Inscrições ao Concurso cultural O Brasil em Cartaz

O Brasil Em Cartaz 2010 é um concurso cultural criado especialmente para dar visibilidade ao cinema nacional e estimular os jovens cineastas. O projeto, realizado pela rede Cinemark em parceria com algumas das principais instituições de comunicação e cinema do país, premia roteiros de universitários e dá a estrutura para que o melhor roteiro seja filmado e assistido por 1 milhão de pessoas.

Para participar dessa segunda edição do concurso, o estudante deve criar um roteiro original de 60 segundos com o tema “Valorização do Cinema Nacional”. Todos os roteiros inscritos serão analisados por um profissional que selecionará os 10 melhores trabalhos. Os TOP 10 passam pela banca julgadora e o vencedor será anunciado no dia 2 de outubro.

O melhor roteiro, além dos R$ 30 mil para a produção do filme, recebe um prêmio no valor de R$ 10 mil e uma carteirinha de passe livre nas salas da rede Cinemark válida para o ano de 2011. O making off será postado no blog do concurso e o filme será lançado nas salas da Rede no dia do Projeta Brasil e será exibido até atingir a impressionante marca de 1 milhão de espectadores. O segundo colocado recebe R$ 5 mil e uma carteirinha de passe livre nas salas da rede Cinemark válida para o ano de 2011. Por fim, a universidade onde estuda a equipe vencedora também ganha: o prêmio será a veiculação gratuita de um filme institucional de 30” nas salas Cinemark durante nada menos que 20 cinesemanas.

Leia o regulamento e inscreva-se em http://cinemarkbrasilemcartaz.com.br

Novo filme de Woody Allen estréia no Brasil

O novo filme de Woody Allen (que estréia nessa semana nos cinemas brasileiros) é muito bom. Ao contrário dos seus últimos dois filmes, em Tudo Pode Dar Certo o diretor volta a se sentir em casa na sua Manhattan querida, tendo como protagonista um velho intelectual que ficou manco após uma tentativa de suicídio. Sempre tive certa preferência pelos filmes em que o próprio Woody Allen representa o personagem principal, no entanto mais uma vez ele não surge em cena nesse novo trabalho, porém não é necessário mais do que quinze minutos para reconhecer que a escolha do pouco conhecido nas telas de cinema Larry David (mais famoso por ser o co-criador do Seinfeld) como o protagonista Boris Yellnikoff é bastante acertada. O seu personagem é um fracassado de mente brilhante em torno de gente medíocre, um divorciado de humor sarcástico e demolidor, rabugento e hipocondríaco, cheio de fixações mórbidas, raiva contida e aversão ao ser humano. Ele conhece na porta de sua casa uma garota sulista, Melody Celestine (Evan Rachel Wood), que fugiu após a separação dos pais e que foi para Nova York sem dinheiro e sem ter onde morar. Não tendo como se livrar dela, o velho aloja a garota em sua residência, só que por mais chato que ele possa ser, Boris é uma figura simpática que parece saída de um desenho animado, e não demora muito a despertar o interesse amoroso da jovem, para ceticismo do intelectual, que resiste as investidas da garota. No entanto, quando Melody lhe conta sobre alguns de seus flertes com homens mais jovens, Boris se decide a encarar essa empreitada, e as confusões continuam com o progressivo aparecimento da mãe, depois do pai da garota, e de sucessivos interesses românticos de cada um desses personagens principais. Pode-se dizer que Tudo Pode Dar Certo é um triunfo como comédia, mas sem ambições maiores como as que vez por outra tem passado pela cabeça de Woody Allen nos últimos anos. Dizer que os diálogos (que incluem citações a E o Vento Levou e A Felicidade Não se Compra) são excelentes é chover no molhado em relação ao diretor-roteirista, e deve-se destacar também o elenco formado por rostos pouco conhecidos, mas todos ótimos em seus papéis.

