Especial Liana Duval
Pornô! (episódio O Gafanhoto)
Direção: John Doo
Brasil, 1981.
Por Gabriel Carneiro
O Gafanhoto é hoje, talvez, um dos filmes mais cults da Boca, por aproximar o universo fantástico e macabro para a produção erótica, somado ao bizarrismo da já famosa cena de sexo entre um gafanhoto e uma mulher. Essa fama não é desmerecida: O Gafanhoto é uma pequena surpresa, um filme a ir se descobrindo, completamente díspar aos antecessores (As gazelas, de Luiz Castellini, e O Prazer da Virtude, de David Cardoso), ainda que busquem nos fetiches incomuns seu denominador comum.
Em O Gafanhoto, Zélia Diniz faz uma bela e sedutora mulher cega, que domina tudo que está em volta da sua casa através do simples desejo. Lá, ela mantém como escravo sexual Marcos (Arthur Roveder), um rapaz que se considera um gafanhoto solitário – fraco e perdido, sem poder nada fazer. O curioso, a princípio, é notar que uma mulher cega domina completamente o marmanjo. Logo, essa curiosidade será morta, quando descobrimos que, enquanto Diana (Zélia Diniz) é cega, ela tem o poder de ver tudo através de espelhos, que são estrategicamente disponibilizados na casa. Não só, os espelhos funcionam como verdadeiros portais, transportando-a ao local que quiser no casarão onde reside com Marcos.
Ao longo de 40 minutos, o erotismo é transformado em macabro, mas não como os slashers gostam de fazer, em que o cunho erótico só é definido pela nudez, e não pela ambiência. As belíssimas cenas de uma sedutora Zélia Diniz vão, aos poucos, ganhando o contorno do perverso, pela sua persona autoritária e enigmática, que tudo vê pelos espelhos. Aliás, estes são uma perfeita metáfora do poder da imagem e do reflexo, do entendimento do caráter humano. É só à frente do espelho que Diana pode enxergar – assim como só à frente dele em que ela é realmente vista e está vulnerável, como se suas persona verdadeira só estivesse à mostra quando à frente do objeto.
Destaque para Liana Duval, que faz Ruda, a governanta bisblioteira, que presencia a cena com o real gafanhoto, e fica horrorizada. Aqui vale fazer um paralelo entre sua personalidade em O Gafanhoto e em O Pornógrafo: em ambos, ela faz uma mulher contraditória moralmente, que aceita algumas práticas e condena fervorosamente outras.