Dossiê Toni Cardi
O Jeca e a Freira
Direção: Amácio Mazzaropi
Brasil, 1968.
Por Edu Jancz
O Jeca criado por Mazzaropi é um personagem multifacetado. Características básicas como honestidade, bondade, laços familiares honrados, coragem para enfrentar as agruras da vida e os poderosos – normalmente vistos como gananciosos sem limites e pouco ou nenhum respeito pela condição dos menos favorecidos – praticamente estão sempre presentes.
Muda o clima, muda a trama, muda a época, mas aquele homem de jeito muito simples – porém nada ingênuo – está sempre cercados de “tombos” que a vida ou pessoas de má índole lhe reservam. O que eles não sabem e nem esperam é a reação desse “caipira” , que acuado, demonstra ter sangue nas veias e força para lutar sozinho, com a ajuda da família ou amigos de sua comunidade.
O Jeca e a Freira acontece no século XIX. Nosso herói mora numa fazenda com sua família e sobrevive com dificuldade – visto o parco salário pago pelo proprietário – o Coronel Pedro. O Jeca, aqui de nome Sigismundo, vive outro drama que corrói seu coração. Sua filha – Celeste – foi lhe tirada a força pelo Coronel Pedro, que a criou como filha e prometeu um dia devolvê-la. Trato que nunca pretendeu cumprir. Também nunca revelou a verdade para a menina, que pensa ser ele o verdadeiro pai.
A filha, linda adolescente, volta do colégio católico acompanhada pela freira Isabel. O coronel Pedro deixa claro a Sigismundo e sua mulher que a moça nunca mais vai voltar para a casa dos verdadeiros pais. O coronel tem verdadeiro ciúme da moça e a mantém como prisioneira – sempre ao lado da freira. E o pior, em meio a beijos e abraços “paternais”, ele demonstra suas más intenções com Celeste.
Sigismundo vai lutar com bravura e principalmente esperteza – ajudado pela freira – para restabelecer a verdade e reaver sua filha. Não sem antes enfrentar a fúria do coronel e seus capangas.
Melodrama e humor bem maroto, simples, fazem a marca de O Jeca e a Freira. A relação poder, poderosos e povo, é colocada como uma equação simples e fácil de ser observada. Mas o filme não é maniqueísta ao apresentar a família de Cláudio, de posses, como justa e contrária as falcatruas e crimes cometidos pelo coronel Pedro.
No elenco, Maurício do Valle interpreta com correção o coronel Pedro. O então muito jovem Ewerton de Castro dá corpo ao jovem Cláudio. E Toni Cardi, com aquele seu aspecto de mau, faz um dos capangas do Coronel. Cardi convence bem como um aliado incondicional do coronel, a quem respeita e cumpre suas ordens sem pestanejar.