Dossiê de Aniversário: O Autor – Walter Hugo Khouri
Forever
Direção: Walter Hugo Khouri
Brasil, 1991.
Por Adilson Marcelino
Se é fato para muitos que alguns dos últimos filmes de Walter Hugo Khouri são inferiores aos seus filmes até os anos 80, é fato também que ainda assim, por mais conturbadas que tenham sido essas produções, esses mesmos filmes mantiveram o olhar personalíssimo do cineasta e jamais perdem em interesse.
Forever é o título mais fraco de toda a filmografia Khouriana, e não é preciso ter nenhuma bola de cristal para localizar onde possa estar o ninho da serpente. Vale a pena dar uma olhada na ficha técnica para vermos um inacreditável pool de roteiristas, cabendo espaço até para o co-produtor italiano do filme, Augusto Caminito – assinam também o roteiro Lauro César Muniz e Anthony Foutz, ao lado de Khouri. Ou seja, nada do clássico “roteiro e direção de Walter Hugo Khouri”
Como se não bastasse esse loteamento, há ainda os diálogos em inglês e a equivocada escalação da atriz italiana Eva Grimaldi para ser a Berenice da vez. Eva carrega nas tintas onde se pede sutileza, faz carão até para beber um copo de água, e cada vez que dos seus lábios – dublados? – saem expressões como “good night mother”, o frio percorre nossa espinha em onda de mais pura canastrice.
Co-produção Brasil/Itália com olho aberto para o mercado externo, Forever se vale de um elenco curioso, juntando brasileiros e estrangeiros, para trazer ao centro da cena mais uma vez o personagem Marcelo, elemento e signo fundamental da obra khouriana.
Aqui, o filme já começa com a morte do personagem, que é encontrado na cama, possivelmente morto enfartado – seria uma morte pós-gozo? pensam em voz alta policiais, o advogada da família, e mesmo a filha Berenice. Esta última demonstra ainda mais certeza sobre isso, pois diz ter sido avisada da morte do pai pelo telefonema de uma misteriosa voz de mulher.
A partir daí, a trama é toda descortinada pela reconstrução do olhar de Berenice, e, por isso, nunca se sabe se o mostrado realmente aconteceu ou é apenas a personificação do desejo irrefreável da filha pelo pai.
Marcelo, como se sabe, pelo menos para quem conhece um pouco a obra de Khouri, é o milionário egocêntrico que procura obsessivamente e inutilmente na satisfação sexual a resposta para sua angústia existencial. Presente em vários filmes, vários atores já lhe deram rosto: Paulo José, Wilfred Khouri, Fernando Amaral, Roberto Maya (três vezes), Tarcísio Meira, Antônio Fagundes. Em Forever a vez é do ator americano Bem Gazzara.
Gazzara tem uma elegância nata e ainda que não faça um Marcelo memorável, também não chega a comprometer o resultado como Eva Grimaldi faz interpretando sua filha Berenice – que também já foi vivida em outros filmes por outras atrizes, como Nicole Puzzi e Bia Seidl.
Como não poderia deixar de ser em um filme de Khouri, há toda uma fauna feminina de belas mulheres às voltas do protagonista, com pelo menos duas delas apropriadíssimas ao universo do cineasta: a francesa Corinne Cléry – que no cinema pátrio personificou a mítica O de A História de O, em versão dirigida por Just Jaeckin em 1975 -, como uma mulher casada que se envolve com Marcelo; e a italiana Gioia Scola, como a amiga de Berenice que cai nas garras do garanhão.
Já a italiana Janet Agren não tem muitas chances como a esposa traída de Marcelo, o mesmo acontecendo com Vera Fischer, que faz outra de suas amantes. Forever marca ainda a estreia cinematográfica de Ana Paula Arósio, como Berenice na adolescência.