Nadando em Dinheiro

Especial Liana Duval

 

Nadando em Dinheiro
Direção: Abílio Pereira de Almeida e Carlos Thiré
Brasil, 1952

Por William Alves

Quando Isidoro Colepícula, roto e mal educado personagem de Amácio Mazaroppi, se descobre milionário, a constatação de que ele não saberá administrar tal fortuna é instantânea. Afinal, o caminhoneiro nunca teve em mãos tamanha quantia (20 milhões de cruzeiros). Pelo menos, não em seu próprio nome. Portanto, o final do filme já é conclusão óbvia. O que nos resta, então, é espiar o tremendo arsenal de baboseiras que o personagem irá cometer durante todo o longa.

Nadando em Dinheiro, de 1952, é mais uma produção da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, estúdio que dominou o cinema paulista nos anos 50. É a segunda aventura do motorista Isidoro, que já havia marcado presença em Sai da Frente, lançado no mesmo ano.

Isidoro é um caminhoneiro de poucas posses, um homem pouco mais feliz do que admite ser. Bem-humorado, se envolve em um acidente com um bando de grã-finos, e o barraco que ele arma atrai toda uma multidão ao redor, rindo desmedidamente do chilique do caminhoneiro. Isidoro é levado a uma mansão gigantesca e lá ele descobre que é neto e único herdeiro de um empresário milionário. Que, convenientemente, está à beira da morte.

Pouco a pouco, Isidoro vai sendo corrompido pelas benesses fáceis da boa vida. Além de ostentar um esnobismo que não estava lá, ele se envolve com mulheres de más intenções, o que acaba afastando a esposa e a filha pequena, que preferem a vida anterior. Liana Duval interpreta a empregada bem-apessoada que persegue Isidoro e o seu “CEOs”. Mesmo sem emitir uma única palavra durante a trama, seus sorrisos ambíguos, que atingem com tal intensidade tanto Isidoro quanto os seus empregados de alto escalão, são o bastante para delinear a nova vida de Isidoro. Afinal, antes dos vinte milhões, que empregada gostosa iria sorrir para aquele maltrapilho?

Mazaroppi, que realizava seu segundo filme, cumpre com o orgulho a patetice a que se propõe. Dono de um vocabulário e etiqueta limitados, Isidoro constrange de todas as formas possíveis os membros da elite que freqüentam aquela que agora é a sua morada. Não faltam oportunidades para o personagem galhofar: ele cai, engatinha, marcha e fala alto, além de, eventualmente, nadar em dinheiro. Destaque para o “veja você”, que o motorista sempre deixa escapar quando se sente ludibriado.

Diante de tal mote, os personagens secundários se tornam irrelevantes. O que interessa mesmo é acompanhar todos os atos do motorista esfarrapado. Exceção, claro, para aquela empregada…