Os Trombadinhas

Dossiê Toni Cardi 

Os Trombadinhas
Direção: Anselmo Duarte
Brasil, 1979. 

Por Sérgio Andrade
 

Tudo bem que Pelé se preocupasse com a situação de abandono das crianças carentes brasileiras, a quem dedicou seu milésimo gol. Ele só não precisava ter feito um filme sobre o assunto, ainda por cima contando com nosso único vencedor da Palma de Ouro para dirigi-lo. 

Com argumento do próprio jogador (assinando como Edson Arantes do Nascimento) ao qual Carlos Heitor Cony tentou dar uma melhorada, a trama de Os Trombadinhas mostra um poderoso empresário, Frederico (Paulo Goulart), que ao presenciar trombadinhas agindo nas ruas de São Paulo, decide investir na resolução do problema e para tanto consegue a colaboração do ex-jogador Pelé, agora treinador dos juvenis do Santos. No processo, descobrirão que por trás da ação dos garotos se escondem adultos inescrupulosos. O mais incrível é que Pelé, apesar de não ter nenhum treinamento específico, vai pras ruas perseguir os garotos e enfrentar bandidos armados no braço. 

Como se pode prever o ator/autor passa a maior parte do tempo dizendo frases edificantes sobre responsabilidade social e coisas do gênero. Felizmente, apenas ele passa o filme pronunciando tais discursos. Até a estudante de sociologia e filha de Frederico (Kátia D’Angelo) tem um ponto de vista reacionário. Dessa forma, os atores de verdade da película conseguem se destacar, como é o caso do policial parceiro de Pelé, Bira, vivido por Paulo Vilaça, do líder da quadrilha Manteiga (o grande Sergio Hingst, numa excelente interpretação) e sua amante Arlete (Ana Maria Nascimento e Silva), e dos empresários amigos de Frederico (Roberto Maya e Francisco Di Franco). Raul Cortez e Alberto Ruschel aparecem rapidamente, em participações especiais. Já Toni Cardi acaba se destacando no elenco secundário como um dos membros da quadrilha, Gibi, que em determinado momento entra em luta corporal com nosso herói, com direito a rasteiras, pernadas e poses de lutadores de karatê.     

Entre os garotos, nenhum se destaca em especial (terá sido o surgimento do preparador de elenco um bem pro nosso cinema?). 

E o que podemos dizer da direção de Anselmo Duarte? 

Ele se esforça para dar um mínimo de coerência e unidade naquilo tudo, porém o sólido cineasta de Absolutamente Certo, O Pagador de Promessas, Vereda da Salvação, nem em sua melhor forma conseguiria dar conta de diálogos péssimos, cenas de brigas ridículas, erros de continuidade (na sequência de perseguição aos trombadinhas na Praça da República, Bira num momento está de camisa, no seguinte com um blusão por cima) e a canastrice de seu ator principal, que transformam o que era pra ser um drama com denúncia social numa comédia involuntária. 

Este foi seu último filme. Recomendação: esqueçam este triste canto de cisne.