

No entanto, o tema da mulher em condição marginal, subjugada às imposições sociais ou raciais, já se esboçava em outras produções de Reichenbach, como em Amor Palavra Prostituta (1981) e Anjos do Arrabalde (1987).

As personagens

Garotas do ABC traz no subtítulo o nome da personagem que centraliza todos os fios narrativos. Aurélia Schwarzenega, interpretada pela então desconhecida Michelle Valle, é uma bela e sexy operária negra, fã de homens musculosos (em especial o governador da Califórnia e ex-Exterminador Arnold Schwarzenegger), filha de pai conservador, mas que aposta num incerto namoro inter-racial, que é agravado pelo fato de o namorado, Fábio, estar envolvido com um grupo neonazista, liderado pelo jovem e alucinado advogado, Salesiano de Carvalho (interpretado por Selton Mello, que aparece também como produtor associado). Aurélia mora em Santo André e trabalha numa tecelagem em São Bernardo, onde também são empregadas as outras garotas do título: Paula Nélson, a funcionária mais experiente e respeitada do setor, assediada pelo sindicalista André Luiz Oliveira; a sensual e desinibida Lucineide; Antuérpia, a mais velha das garotas, recém contratada na tecelagem, obrigada a trabalhar pela primeira vez na vida após a morte do marido e os avôs paternos lhe retirarem a guarda do filho; Suzana, autodenominada casta, apaixonada pelo patrão, vítima de frequentes e misteriosos acidentes que lhe garantem boas indenizações trabalhistas, mas que acabam por lhe marcar o belo corpo; a inconsequente Arlete; Marcinha; Nelinha; Indarlécia; Kinuyo; Nair; Carmo; Natália. Um retrato fragmentado da realidade vivida pelas mulheres nas periferias da Grande São Paulo, ainda que a proposta principal de Reinchenbach não seja se aprofundar de forma documental em nenhum tipo de estudo sociológico.

Já a maioria dos personagens masculinos, sempre coadjuvantes (nada mais justo numa ode às nossas mulheres operárias), reflete a antítese do feminino idealizado por Reichenbach: André Luíz, o esperto e mulherengo líder sindical; o patrão explorador Dr. Manzini; Aurélio, pai da protagonista, ultraconservador; o justiceiro Maleita; o fascista Fabio, atormentado pela paixão incontrolável por uma mulher negra (Aurélia); e o vil Salesiano de Carvalho, mentor intelectual e incitador do ódio aos negros e nordestinos. Curiosamente, o cineasta nomeou alguns dos personagens com o mesmo nome de seus amigos mais próximos. Segundo ele, estes personagens refletiriam exatamente o reverso da personalidade dos homenageados.

Carlos Reinchenbach constrói com maestria um grande mosaico de frustrações e alegrias, com personagens que, embora, como faz questão de ressaltar o diretor-roteirista, sejam ficção, representam de forma intensa e apaixonada uma diversidade de raça, idade, tipos físicos e ideologias.

Entretanto, não seria honesto ignorar que o elenco, talvez pela inexperiência de alguns atores, por vezes apresenta atuações pouco convincentes que comprometem a profundidade das personagens, provocando uma enganosa sensação de clichê e exagero.

O núcleo fascista

Um destaque positivo é a maneira direta (e jocosa) como é representado o grupo de neonazistas: um bando de fracassados, desorganizados, frustrado, liderados por um “riquinho” movido a cocaína, a Wagner (o compositor preferido de Hitler) e a ideologias racistas. Em Garotas do ABC, o neonazista não é o careca branco estilizado, e sim os tipos mais ridículos e patéticos.

O corte oficial

A primeira edição de Garotas do ABC resultou num longa-metragem de quase 3 horas de duração. No entanto, Reichenbach viu-se obrigado a cortar cerca de 45 minutos de filme, por duas razões distintas: a dificuldade em distribuir e exibir comercialmente uma produção tão longa e o inesperado destaque que o núcleo fascista acabou ganhando após a montagem, o que desvirtuava a proposta original do cineasta. Decidiu então, acertadamente, diminuir a participação dos neonazistas pela metade, chegando aos 125 minutos oficiais de Garotas do ABC (se bem que uma versão sem cortes alternativa seria bem vinda no DVD).