Martin (1977), de George A. Romero

Martin é o melhor filme de vampiro desde o Nosferatu de Murnau. Lembra o cinema de outro mestre, o Bresson tardio; é como se o diretor francês àquela altura decidisse contar uma história de vampiro, com algum dos seus personagens deslocados e introspectivos de O Dinheiro ou O Diabo Provavelmente. Martin é filme de terror, mas também um pessimista, cru e direto filme sobre adolescente, ao mesmo tempo delicado e selvagem, onde se fala pouco, se age pouco, mas quando se fala ou se age, é pra valer mesmo. No plano da história, Martin incorpora as principais características dos filmes de horror, mas o tratamento que a narrativa impõe é outro. É próximo de um relato de doença, com Martin (o personagem) injetando drogas em suas vítimas antes de sorver-lhes o sangue, dedicando-se ao vampirismo (cujas cenas são diferentes do que estamos habituados a ver no gênero), enquanto vive conflitos existenciais e psicológicos de um ser humano comum. Martin é um jovem por fora, mas irremediavelmente velho e corroído por dentro. A evidência está em cada plano de Martin, e o sentimento geral que o filme traz é de mal-estar, de deslocamento. É um filme sobre corpos, e dedica a eles alguns dos seus momentos mais soberbos, seja num terreno mais erótico, ou ensanguentados e destruídos (em suas sequências de horror). As breves e recorrentes imagens em preto e branco antecipam The Addiction, do Abel Ferrara, outro filme de vampiro que seria realizado vinte anos depois. Martin também é um raro filme de Romero que não se dá num plano coletivo, mas individualista, e é tão direto, eficaz e vital quanto às suas narrativas de mortos-vivos (e o que é o próprio personagem-título de Martin senão um morto-vivo caminhando à luz do dia e ao mesmo tempo fugindo da multidão?), num misto de frontalidade clássica, depuração da forma, uma certa abstração e fuga dos clichês do gênero. Juntamente com O Exército do Extermínio (1973) e O Despertar dos Mortos (1978), Martin representa o auge da fase mais criativa de Romero, e possivelmente são os três melhores filmes de terror da década de setenta.

Batman de 1943 em DVD duplo

A Classicline está lançando em DVD duplo uma verdadeira raridade: o seriado Batman do começo dos anos 40!  Todo mundo conhece o Homem-Morcego através da série camp dos anos 60 (que também rendeu um longa-metragem para o cinema feito na esteira do sucesso do seriado) além dos filmes que vem sendo produzidos desde 1989, começando pelos dois primeiros de Tim Burton até chegar aos últimos de Christopher Nolan, que arranham o brilho do super-herói com sua estética hiper-realista e sisuda. Bem, o que poucos sabem é que Batman surgiu nas telas pela primeira vez em 1943, quatro anos após ser criado por Bob Kane. A série naquele ano teve 15 episódios (todos integram o dvd nacional) e Batman e Robin são interpretados pelos ilustres desconhecidos Lewis Wilson e Douglas Croft, respectivamente, e ressente-se do baixo orçamento imposto pela Columbia (o estúdio que  menos investia em seriados). A principal razão da existência dessa série é que com a Segunda Guerra Mundial Hollywood recrutou toda espécie de herói como forma de propaganda política, conseqüentemente o arqui-inimigo de Batman e Robin em Gotham City nessa versão dos personagens é o malignoTito Daka, um espião japonês que quer dominar a América com o auxílio de cientistas. Cada episódio começava com o famoso logotipo do morcego (cabeça humana sobre o corpo de morcego), ao som de uma música-tema que para muitos antecipa a trilha de Danny Elfman para as adaptações dirigidas por Tim Burton. Há ainda uma característica que não vingou em versões posteriores, que é a de Batman colar adesivos de morcegos no rosto dos inimigos capturados, à moda de outro herói, Zorro (que fazia algo parecido com a primeira letra do seu nome). Obviamente quase tudo é muito tosco, e a série não goza de grande reputação entre os fãs de Batman (além de permanecer bastante desconhecida), mas sem dúvida é um documento histórico para os admiradores mais incondicionais do personagem. No mínimo, vale como curiosidade.

Guerra ao Terror

Desde a estréia americana no ano passado que o filme da cineasta Kathryn Bigelow tem arrancado elogios da crítica internacional, mas por aqui a distribuidora bobeou lançando-o diretamente em DVD, em meados de 2009. Os prêmios que o filme vem angariando desde alguns meses, e as indicações ao Oscar que eram bem previsíveis e aguardadas resultaram no lançamento nos cinemas brasileiros nesse final de semana. Mas cuidado: em muitas salas, o filme está sendo exibido em cópias digitais, o que torna preferível os espectadores então correr para as locadoras e assisti-lo nas poltronas confortáveis de seus lares.

