Dossiê Toni Cardi
Depoimento de Virgílio Roveda
Conheci o Toni Cardi em 1966, quando eu trabalhava numa produção do Raffaele Rossi. A gente foi filmar um documentário sobre um restaurante da região de Piracicaba. De São Paulo, fomos eu, Ewerton de Castro e Roberto Leme. Todos em começo de carreira. Desde o início, percebi que o Toni era um cara bem intencionado. Mas, infelizmente, o Rossi não tinha estrutura para dirigir aquele trabalho. O documentário acabou não acontecendo.
O Toni cuidava dessa parte de produção e deu a cara para bater. Me lembro dele sempre ser um cara muito batalhador. Durante muitos anos, freqüentamos a Boca juntos e ele militou na TV Tupi também. O Toni fez filmes com vários realizadores, lembro que algumas coisas com o Ary Fernandes e mesmo com o José Mojica Marins. Inclusive, estivemos juntos no A Virgem e o Machão. Poxa, esse filme foi realizado em São Sebastião. Diz no letreiro que eu era assistente de câmera, mas eu fui assistente de tudo, inclusive fiz alguma coisa de produção, trabalhei como um camelo.
Me lembro que o Toni Cardi tinha aquelas preocupações típicas de ator. Ainda mais ele, que sempre foi galã. Mas ele não se restringia a isso. Ele tinha um espírito solidário com todos da equipe, sempre foi uma pessoa de bom caráter e bastante empenhado no campo de filmagem. Posso falar isso porque tivemos alguns trabalhos juntos.
Também trabalhos juntos no Meu Nome É Tonho, em que ele não fez corpo mole. Nossa estrutura nesse filme era o mínimo, tanto em equipamento, câmera e negativo. Mesmo assim, conseguimos ganhar vários prêmios pelo trabalho de gente como o Peter Overbeck na fotografia e o Luiz Elias na montagem. Esse filme foi realizado em 1969, na região onde tinha sido feito O Cangaceiro, do Lima Barreto, exatos quinze anos antes.
O elenco masculino era numeroso: Toni Cardi, Zé Ferreira, Allan Fontaine, Cláudio Viana. Esse Cláudio Viana era um carioca meio folgado. Mas folgado no bom sentido, no fundo era um sarrista. Ele se deu muito bem com o Toni e eles aprontaram algumas juntos.
Os dois aprontaram várias para cima do Allan Fontaine. Porque o cara dizia que era um baita cavaleiro e na realidade nem sabia subir em cima de um cavalo. O Fontaine também dizia que era o maior gatilho e não sabia segurar uma arma. O Candeias não gostou disso. Tanto que se você ver o filme, percebe que o Allan não usa calça e sim uma espécie de quiripá. Ele estava reclamando do personagem dele e o Candeias disse: “Poxa, já que você está reclamando vou deixar o seu personagem sem calças”. Teve uma tomada em que ele caiu cinco vezes do cavalo. Esse filme teve várias coisas divertidas. Mas foi um trabalho importante. Tanto que durante as filmagens, choveu muito. Mas nós conseguimos contornar todas essas dificuldades e fizemos o trabalho rapidamente.
O Toni Cardi era um excelente cavaleiro, sabia andar de cavalo com a maior facilidade. Posso dizer que a relação dele com o Candeias foi muito boa, nunca tiveram uma discussão. O nome dele é Irineu Travaglini, mas ficou conhecido pelo pessoal do cinema como Toni Cardi. Grande sujeito.
Virgílio Roveda é diretor de fotografia, assistente de direção e diretor de produção. Trabalhou com Toni Cardi em Meu Nome É Tonho (1969), O Grande Xerife (1972) e A Virgem e o Machão (1974).