Entrevista com José Miziara

Dossië Gilberto Wagner

Entrevista com José Miziara
Por Matheus Trunk

Dentro do cinema paulista, José Miziara é um realizador de destaque. Dirigiu mais de 15 longas-metragens, tendo feito vários com produção da empresa Cinedistri, de Aníbal Massaini Neto. Nos anos 1970, o realizador estabeleceu uma interessante parceria com o montador Gilberto Wagner.

Os dois trabalharam juntos em 7 longas-metragens (Embalos Alucinantes; Meus Homens, Meus Amores; Nos Tempos da Vaselina; As Intimidades de Analu e Fernanda; Os Rapazes da Difícil Vida Fácil; Como Faturar a Mulher do Próximo; Pecado Horizontal). Atualmente, Miziara participa como ator do programa humorístico A Praça É Nossa, exibido semanalmente às quintas-feiras no SBT. Bastante solícito e gentil, o cineasta conversou com a reportagem da Zingu! por telefone.

Zingu!- O que o senhor pode falar sobre o Gilberto Wagner?

José Miziara- Poxa, ele montou vários filmes meus. Dentro da minha trajetória no cinema, o Gilberto foi o meu montador preferido. Ele montou esse primeiro filme e depois estabelecemos uma parceria. Sempre foi um cara simpático e sempre chegava no trabalho no horário estabelecido.

Z- Dos trabalhos dele com o senhor, tem algum que o senhor tem mais carinho?

JM- Gostei muito do trabalho dele no Embalos Alucinantes. Inclusive porque o crítico Salvyano Cavalcanti de Paiva, do Rio de Janeiro deu uma citação no jornal elogiando o trabalho de montagem do filme. Isso foi bastante importante porque destacou trabalho do Gilberto.

Z- Você confiava muito no trabalho do Gilberto?

JM- Bastante. Inclusive teve uma vez que eu deixei um filme na mão dele. Falei: “Monta isso que eu só venho depois de amanhã. Mas quero tudo pronto”. Ele deixou o filme pronto com uma rapidez muito grande, tudo estava direitinho. Sempre gostei muito dele. Lembro que o (produtor) Galante também gostava muito dele. Durante um tempo, ele era muito ativo e chegou a fazer coisas na Cinedistri, do Aníbal. Isso talvez pela rapidez em que ele fazia os trabalhos.

Z- O Gilberto era um cara bem-visto na Boca?

JM- Todo mundo gostava dele. Inclusive porque ele sempre foi um cara muito simpático e legal. Além disso, ele sempre foi um profissional talentoso. Infelizmente, faz muito tempo que eu não vejo ele.

Z- O que o senhor pode falar dos outros montadores que trabalharam com você?

JM- Olha, o Robertinho (Leme) trabalhou em um filme meu e nos demos muito bem. Inclusive, foi o Roberto quem indicou o Gilberto pra trabalhar comigo. O Eder Mazzini também era um grande profissional, tanto que sempre trabalhava com gente como o Toninho Meliande, Carlão Reichenbach. O Eder era considerado o papa da montagem na Boca. Mas eu me dei bem com todo mundo.
Z- O senhor acha que os técnicos são pouco lembrados no cinema brasileiro?

JM- Sim. Veja você: o diretor de fotografia, por exemplo, é uma figura endeusada no cinema americano. Aqui você fala: “Osvaldo Carcaça”, e te respondem: “Quem? Aquele pinguço”. Você pergunta de um Pio Zamuner e chamam de pinguço também. Não se lembram de gente como o falecido Claudião Portioli, do Moreiras. Grandes colegas. Só lembravam na hora de chamar para trabalhar. Nessa hora sempre se lembravam. O Miro Reis (eletricista) é outro filha da puta que uma vez me deu um baita de um susto (risos). Nós estávamos filmando num rio que dava numa cachoeira no Campestre (bairro turístico localizado em Santo André). Ele estava encaixando a câmera na parte debaixo da cachoeira. De repente, ele sumiu. Todo mundo da equipe ficou achando que ele tinha morrido afogado, alguma coisa assim. Eu era o diretor da fita e tinha total responsabilidade sobre tudo. Quando ouvi aquela voz dele foi uma alegria total (risos).