Quanto ao filme em si, Guerra ao Terror foi comentado na edição de setembro da Zingu!, e cabe aqui uma reprodução daquele texto, aproveitando a circunstância dele estar finalmente entrando em cartaz no circuito nacional. O filme de Kathryn Bigelow é bastante expressivo sem ser firulento. A força de suas imagens em momento algum é fetichizante em relação à guerra, até por não ser sobre a guerra em si, mas sobre os últimos dias antes do retorno para casa de alguns integrantes de uma unidade anti-bombas do exército americano, que, mesmo longe dos campos de combate, precisam lidar na rotina diária contra insurgentes que promovem atentados, colocando em risco a segurança das ruas de Bagdá (quase sempre fugindo das situações óbvias com o uso de bombas freqüentes em outras produções). Um período relativamente curto que seria tranqüilo não fosse pelo excesso de tantas ocorrências em tão pouco tempo, ainda mais que um dos peritos é despreocupado e audacioso em demasia nas arriscadas operações, cujo acumulo de trabalho vai perturbando o emocional dos envolvidos e conferindo cada vez mais a dimensão do horror em que se transformou o teatro de operações no Iraque. Nem mesmo um documentário teria sido tão preciso na captura do registro histórico em questão.

O filme ganha muito em tornar os personagens como seres rarefeitos, o tempo todo com seus uniformes e capacetes e em como se portam na sua rotina de trabalho, numa sucessão de cenas que por vezes desnorteia o espectador, colocando-o sensorialmente no meio das operações nesse campo de guerra. Durante um bom tempo, é difícil discernir os personagens um do outro, e ao longo da projeção é que a individualidade de cada um vai tomando forma aos nossos olhos, tanto que numa das raras ocasiões em que o filme sai do seu foco principal é numa frustrada investida de um dos protagonistas à paisana que fracassa miseravelmente ao querer investigar a razão de um dos atentados para logo em seguida retornar a sua base militar. Nesse percurso todo, sobressai-se a atuação de Jeremy Renner, que acaba se tornando a alma do filme, e que agora é recompensado com uma das nove indicações do filme ao Oscar.

Guerra ao Terror é a prova da maturidade de Bigelow, que desde os anos oitenta vem construindo uma carreira à margem dos blockbusters hollywoodianos, e entre acertos e fracassos, finalmente alcança um reconhecimento mais amplo em seu trabalho.

M. Butterfly

M. Butterfly é um filme sobre a superfície da imagem. A ficção do corpo. O corpo é a peça-chave da filosofia misantropa cronenbergueana. O corpo que se transmuta, que se torna oculto, que resiste, disposto a domar a lógica das pulsões à sua volta, seja as violentas ou sexuais. Para quem ainda não viu o filme do diretor canadense, não se trata de uma adaptação da ópera Madame Butterfly, de Giacomo Puccini, mas da relação de Rene Gallimard, o personagem de Jeremy Irons, com uma interprete do papel-título em uma montagem da famosa ópera. A obsessão do primeiro pela imagem de Butterfly, cuja efígie é a materialização dos seus desejos, uma representação de algo próximo de um sonho (ou de um pesadelo), faz com que Gallimard persiga o seu adorado objeto de veneração por todos os lugares. Um grau de encantamento do qual não se quer acordar. Ao mesmo tempo, uma ambígua relação do exótico mundo da cultura chinesa com as perversões da burguesia ocidental (como define a personagem-título), que conduz a jogos políticos e a um intenso romance. Mas a trama aqui já não é mais apenas o que parece, ela revela-se um emaranhado de expressões faciais, de olhares, de gestos, de medos, de desejos, de frustrações, de expectativas. E o próprio Jeremy Irons, que nos acostumamos a ver vestido de modo impecável, com sua postura absolutamente contida e equilibrada, seus movimentos medidos, as palavras utilizadas de forma exata, com toda sua etiqueta aristocrática sendo posta em prática de forma exemplar, ao final não será mais o mesmo, depois de ser amado por uma mulher perfeita e após a visão de damas esbeltas com cheosan e quimonos, que morrem pelo amor de indignos demônios estrangeiros. Um filme sobre aparências, os enganos e a transitoriedade, as falsas percepções e certezas de um personagem inserido dentro de uma outra noção da realidade, como em tantos outros filmes de David Cronenberg.

