Especial Carlos Coimbra
Lampião, O Rei do Cangaço
Direção: Carlos Coimbra
Brasil, 1964.
Por Aílton Monteiro
Carlos Coimbra dirigiu em 1964 um filme até que bem ambicioso. Lampião, o Rei do Cangaço tem a pretensão de contar a história de uma das figuras mais famosas do sertão nordestino, da infância a sua morte. O fato de Coimbra começar o filme com um cantador numa banquinha de literatura de cordel é bastante representativo da força do mito. A ambição está também na tentativa de criar um filme épico, semelhante aos westerns americanos, com a utilização, muitas vezes, do céu vermelho ao fundo na fotografia estilizada com o uso de cores semelhantes a dos primeiros filmes americanos produzidos em technicolor. Infelizmente essas cores se esmaecem nas cópias atualmente disponíveis.
De qualquer maneira, mesmo restaurado, Lampião, o Rei do Cangaço é um filme que não envelheceu bem. Entre um dos problemas, há o salto temporal, abrupto e sem sutileza, da juventude do jovem Virgulino Ferreira para a fase adulta, já dominando o maior bando de cangaceiros do Nordeste e sendo o alvo número um dos “macacos”, a polícia corrupta do sertão. O salto temporal serve como pretexto para introduzir mais rapidamente a entrada em cena de Leonardo Villar no papel do Lampião adulto.
Aliás, vale notar que Villar passa uma nobreza de caráter e uma bondade ao papel que chega às vezes a atrapalhar. Talvez o ator tenha ficado estigmatizado pelo papel de Zé do Burro em O Pagador de Promessas. Outro intérprete talvez emprestasse melhor o aspecto sombrio necessário para compor esse personagem tão rico. O ponto positivo da presença de Villar como o “rei do cangaço” surge no momento em que ele conhece Maria Bonita, mostrando-se bem galanteador.
Lampião, o Rei do Cangaço faz parte do ciclo de filmes de cangaceiros dirigidos por Carlos Coimbra, que inclui também A Morte Comanda o Cangaço (1961), Cangaceiros de Lampião (1967) e Corisco, o Diabo Loiro (1969).