Reverência ao cinema

Podemos destacar vários momentos em que o cineasta homenageia realizadores que direta ou indiretamente sempre influenciaram sua obra. Uma destas homenagens é a curiosa e quase surreal sequência em que o justiceiro Maleita executa dois membros do grupo fascista. Nesta citação explícita a obra de Glauber Rocha, Deus e o Diabo na Terra do Sol, por sugestão do ator Alessandro Azevedo, Reinchenbach inseriu no diálogo a oração original que o mítico cangaceiro Lampião usava enquanto eliminava os seus desafetos.

Outro homenageado é Fritz Lang, que, segundo Reinchenbach, teria influenciado gradativamente e de forma inesperada a construção da mise-en-scène de Garotas do ABC. Assim como o realizador alemão fazia em todos os seus filmes, o brasileiro fez uma pequena aparição como Dr. Manzini, na qual não identificamos o seu rosto, vemos apenas a sua silhueta e as suas mãos. Em outra cena vemos em close a tatuagem em forma de E (símbolo do Integralismo) nas costas de Salesiano. A imagem gira 90 graus e vemos um M, referência ao clássico M – O Vampiro de Dusseldorf, o primeiro filme falado dirigido pelo austríaco Fritz Lang em 1931.   

Carlão ainda reverencia outros companheiros do Cinema Novo e Marginal, como José Mojica Marins (em determinada cena vemos um televisor exibindo um filme do Zé do Caixão) e Rogério Sganzerla (na pichação dos neonazistas, onde se pode ler “Quem Tiver Sem Sapato Não Sobra”, subversão da célebre frase “O terceiro mundo vai explodir. Que tiver de sapato não sobra!”, gritada por um alucinado personagem em O Bandido da Luz Vermelha).

Até mesmo o cineasta Lucio Fulci é lembrado, quando vemos pôsteres de seus filmes enfeitando o bar onde se encontram os neonazistas. Próximo ao epílogo, Garotas do ABC ainda traz uma releitura da sequência de Apocalipse Now (de Francis Ford Coppola) na qual helicópteros voam em direção a um bombardeio ao som de Cavalgada das Valquírias, de Wagner. Na versão de Reinchenbach, os neonazistas estão na estrada em carros e motos, ouvindo Wagner, e rumando em direção ao Clube Democrático, onde pretendem surrar nordestinos e negros. Dizem que Hitler certa vez ordenou que fosse tocada a composição nos rádio-comunicadores dos tanques nazistas antes de iniciar um ataque as tropas aliadas.

O desfecho

As tramas de Aurélia e do grupo fascista terminam de forma incomum. Enquanto a solução para a protagonista é mais simples e bem humorada (o rompimento com o namorado-problema e o possível início de um novo relacionamento inter-racial, agora um oriental a quem ela chama carinhosamente de “meu Bruce Lee”), o desfecho da personagem xenofóbica interpretada por Selton Mello é bem mais simbólica: enquanto um exemplar de um livro de Plínio Salgado, fundador do chamado Integralismo (movimento fascista brasileiro) se decompõe nas ondas salgadas do mar, Salesiano repete um discurso retirado da obra Decadência do Ocidente, de Oswald Spengler, um dos pensadores que influenciou Adolf Hitler. Louco e abandonado, Salesiano está prestes a ser tragado pela imensidão do mar.

A tecelagem

Consciente ou inconsciente, a tecelagem onde trabalham as garotas representa a grande metáfora do filme. Os teares (restaurados para a produção) entrelaçam os fios dando vida a belos tecidos, assim como as personagens, com suas alegrias e seus dramas que se multiplicam também se entrelaçam num emaranhado caótico de vozes, que carregam nas entrelinhas o discurso de um dos poucos cineastas brasileiros que ainda pode ser chamado de Autor.