Dossiê Ewerton de Castro
Cada um dá o que tem – episódio Uma Grande Vocação
Direção: Silvio de Abreu
Brasil, 1975.
Por Adilson Marcelino
Cada um dá o que tem é filme em três episódios dirigidos por Adriano Stuart – O Despejo, John Herbert – Cartão de Crédito, e Silvio de Abreu – Uma Grande Vocação.
Com resultado desigual, característica comum desse formato, pois quase sempre os diferentes episódios se diferenciam em termos de qualidade entre um e outro, coube a Silvio de Abreu assinar o melhor deles – não à toa seu seguimento encerra o filme.
Em Uma Grande Vocação está nítida toda a verve que o cineasta desenvolveria em sua curta, mas expressiva carreira cinematográfica. Estão lá o humor físico e um tanto pastelão, a constante movimentação, a crítica aos bons costumes, as belas mulheres, e grandes atores.
Aqui, reina Ewerton de Castro como o candidato a padre Agostinho, que desde a primeira cena demonstra que a vocação parece ser mais exigência familiar que desejo interno, já que não pode ver um rabo de saia que espreme os olhinhos por trás dos óculos fundo de garrafa, e, sofregamente, a bíblia entre as mãos.
Mas sua vocação será desafiada se é grande mesmo ao passar alguns dias em casa de tios salpicada de belas e apetitosas priminhas, inclusive a que brincava de médico quando criança, agora na pele estonteante de Nydia de Paula.
Bastava a dita para balançar o coreto de qualquer seminarista, mas ainda tem no seu caminho Suzana Gonçalves, Matilde Mastrangi, Marizeth Baumgarten, Tânia Caldas e Meyre Vieira.
E tem ainda os impagáveis Adriano Stuart e Luiz Carlos Miéle – esse último na mais sensacional de suas aparições no cinema como um monsenhor de cinta-liga a fim de traçar um Ewerton com sua apetitosa cara de bebê anos-luz de qualquer Estatuto da Criança e do Adolescente a lhe proteger.
Uma Grande Vocação encontra em Ewerton de Castro o intérprete perfeito, o que faz o filme, ainda que mal finalizado, saltar em qualidade e se despedir da tela com graça.