Especial Carlos Coimbra
Independência ou Morte
Direção: Carlos Coimbra
Brasil, 1972.
Por Adilson Marcelino
Independência ou Morte, filme que Carlos Coimbra dirigiu, roteirizou e montou, foi produzido por Oswaldo Massaini em 1972, ano do sesquicentenário da independência. Acusado de retrato oficial da versão histórica a serviço da ditadura militar, essa pecha apressada e injusta acabou por encobrir os vários méritos do filme.
É importante ressaltar o belo trabalho de ator de Tarcísio Meira, que imprime um ar inconsequente e de Don Juan em seu imperador e que nos conquista de imediato. Mas o ápice se dá mesmo quando entra em cena Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos. É ao focalizar esses acontecimentos de alcova que o filme cresce e não pelo mote que dá título ao filme, ainda que saibamos que um fato está intimamente associado ao outro.
Ainda que em registros distintos, esse foco em Independência ou Morte aponta para o patamar de outro casal torto e conturbado da história, aquele formado pelo Contratador João Fernandes e Xica da Silva, ainda que no filme de Cacá Diegues a lente seja a da carnavalização e os personagens sejam de outra ordem e esfera.
Glória Menezes, desde há muito a senhora Meira, está muito bem na personagem Domitila, mas esse salto não é só por isso, já que o filme tem também outro grande trabalho de atriz, o de Kate Hansen como a Imperatriz Leopoldina.
O grande mérito é porque o aparecimento de Domitila é quando Dom Pedro I chuta o balde de vez, e o que poderia ser apenas um retrato oficial, como tantos injustamente o acusam, dá novo tom para o filme, que fica muitos decibéis acima quando traz essa história de paixão para a boca de cena. E, consequentemente, é também quando a Marquesa de Santos desaparece, em belíssima cena de despedida cruel já nos estertores, que o filme retrocede para o clima do início e muito de seu interesse se dissipa.