Dossiê Toni Cardi
Entrevista com José Lopes
Por Matheus Trunk
Foto: Beto Ismael (www.pornochancheiro.blogspot.com)
São 70 anos de vida e mais de 40 dedicados a sétima arte. José Lopes, o Índio, viveu diversos momentos cruciais da história do cinema paulista. O versátil ator trabalhou em diversos longas-metragens com diversos realizadores. Num primeiro momento, liguei para ele durante a semana. Mas Lopes negou-se a dar declarações por telefone. “Passa na galeria essa semana que a gente conversa”, respondeu com seu usual sotaque baiano.
Alguns dias depois, nos encontramos num bar da galeria Boulevard, no centro. Esse é o local em que a velha guarda do cinema se reúne diariamente. Sem qualquer problema, conversamos sobre Toni Cardi, amigo que Índio não vê há anos.
Zingu!– Como você conheceu o Toni Cardi?
José Lopes- Olha, o Toni Cardi já era galã quando eu conheci ele. Inclusive, ele trabalhou em vários filmes do Mazzaropi, fazendo quase sempre esse tipo de papel. Nós estivemos juntos no O Grande Xerife. Ele era um grande cartaz, acredito que depois do Mazza ele fosse a maior estrela do longa.
Como foi o relacionamento entre vocês?
JL- O Toni Cardi é um grande amigo e nós sempre nos demos bem. Hoje, ele está no interior e acredito que ele esteja muito bem, porque ele merece. Ele sempre foi um molecão, sabe? (risos). Então, muitas vezes ele aprontava com o pessoal. Mas aprontava numa boa. Não era algo para denegrir ou humilhar ninguém.
Z- Você se lembra de algum episódio engraçado dele?
JL- Sim. Lembro que lá na fazenda do Mazza todo mundo arrumava com todo mundo. Uma vez, ele pegou o meu colchão, ensopou tudo com água e depois colocou o cobertor por cima. Depois, quando eu pulei na cama só foi água que voou (risos).
Z- O que você achava do Toni ator?
JL- Além de ser um cara legal e brincalhão, ele era um bom ator. Amigo e era um bom tipo pra cinema. Acontece que nos filmes do Mazzaropi só tinha espaço para uma estrela: o próprio Mazza. Ele era o dono do negócio e um grande comediante. Então, fica difícil pros outros atores aparecerem muito. Verdade seja dita: eu acredito que o Mazzaropi seja um dos melhores no segmento dele no cinema brasileiro, senão for no mundo.
Z- No Grande Xerife teve uma confusão e ele acabou saindo antes do filme. Você se lembra disso?
JL- Foi uma besteira. O Toni era um cara educado com todo mundo. Eu sei que um dia a equipe estava jantando. Parece que ele pediu um negócio pro cozinheiro e o pessoal da cozinha começou a fazer onda. Quero deixar bem claro que o Mazzaropi não fazia questão de comida, só que o empregado dele tinha umas frescurinhas. O cara não quis dar e o Toni Cardi se invocou, jogou o prato e fez uma confusão. Nisso, ele saiu do filme. Daí pra cá, não sei se ele andou fazendo mais algumas coisas. Esse imprevisto realmente aconteceu com ele. Mas todo mundo gostava dele lá no Mazzaropi. Só que o cara se desentendeu e ele estava de saco cheio.
Z- Você lembra como era o relacionamento dele com o Pio Zamuner?
JL- Se davam bem. O Pio tinha trabalhado em várias produções com o Mazza. Mas o Pio você conhece bem, é aquele italianão estouradão, né? Ele até hoje é assim. Mas esse desentendimento naquele filme foi uma besteira e tudo bem.
Z- Ele chegou a fazer alguns trabalhos com o Tony Vieira. Você chegou a acompanhar como era o relacionamento dos dois?
JL- Sei que antes da Boca ir acabando, o Toni foi pro interior e começou a mexer com imobiliária. Inclusive, ele vendeu um terreno pro Tony num lugar além de Campinas. Os dois se chamavam de xará e se gozavam. O Toni se deu bem graças a Deus, foi pro interior e está bem de vida. Eu sei que ele fez vários trabalhos. São essas coisas, vai passando o tempo e a gente vai esquecendo uma porção de coisas. Mas o que eu tenho que afirmar é que o Toni Cardi é um puta de um cara legal, não é mau ator. Era um puta de um tipo. Como colega de trabalho e fora, é uma pessoa muito decente. Ele que fez certo, saiu antes da bucha pegar fogo (rindo).