Especial John Herbert
Cleo e Daniel
Direção: Roberto Freire
Brasil, 1970.
Por Ailton Monteiro
Um dos trabalhos em que John Herbert mais se destaca, sendo seu, inclusive, o primeiro nome a aparecer nos créditos, Cleo e Daniel é um filme dirigido pelo próprio autor do livro, o best-seller homônimo do psicanalista Roberto Freire. O livro foi lançado no país em 1966 e fez muito sucesso, especialmente entre o público jovem. A transposição para o cinema, porém, não foi assim tão bem sucedida. Há alguns bons momentos, especialmente no início, mas depois o filme parece não ter fim, mesmo não sendo de longa duração. Isso é atribuído à falta de dinheiro para finalizar a produção, que foi fechada às pressas.
Não deixa de ser curioso Freire pintando o psicanalista (Herbert) como um sujeito meio louco, irresponsável e cruel. Fica parecendo uma crítica aos próprios psicanalistas. O casal do título, vivido por Chico Aragão (Daniel) e Irene Stefânia (Cleo), também são figuras problemáticas. Daniel é viciado em comprimidos. Já Cléo também faz um papel de maluquinha, primeiro se apresentando no consultório do psiquiatra em crise que nem está muito a fim de clinicar. Ela acabara de sofrer um aborto, ajudada pela mãe, vivida por Beatriz Segall.
Em alguns momentos, o filme passa a impressão de tentar emular Khouri, até pela trilha sonora de Rogério Duprat. Mas as tentativas de parecer existencialista são frustradas pela pouca experiência na direção de Freire. Não à toa, Cleo e Daniel foi a única vez que o psicanalista e escritor se aventurou a dirigir um filme.
Alguns momentos são bonitos plasticamente, como a câmera acompanhando a luminária balançando como um pêndulo na cena de sexo entre um casal de jovens. Alguns travellings também são bonitos, bem como a fotografia em preto e branco. O que também ajuda a compor a beleza do filme é a figura de Irene Stefânia, vinda de Fome de Amor, de Nelson Pereira dos Santos. Lembrando que no filme de Nelson, Irene quase eclipsa Leila Diniz, mesmo com a apatia de sua personagem. Uma atriz que aparece em Cleo e Daniel e que eu não reconheci é Sônia Braga, anos antes de se tornar um dos maiores símbolos sexuais que o país já conheceu.