Enigma para Demônios

Especial Rodolfo Arena

 

Enigma para Demônios
Direção: Carlos Hugo Christensen
Brasil, 1974. 

Por Sérgio Andrade 

Com a morte do pai em Buenos Aires, Elza retorna a sua cidade natal, Belo Horizonte, de onde saiu quando era criança. Seu primo Raul a leva a Ouro Preto para conhecer os tios Ricardo e Laura. Ela toma conhecimento dos motivos que levaram a separação de seus pais e a morte de sua mãe, Lúcia. E fica sabendo também que é herdeira de uma grande fortuna. 

Ao ir ao cemitério onde a mãe está enterrada, Elza pega uma flor de um túmulo e, distraidamente, a deixa cair na rua. Começa então a receber telefonemas anônimos, com uma voz masculina que parece vir do além, perguntando pela tal flor. Assustada, ela vai para um sítio em Mariana, mas fatos estranhos continuam acontecendo, levando as pessoas a questionarem sua sanidade. Estaria ela enlouquecendo mesmo, tal como sua mãe, ou tudo não passaria de um plano maquiavélico? 

O diretor Carlos Hugo Christensen, argentino de nascimento que passou por Chile, Venezuela e Perú antes de se radicar definitivamente no Brasil, se interessou várias vezes pelo suspense e o horror, adaptando obras de Robert Louis Stevenson, William Irish e Stanilas-André Steeman. Aqui, no gênero, realizou Leonora dos Sete Mares, A Mulher do Desejo e este Enigma Para Demônios, além de outros filmes excelentes como Mãos Sangrentas e A Intrusa. Mas suas obras-primas são os dramas Viagem aos Seios de Duilia e O Menino e o Vento. Com tudo isso surpreende que ainda não tenha recebido o reconhecimento que merece. 

Seu talento fica evidente nesta trama, repleta de mistério, pistas falsas, surpresas e flerte com o sobrenatural, que tira bom proveito das locações nas cidades mineiras de Ouro Preto e Mariana. Contando com poucos recursos, ele consegue criar cenas tensas como quando Elza, durante uma cavalgada noturna, é perseguida por um carro em alta velocidade numa estrada de terra, ou evocar o clima das produções de terror de Val Lewton na RKO, tipo Sangue de Pantera ou A Sétima Vítima, mais sugerindo que mostrando. As estranhas ligações telefônicas o aproximam de outro clássico do cinema de horror nacional: O Anjo da Noite, de Walter Hugo Khouri, realizado no mesmo ano (1974). 

No elenco, dois dos atores preferidos do diretor, Palmira Barbosa e Luiz Fernando Ianelli, as estréias no cinema de José Mayer, como um médico que pode ou não ter algo a ver com o mistério, e Eduardo Tornaghi no papel de um rapaz com problemas mentais, mais atores experientes como Mário Brasini, Lícia Magna e Jotta Barroso. 

O homenageado deste número da Zingu!, Rodolfo Arena, desempenha com a competência habitual o papel do médico da família (apesar da ridícula peruca que lhe deram num flashback, para parecer mais jovem). 

Mas é a bela Monique Lafond quem domina o filme num papel difícil, entre a lucidez e a possível perturbação mental hereditária (ela também interpreta sua mãe numa cena do passado).