Os Rapazes da Difícil Vida Fácil

Dossiê Ewerton de Castro

 

Os Rapazes da Difícil Vida Fácil
Direção: José Miziara
Brasil, 1979. 

Por Sérgio Andrade 

Os Rapazes da Difícil Vida Fácil parece querer provar, desde seu início, com Ewerton de Castro cantando Io che non vivo senza te numa cantina, que as pornochanchadas foram influenciadas pelas comédias eróticas italianas interpretadas por Lando Buzzanca, Aldo Giuffrè e outros, que misturavam grosseria com boa observação humana. Aliás, essa influência italiana surge antes até, na animação durante os letreiros lembrando os desenhos de Bruno Bozzetto (Música e Fantasia). Pois o fato é que o filme fala o tempo todo com sotaque italiano do Brás ou do Bexiga. 

Ewerton é João, um candidato a cantor, desempregado, sempre vigiado de perto pela noiva de seis anos Carla (Silvia Salgado), que, para seu desespero, insiste em casar virgem. 

Uma noite, ele é seguido por uma lésbica singelamente chamada Gilberto (Elizabeth Hartmann) e seu empregado gay, recebendo o convite para trabalhar como garoto de programa. Claro que ele aceita, dando início a diversas confusões. 

Cinema popular na acepção da palavra, o filme não economiza em piadas com lésbicas, homossexuais, anões, negros, idosos, a colônia italiana, mulheres gostosas etc. 

Claro, o diretor José Miziara não estava interessado em revolucionar o cinema, mas sim divertir o público que lotou o cine Marrocos para assistir essa trama ingênua com uma pitada de malícia, pontuada por cenas de sexo e nudez hoje pudicas (um peitinho aqui, uma bundinha ali, basicamente isso). E o faz de modo competente, com diálogos bem escritos e situações que vão se tornando cada vez mais complicadas, na medida em que a família e amigos da noiva vão tentando descobrir de onde vem o dinheiro que o antes pé-rapado João vem ganhando. 

Para que tudo funcionasse a contento seria necessário ter um bom elenco, o que Miziara sempre teve em seus filmes. Aqui, ele conta, além da presença carismática de Ewerton, a beleza e talento de Silvia (a cena em que ela finge tentar seduzir o patrão interpretado por Roberto Maya é impagável) e Elizabeth, com gente experiente como Guilherme Correia (um michê veterano), Yolanda Cardoso (mãe de Silvia), Walter Stuart e belas mulheres como Claudete Joubert (a “esposa” de Gilberto), Heloisa Raso e Zelia Diniz,

proporcionando 99 minutos de despretensiosa diversão.