Dossiê Ênio Gonçalves
SOBRE ÊNIO GONÇALVES
POR CARLOS REICHENBACH
Não canso de afirmar que aprendi amar a direção de atores realizando FILME DEMÊNCIA, e trabalhando com atores-autores como Ênio Gonçalves e Emílio di Biasi.
Como roteirista de quase todos os filmes que dirigi, compreendi neste filme a riqueza de ter como cúmplices atores que também exercitam a escrita constantemente.
Atores-autores gostam de desafios, de experimentar sempre. Nunca são programáticos e esperam sempre se surpreender consigo mesmos.
Curiosamente, são extremamente disciplinados; já que vivenciaram na pele e na carne as angústias, as frustrações e/ou a euforia que acompanham a solidão da criação.
Conhecem de cátedra o pesadelo da autocobrança permanente que persegue bons roteiristas e diretores.
Ator-autor não dá palpite; dá subsídio.
Até este filme eu achava, como outros diretores da minha geração, que a câmera resolvia todos os problemas, incluindo uma atuação frágil, incompatível ou incompetente ou um ator ou atriz mal escolhidos.
Ênio Gonçalves é o ator dos sonhos de um roteirista-diretor. Por ter estudado cinema na Europa, no início da carreira, conhece muito bem as diferenças de intensidade exigidas por cada uma das lentes: a normal, a tele e a grande-angular.
Nas exibições de FILME DEMÊNCIA, Ênio teve a sua magnífica e econômica performance comparada a de Maurice Ronet em Trinta Anos esta Noite, o filme de Louis Malle.
Confesso que já escrevi vários argumentos tendo em mente Ênio Gonçalves como protagonista, incluindo o roteiro de meu próximo longa metragem UM ANJO DESARTICULADO, que retoma a linha mestra de FILME DEMÊNCIA (a viagem iniciática de um inconformista).
A inteligência, a sensibilidade, o amor ao cinema e – sobretudo – a generosidade – fazem de Ênio Gonçalves um cúmplice criativo raro, daqueles que estimulam espontaneamente a ousadia e as outras faculdades criativas do diretor e/ou roteirista.
CARLOS REICHENBACH
Agosto de 2011