Um Anjo Mau

Especial Francisco di Franco


Um Anjo Mau
Direção: Roberto Santos
Brasil, 1971.

Por Edu Jancz

O homenageado dessa edição, Francisco di Franco, é dono de extensa filmografia a favor do cinema brasileiro.

Francisco di Franco nos deixou em 10 de abril de 2001, e, certamente, plantou muita saudade e admiração pela dezena de trabalhos a quem emprestou sua fina e bela estampa, o seu talento como ator.

Em Os Devassos, ao lado do poderoso Jardel Filho, e nesse Um Anjo Mau, dirigido pelo mestre Roberto Santos, pude perceber o bom ator com cara de galã que foi Francisco di Franco. O rosto bonito e o porte atlético não disfarçam um ator de múltiplas facetas que defende seus personagens com unhas e dentes.

É o que acontece em Um Anjo Mau.

Lucas (Francisco di Franco) é um tropeiro solitário que cruza com Açucena (Adriana Prieto). Ela tem um passado trágico. Foi vendida pela mãe ao comerciante Mario Afonso (Jonas Mello) no início da adolescência.  Virou mulher, loirinha e bonita como um anjo, atraente e sensual – o seu lado mau. Mario Afonso é atraído e possuído. Bem jovem, Açucena descobriu uma forma de sobreviver naquele mundo predominantemente masculino.

Expulsa pela ciumenta irmã do comerciante, Açucena encontra em seu caminho o tropeiro Lucas.  Cruzam as vidas, tem um filho, até que o destino volte a impor novas regras. Numa viagem de Lucas, o capataz da fazenda em que ele mora invade sua casa e tenta violentá-la.

Ao saber da violência praticada contra Açucena, Lucas, de arma em punho, vai em busca de vingança. Aleija o capataz, que nunca mais poderá tocar e ter prazer com uma mulher.

Em represália, o dono da fazenda (Sérgio Hingst) manda matar Lucas. Uma bala perdida mata o filho dele e de Açucena. Ela é expulsa do local e dá início à nova jornada, sempre tendo em mente vingar Lucas.

Vivendo de fugas e percebendo o momento certo para se prostituir, Açucena sobrevive. Em seu caminho encontra Martinho (Flávio Porto), um homem que vive para lutar. Ele será o mentor de sua vingança.

Além da boa presença de Francisco di Franco no elenco, destaque para a interpretação marcante de Adriana Prieto.  Argentina de nascimento (naturalizada brasileira aos 21 anos), Adriana nos deixou com apenas 24 anos e legou belíssima filmografia. Na pele de Açucena, ela mostra toda a força de uma personagem que ousou descobrir o sobreviver – num universo árido, violento, masculino e onde a mulher tem pouca ou apenas uma serventia.

O trabalho do veterano cineasta Roberto Santos é preciso e econômico como o drama que ele narra. A direção de atores é função que cultiva com esmero. E sua câmera – o olho que vê/conta a cena para nós – na mão do brilhante Hélio Silva – registra o ambiente, a trama e seus artífices com carinho e precisão, visto que a vida tem que viver.

Termino, citando comentário do grande crítico Ely Azeredo: “Roberto Santos admite que seu Um Anjo Mau não escapa da influência de Matraga. Este, até certo ponto, é seu lado fértil: uma consciência trágica dos caminhos do instinto e rebeldia (…)”