Depoimento: Paulo Figueiredo

Dossiê Geraldo Vietri


Por Paulo Figueiredo

Vejo com muita simpatia essa iniciativa.

Poucos profissionais do nosso meio artístico são tão merecedores de uma homenagem quanto Geraldo Vietri.

Evidente que a geração atual desconhece esse homem. Mas qualquer ator que tenha feito televisão no período compreendido entre o final dos anos 1950 e final dos 70 sabe de quem estamos falando.

Entre as principais telenovelas daquela época, as que ajudaram a definir a cara da televisão brasileira, as obras que efetivamente consolidaram o sucesso do talento brasileiro, também no exterior, constam, por exemplo, Antonio Maria, Nino, o italianinho, A Fabrica, Vitoria Bonelli, para mencionar só algumas.

São legítimas obras de autor, uma vez que eram escritas e dirigidas por ele, Vietri. O que brotava de sua mente genial ia para o papel e daí para o vídeo sem sofrer distorções, interferências alheias, sem se afetar por palpites. O acerto ou o erro tinham sua grife. E rarissimamente havia erro.

De aparência enganosamente frágil, ele comandava atores e técnicos com voz forte e coração aberto à todas as emoções. Nunca mais conheci alguém com o talento e a coragem desse homem magro, de olhar penetrante, critico ácido da mediocridade onde quer que ela se apresentasse.

Derramava lágrimas sobre o teclado da velha Remington, enquanto escrevia a cena; derramava mais lágrimas na suíte, enquanto dirigia a cena, e despejava ainda mais lágrimas quando assistia a cena pronta.

Sua matéria-prima era gente. Gente boa, gente ruim, gente burra, inteligente, capaz de grandezas e de safadezas. Entre dezoito e vinte horas diárias de trabalho, divididas para pensar, escrever, dirigir e usufruir como o mais simples dos espectadores. Um dos mais completos contadores de historias que conheci. Foi o tipo de sujeito que, se tivesse tido poder para isso, mudaria o mundo com sua máquina de escrever.

Pessoas assim não morrem; ficam encantadas, como diria Guimarães Rosa.

Paulo Figueiredo é um dos atores da “família Vietri”. Atuou em várias novelas, como Nino, O Italianinho, A Fábrica, Vitória Bonelli, Meu Rico Português, e nos filmes Diabólicos Herdeiros, Senhora, Que Estranha Forma de Amar, Tiradentes – O Mártir da Independência e Adultério Por Amor.