Ariella

Especial Liana Duval

Ariella
Direção: John Herbert
Brasil, 1980.

Por William Alves

Apesar do temperamento arredio e a introversão, Ariella consegue notar que cresceu ao surpreender os olhares lascivos de Diogo em sua direção. Mas um indício mais forte também se apresenta: na falta de instrumentos mais apropriados, Ariella passa a esfregar a sua intimidade nos espelhos da enorme casa em que mora. Essa explosão hormonal não passa despercebida aos seus irmãos, Alfonso e Clécio, que têm idéias progressistas em relação ao incesto.

Nicole Puzzi, uma das mais belas fêmeas do cinema brasileiro, interpreta a protagonista. Com traços leves e compleição frágil, Puzzi se adapta com perfeição ao papel da virgem meiga, recheada de curiosidades. Essas curiosidades não abarcam apenas intenções heterossexuais, mas também Mercedes, interpretada por uma Christiane Torloni, noiva de Alfonso. Puzzi tinha 22 anos na época da produção, e, compreensivelmente, seu corpo nu oferece o grande atrativo visual do filme.

Na trama, Ariella divide uma enorme mansão com a sua suposta família, indivíduos hostis e desregrados que fazem pouco caso da moça. Não demora muito para que suas neuras se tornem realidade: essas pessoas não são quem dizem ser. Pior: usurparam a fortuna dos verdadeiros pais de Ariella, mortos. Seu único aliado é um casal de empregados. Liana Duval interpreta a serviçal que simpatiza com a “causa” da moça. Esse esforço, ínfimo, se resume a escolher roupas melhores para moça ou zombar dos patrões pelas costas.

Com poucas armas além da própria volúpia, Ariella empreende uma jornada pouco convencional de vingança. Aliás, “convencional” é grave eufemismo: ao tomar conhecimento da podridão que a rodeia, Ariella simplesmente solta os arreios do seu recato e resolve devorar, um a um, todos os membros do clã.

À medida que cresce a simpatia de Ariella pelo seu próprio corpo, se evidencia também o desejo dos outros em possui-lo. Alfonso e o amigo Diogo, interpretado por John Herbert, são os candidatos mais vorazes. Consciente da farsa, Ariella ora atiça, ora despreza as investidas, investida de uma enigmática inexpressividade facial.

Como Herbert, que assina a direção, faleceu recentemente, a pergunta fica sem resposta: essa impassibilidade é característica de Puzzi ou de Ariella?