Chico Viola não Morreu

Especial Wilza Carla

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Chico Viola Não Morreu
Direção: Román Viñoly Barreto
Brasil/Argentina, 1955.

Por Gabriel Carneiro

Rei da Voz. Francisco Alves. Chico Viola. Todos esses nomes identificam uma pessoa, um cantor magistral que encantou o público nos anos 30 e 40, com sua potente voz e suas canções de amor, saudade e desilusão. Morto em 1952, ganhou uma cinebiografia pouco tempo depois, em 1955, pela Atlântida, que queria capitalizar em cima desse ícone da música, falecido precocemente num acidente de carro na via Dutra quando voltava de um show em São Paulo, aos 54 anos.

Filme de estrutura clássica, narrada a partir de um grande flashback – Chico Viola, no carro, relembra toda sua vida -, já acerta no título. Chico Viola talvez seja o nome mais íntimo e menos pomposo que o cantor recebeu, mais ligado às suas raízes – e é o que Chico Viola Não Morreu pretende, trazer de forma bastante humanizada o cantor, usando de todos os recursos que a ficção possibilita (assim como todos os clichês também). Afinal, Chico Viola, o ídolo, também é uma pessoa passível de problemas – vemos seu pai o reprimindo porque quer cantar, sua aventura pelo circo, sua passagem por várias funções profissionais, seus amores e desamores, sua descoberta num boteco de madrugada e, enfim, seu sucesso. Mas o sucesso, a priori, é o que menos importa. Todos conhecem seu sucesso, todos conhecem o Rei da Voz, todos conhecem Francisco Alves. Conheciam, ao menos, em 1955. O grande triunfo está aí, em trazer esse repertório desconhecido do público – e não importa minimamente que não seja o que realmente aconteceu. O Homem que Matou o Facínora, de John Ford, só foi realizado em 1962, mas seu principal ensinamento, já vinha sendo usado, de maneira até instintiva, muito antes. Entre a realidade e a lenda, publique-se a lenda: Chico Viola Não Morreu; ele permanece vivo através de suas músicas, ou algo do gênero – aliás, vale notar que Chico Viola não morreu muito antes que Elvis.

Com roteiro de Gilda de Abreu – que havia emplacado um dos maiores sucessos do cinema brasileiro dez anos antes, com o também musical O Ébrio, com Vicente Celestino -, Chico Viola Não Morreu traz grande elenco: Cyll Farney como Chico Viola, Eva Wilma como Maria das Trancinhas versão adulta, Wilson Grey como Maneco, Heloísa Helena como cigana e Wilza Carla em começo de carreira, esbelta, num físico muito diferente do qual ficou conhecida.

É claro, não se deve esperar uma grande obra-prima do filme. Não foi feito para isso. Mas dentro do que se propõe, o diretor argentino Román Viñoly Barreto consegue fazer um bom filme clássico, com muito menos problemas que esses dramas musicais tinham na época – e cito aqui novamente O Ébrio -, a começar pela duração (85 minutos), e sabendo bem o tom a usar. A se ver.