Especial A Aids no Cinema Brasileiro
O Olhar Triste
Direção: Olívio T. de Araujo
Brasil, 1995.
Por Adilson Marcelino
Não foi nada fácil ser homossexual, prostituta, usuário de drogas injetáveis e hemofílico nos anos 1980. Não que não seja quase sempre, mas ali foi o epicentro em que a Aids surgiu como câncer gay, cujo vírus era transmitido via sangue e sexo. E o elenco acima era o acusador grupo de risco.
Não foi fácil também ver tanta gente, amigos, companheiros, familiares, caindo feito moscas, não sem antes sofrer todo tipo de preconceito e falta de estrutura médica.
Com o tempo, o termo grupo de risco caiu por terra, e a Aids se tornou uma tragédia mundial que ataca a todos.
Daí que, uma década e meia depois de seu surgimento, mas ainda em tempos de medo e cerceamento, o filme O Olhar Triste, de 1995, surgiu como um consolo. Não por despir-se de dor, pois os relatos são marcados por ela, por pessoas infectadas pelo vírus HIV em pleno susto. Mas por banhar esses depoimentos e essas pessoas com um olhar de tanta ternura e respeito.
O espaço aberto pela lente de Olívio T. de Araújo é para que os infectados e os doentes pudessem falar sobre suas vidas a partir daquele acontecimento trágico. Não como relatos de condenados à morte, como as manchetes da época propagavam, mas sobre um cotidiano ainda possível de abrigar sonhos e planos.
Triste triste triste, como está registrado em seu título, o filme, realizado no formato vídeo, é também uma aposta na esperança, pois aposta na vida. O Olhar Triste aposta na ternura.