A Primeira Fase

Dossiê Vera Cruz

Por Adilson Marcelino

Nas décadas de 1940 e 1950 se estabeleceram dois importantes estúdios de cinema no país: Atlântida, no Rio de Janeiro, e Vera Cruz, em São Paulo. E o mais interessante é que foram modelos completamente distintos.

A Atlântida foi fundada em 1941 pelos cineastas Moacyr Fenelon, José Carlos Burle, Paulo Burle, Arnaldo Farias e Alinor Azevedo. O estúdio começou produzindo filmes sérios, mas encontrou seu pote de ouro nas comédias musicais. Em 1947, a Atlântida foi incorporada pelo Grupo Severiano Ribeiro, empresa do mercado de distribuição e de exibição, em seus quadros, que passou a ser seu maior acionista. Formou-se aí o tripé que deu sustentação aos filmes do estúdio: produção-distribuição-exibição. Essa receita, aliada a filmes populares de baixo orçamento, fez desse ciclo de produção, pejorativamente chamado de chanchadas, um momento de grande aceitação por parte do público das camadas mais pobres, que lotou os cinemas.

Durante os anos de 1930 a 1940, São Paulo produziu poucos filmes de ficção – a grande produção do período foi de documentários. Esse panorama começou a mudar com a fundação da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em 1949, por representantes da burguesia paulista – com Franco Zampari e Francisco Matarazzo Sobrinho à frente. Ao contrário do Rio de Janeiro, com suas comédias populares, o modelo almejado pela elite paulista foi o da industrialização espelhado nos moldes de Hollywood e de olho na Europa – foi de solo europeu que importou os técnicos. Já o elenco era basicamente o do TBC – Teatro Brasileiro de Comédia, Cia também fundada por Zampari, em 1948 – ver texto A Ficha Técnica.

A Vera Cruz realizou alguns documentários e 18 filmes de ficção, dentre eles os sucessos Tico-tico no Fubá (1952), de Adolfo Celi, Sai da Frente (1952), de Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne, e, sobretudo, O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto.

A Companhia foi instalada em São Bernardo do Campo, com estúdios grandiosos e tecnicamente modernos. A primeira produção foi Caiçara, em 1950, dirigida por Adolfo Celi e Tom Payne. O filme lança uma das maiores musas do cinema brasileiro, a belíssima Eliane Lage, e marca também a estréia nas telas do galã Mário Sérgio. É também Eliane Lage que vai protagonizar um outro sucesso da Cia, Sinhá Moça, dirigido por Payne e Oswaldo Sampaio em 1953. O filme tem ainda no elenco Anselmo Duarte e uma grande interpretação de Ruth Souza, que concorreu ao prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza.

Dentre os 18 filmes de ficção que a Vera Cruz produziu, estão obras notáveis e que não envelheceram, como Tico-Tico no Fubá (1952), dirigido por Adolfo Celi e protagonizado por Anselmo Duarte – que foi contratado pela Vera Cruz a peso de ouro -, Tônia Carrero e Marisa Prado; Floradas na Serra (1954), de Luciano Salce e que registrou na telas o talento de Cacilda Becker; É Proibido Beijar (1954), de Ugo Lombardi, com a dupla Tônia Carrero/Mário Sérgio; Sai da Frente (1952), sucesso com Mazzaropi dirigido por Abílio Pereira de Almeida.

E é também da Vera Cruz um dos filmes mais memoráveis do cinema brasileiro: O Cangaceiro, dirigido por Lima Barreto em 1953 – no elenco, Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton Ribeiro e Vanja Orico. Como se sabe, ainda que O Cangaceiro tenha sido um sucesso de bilheteria e exibido em vários países, a Vera Cruz não viu muito a cor do dinheiro, que ficou em mãos da Columbia, distribuidora do filme.
Com os altos gastos com as produções, má administração e sem contar com o diferencial da Atlântida – produção-distribuição-exibição -, a Vera Cruz encerra as atividades de sua primeira fase em 1954.

Fontes:
MIRANDA, Luiz Felipe; RAMOS, Fernão. Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000.
MIRANDA, Luis F. A.Miranda. Dicionário de Cineastas Brasileiros. São Paulo: Art Editora Ltda, 1990.
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