O Estripador de Mulheres

Dossiê Ewerton de Castro

O Estripador de Mulheres
Direção Juan Bajon
Brasil, 1978.

Por Edu Jancz

Meu primeiro encontro com o diretor Juan Bajon data de 1984. Eu fazia a coluna Nosso Cinema para a revista Big Man Internacional, e Bajon estava lançando Penetrações Profundas, seu primeiro filme com cenas de sexo explícito.

Não era o primeiro filme de sua longa carreira, iniciada em 1978, exatamente com O Estripador de Mulheres, filme aqui focalizado.  Conforme conta o meu mestre e amigo, Alfredo Sternheim, em seu indispensável Dicionário de Diretores – Cinema da Boca, Bajon ganhou com O Estripador o premio de melhor roteiro do ano, outorgado pela APCA.  Alfredo completa sua informação esclarecendo que Bajon roteirizou e dirigiu mais seis filmes convencionais e passou a filmar obras com sexo explícito, de acordo com a demanda do mercado.

Educadérrimo, gentil, falando com voz baixa, Bajon tinha um press release de sua fita e cartaz que seria afixado nas portas dos cinemas.  Com o qual me presenteou. Em poucos minutos me atendeu e, quando eu estava quase saindo de sua sala, na rua do Triunfo, a conversa resvalou para o cinema em geral. Eu que sempre me considerei um cinéfilo bem informado, pensei: agora estou na minha praia. Surpresa: ficamos mais de quatro horas conversando sobre cinema internacional.  Conversando, dialogando, praticamente não. Bajon passou as quatro horas demonstrando todo o seu conhecimento da sétima arte. Eu, escutando, aprendendo.

Em outras conversas que tivemos, Bajon deixou claro que a sua intenção na Boca era fazer cinema. O explícito – que ele fazia muito bem – veio de uma vontade do mercado. Não era o cinema de sua preferência, nem dos seus sonhos. Era o cinema possível. E Bajon sempre foi, é e será um apaixonado por cinema.

Um apaixonado que no Brasil – era nascido em Shangai, China – teve seu batismo de fogo como assistente de ninguém menos que o crítico dos críticos, Rubem Biáfora, em 1975, no longa A Casa das Tentações.

O Estripador de Mulheres é um suspense com influência do cinema produzido pelo americano Val Lewton. Numa São Paulo com cara de Londres, sem o fog característico, em plena madrugada, uma figura obscura – o excelente Ewerton de Castro – persegue, mata e tira órgãos vitais de várias mulheres.

O caso é investigado por Renato Master, galã popular da época por suas aparições em novelas da antiga e poderosa TV Excelsior.

Juan Bajon e seu roteiro não se preocupam somente com a investigação dos crimes. Quer mostrar o circo eletrônico midiático que se forma em torno de casos tão violentos.  É parte dos moradores do bairro arriscando seu palpite (fazendo suas apostas) sobre quem é o assassino.  A mídia, com tendência sensacionalista – realidade que vivemos ainda hoje, 2012, em alguns casos – quer a qualquer custo ter o “seu estripador” na primeira página.  Bem como os superiores do inspetor que “exigem” apuração “rápida”. Mesmo que o preso não seja o verdadeiro culpado.

Ewerton de Castro tem em O Estripador de Mulheres uma interpretação irretocável. Durante o filme inteiro ele diz apenas uma frase – que em nada define o seu personagem. Sua tara, seus crimes, seu método e motivos ele expressa com o olhar, gestos calculados e uma expressão facial que muda de anjo para demônio em segundos.  O tímido rapaz, gentil atendente de uma farmácia, vira monstro, imobiliza suas vítimas e as mata covardemente.