Robinson Crusoé em Marte

Para quem gosta de sci-fic anteriores a 2001 – Uma Odisséia no Espaço, o filme Robinson Crusoé em Marte (1964) é uma ótima pedida. Clássico das sessões vespertinas mais antigas, hoje em dia é uma deliciosa sessão nostálgica. Como o título indica, é uma transposição do famoso livro de Daniel Dafoe para o futuro em plena era da corrida espacial, uma adaptação que na medida do possível tenta ser fiel ao romance original.

Durante uma viagem de pesquisa a Marte, o Comandante Christopher Draper (Paul Mantee) é obrigado a se desviar de um meteoro em rota de colisão, entrando em órbita descendente puxado pela força da gravidade de Marte, fazendo um pouso de emergência na superfície do planeta. Draper e seu co-piloto Dan McReady (Adam West, pouco antes de encarnar o Batman da TV) são obrigados a abandonar a nave, que parece obter um equilíbrio gravitacional,  continuando na órbita de Marte e conseguindo a dupla de astronautas ejetar a cápsula sem incidentes. No entanto, McReady perde-se para o outro lado das montanhas a oeste e Draper é obrigado a se adaptar e sobreviver sozinho (tendo como companhia apenas uma macaca de estimação chamada Mona), precisando descobrir como encontrar água, comida e principalmente oxigênio neste planeta sem vida, antes que suas reservas acabem.  Uma das prováveis razões para a criação da personagem Mona é para que o protagonista tenha com quem falar a maior parte do tempo na estada solitária em sua nova terra, num recurso semelhante ao da bola de vôlei em Naufrágo (2000), de Robert Zemeckis.

Uma das primeiras descobertas do astronauta para a sua sobrevivência em Marte é ao encontrar uma rocha amarela que queima como carvão, não de maneira uniforme, mas o suficiente para aquecer suas noites marcianas. Mantendo um diário ao registrar relatos de seu dia-a-dia em gravações de voz no aparelho que trouxe consigo da nave, o astronauta confessa se sentir um novo Colombo, em uma estranha terra diferente, repleta de maravilhas e de novas descobertas, encarando sua jornada como um grande desafio. Depois de resolver o problema do aquecimento, descobre que pode respirar o ar de Marte durante quinze minutos antes de precisar do oxigênio que carrega em seu tanque de reservas. Se ficar deitado, dormindo, pode passar uma hora sem o reforço do oxigênio, podendo com sacrifício preservar o seu ar. O problema é dormir e não acordar a tempo para tomar um reforço, podendo morrer, o que o leva a construir algo que o desperte de hora em hora.

O filme acompanha a vida do astronauta em Marte durante meses, reservando novas surpresas mais adiante (algumas das quais tiradas diretamente da história de Daniel Dafoe, como o aparecimento do personagem  Sexta-Feira). O visual é coloridissimo, e os efeitos visuais são bem precários para os dias de hoje, especialmente nas sequências em que aparecem naves interplanetárias, cujas lembranças remetem à episódios do Chapolin Colorado. Mas Robinson Crusoé em Marte (tradução literal do título original) consegue ser sério, eficiente e divertido e é dirigido pelo especialista no gênero Byron Haskins, que começou no cinema como cameramen e depois como técnico em efeitos especiais em filmes de Frank Capra e John Huston, até passar a direção. Como diretor,  realizou clássicos de aventura (a melhor versão de A Ilha do Tesouro e A Selva Nua) e de ficção (especialmente o célebre A Guerra dos Mundos), terminando a carreira na TV, dirigindo episódios do seriado No Limiar da Realidade e produzindo alguns da primeira temporada do Jornada nas Estrelas original, inclusive o episódio-piloto nunca exibido mas lançado em video anos depois. Robinson Crusoé em Marte  atualmente está na grade de programação do canal TCM e pode ser encontrado também em sites de compartilhamento e downloads.