Dossiê Geraldo Vietri
Vejo com muita simpatia essa iniciativa.
Poucos profissionais do nosso meio artístico são tão merecedores de uma homenagem quanto Geraldo Vietri.
Evidente que a geração atual desconhece esse homem. Mas qualquer ator que tenha feito televisão no período compreendido entre o final dos anos 1950 e final dos 70 sabe de quem estamos falando.
Entre as principais telenovelas daquela época, as que ajudaram a definir a cara da televisão brasileira, as obras que efetivamente consolidaram o sucesso do talento brasileiro, também no exterior, constam, por exemplo, Antonio Maria, Nino, o italianinho, A Fabrica, Vitoria Bonelli, para mencionar só algumas.
São legítimas obras de autor, uma vez que eram escritas e dirigidas por ele, Vietri. O que brotava de sua mente genial ia para o papel e daí para o vídeo sem sofrer distorções, interferências alheias, sem se afetar por palpites. O acerto ou o erro tinham sua grife. E rarissimamente havia erro.
De aparência enganosamente frágil, ele comandava atores e técnicos com voz forte e coração aberto à todas as emoções. Nunca mais conheci alguém com o talento e a coragem desse homem magro, de olhar penetrante, critico ácido da mediocridade onde quer que ela se apresentasse.
Derramava lágrimas sobre o teclado da velha Remington, enquanto escrevia a cena; derramava mais lágrimas na suíte, enquanto dirigia a cena, e despejava ainda mais lágrimas quando assistia a cena pronta.
Sua matéria-prima era gente. Gente boa, gente ruim, gente burra, inteligente, capaz de grandezas e de safadezas. Entre dezoito e vinte horas diárias de trabalho, divididas para pensar, escrever, dirigir e usufruir como o mais simples dos espectadores. Um dos mais completos contadores de historias que conheci. Foi o tipo de sujeito que, se tivesse tido poder para isso, mudaria o mundo com sua máquina de escrever.
Pessoas assim não morrem; ficam encantadas, como diria Guimarães Rosa.
Paulo Figueiredo é um dos atores da “família Vietri”. Atuou em várias novelas, como Nino, O Italianinho, A Fábrica, Vitória Bonelli, Meu Rico Português, e nos filmes Diabólicos Herdeiros, Senhora, Que Estranha Forma de Amar, Tiradentes – O Mártir da Independência e Adultério Por Amor.