Especial Rodolfo Arena
A Mulher Que Inventou o Amor
Direção: Jean Garrett
Brasil, 1979.
Por Matheus Trunk
Durante sua carreira artística, o ator Rodolfo Arena (1910-1980) participou de poucas produções cinematográficas realizadas fora do Rio de Janeiro. Brilhante coadjuvante, este empenhado profissional era uma figura extremamente carioca. Isso fica evidente em Flamengo Paixão, documentário de David Neves, em que o ator dá seu depoimento e recorda alguns dos grandes ídolos do rubro-negro.
Em 1979, Arena participou de um dos mais audaciosos filmes da Boca paulista: A Mulher Que Inventou o Amor. Nesta película, ele encarnou o Doutor Perdigão, espécie de mecenas da “rainha dos gemidos” Doralice. O avô de cabelos brancos que se apaixona por uma prostituta. O mais engraçado é que os dois se conhecem numa igreja, como nos filmes do diretor espanhol Luis Buñuel.
Doente de paixão pela moça, Perdigão quer transformar a ex-meretriz em uma dama da sociedade. Por isso, compra um apartamento para ela e cuida da educação da jovem. Dentro do roteiro de José Silvério Trevisan, o personagem de Arena é uma espécie de velho babão, que faz tudo para conquistar a jovem amante. A figura magricela e simpática do ator parece perfeita para o papel.
Transformada em Tallulah, Doralice irá perseguir um astro de telenovelas que é sua verdadeira paixão. A personagem principal (interpretada com maestria por Aldine Müller) vai ficando cada vez mais louca e se envolve em relacionamentos confusos. A Mulher Que Inventou o Amor tem grandes momentos, provando o talento da dupla Trevisan e Garrett. Porém, penso que o filme parece mais uma realização do primeiro. Tem trechos em que isso fica evidente, como no envolvimento da protagonista com o personagem de Roberto Miranda. Adepto do “país que vai pra frente”, ele é ardoroso defensor do governo. Esse conteúdo político nunca tinha entrado no cinema do realizador dos Açores. Isso acontece somente neste filme.
Parece impossível definir o cinema de Jean Garrett. Cineasta audacioso, sempre tentava inovar em suas obras. Pode ser que nem sempre acertava em cheio. Este longa-metragem foi um fracasso de público. Mesmo assim, A Mulher Que Inventou o Amor é o tipo de filme que merece ser visto mais de uma vez.