Especial Jece Valadão Cineasta
A Filha de Madame Betina
Direção: Jece Valadão
Brasil, 1973.
Por Adilson Marcelino
Em 1971, Jece Valadão produziu para Carlos Alberto Pieralisi dirigir o delicioso O Enterro da Cafetina. Comédia de costumes com pitadas de erotismo dirigida com elegância, o filme é adaptado de obra do mestre Marcos Rey, sempre marcada por um olhar inconfundível sobre a classe média carioca. Jece, claro, era o protagonista, que ali rememorava em velório festivo a morte da cafetina vivida por Elza Gomes. Havia ainda espaço para a obsessão dele em se casar com uma virgem, palco perfeito para a entrada de uma sensacional Elizângela, mal saída da adolescência e exalando sensualidade pelos poros.
O belo resultado do filme originou essa continuação, A Filha de Madame Betina, agora com o próprio Jece dirigindo, além de produzir pela sua Magnus Filmes e também assinar o roteiro. Mas infelizmente, dessa vez, as coisas não deram nada certo. Se lá havia ternura, nostalgia e uma fina ironia no olhar sobre os tempos dos velhos prostíbulos cariocas e toda a sua fauna boêmia circundante, aqui sobra apelo fácil, falta de sutileza e personagens e/ou situações mal delineados. Uma pena que Jece Valadão, ator inesquecível e diretor interessante, sobretudo nos filmes policiais, tenha perdido o remo do barco nessa produção.
Em A Filha de Madame Bettina, ele encarna novamente o publicitário Otávio, às voltas com seus amigos Paulo Fortes, Arthur Costa Filho e Martim Francisco – esse último substituindo Fernando José no mesmo personagem. Todos agora estão empenhados para que Otávio receba a herança que Betina deixou para ele, mas com clausula soberana: para botar a mão na grana, ele terá que se casar com sua filha Margot – Geórgia Quental. A procura da filha misteriosa norteará boa parte da trama, e durante a trajetória Otávio vai se encantar com a não menos misteriosa personagem de Vera Gimenez, que se passará por Margot.
A Filha de Madame Betina foi interditado pela censura na época e teve que abrir mão de seu título original, “A Filha da Cafetina”.