Barbosa

Especial Futebol no Cinema Brasileiro

barbosa

Barbosa
Direção Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo
Brasil, 1988.

Por Gabriel Carneiro

Barbosa é uma mistura entre ficção e documentário. O filme de 12 minutos é talvez o melhor curta de seus autores, os gaúchos Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo. Nele, a mensagem parece clara: uma pessoa pode ser julgada por toda sua vida devido a um simples ato. Para mostrar a crueldade humana que extravasa certas paixões, tomam como objeto o goleiro da seleção brasileira de 1950, Moacyr Barbosa, considerado a grande razão de o time perder a Copa daquele ano na abertura do Maracanã.

A necessidade de culpar uma pessoa pelo destino de um jogo coletivo, de se arranjar um bode expiatório, sempre esteve em pauta – a comunidade do Orkut “Valeu, Felipe Mello”, criada no dia 2 de julho, já tem mais de 40 mil membros, para ficar num exemplo atual. A genialidade do curta está na profundidade dos assuntos tratados em tão curto tempo. Ao fazer um homem que tenta ainda entender a derrota, quase 40 anos depois, e que o leva a voltar no tempo, para aquele fatídico dia, Furtado e Azevedo tratam da questão da memória, da história, do relacionamento entre pai e filho e da própria imagem, entre outros.

A memória e a história que se constrói em torno dela parecem ser os principais motes da discussão no filme: um homem é condenado por um único ato – Barbosa é lembrado maldosamente pela falha no gol, e nada mais do que fez parece importar. Uma das cenas mais tocantes do filme é quando, numa entrevista com o ex-goleiro, ele relata um episódio, em que, quando foi balconista de uma loja, foi atender uma mulher, que falou para um garoto: “esse é o homem que fez o Brasil chorar”. Em Barbosa, o personagem de Antônio Fagundes volta no tempo justamente para mudar o destino desse homem, tirar a culpa de suas costas. É uma revisão da história, buscando apagar um momento que só foi um desserviço à nação.

Se o apelo emocional do problema de relacionamento entre pai e filho existe para dar maior identificação com o espectador, a dupla de diretores não deixa de apelar para a discussão fílmica da imagem. Ao final, após os créditos, Barbosa, ri, em entrevista: “é difícil ser artista”. O trecho perde o caráter documental e ganha a ficção: afinal, a imagem não é a verdade.

Obs.: O filme pode ser visto aqui.

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