Especial Boca Pornô – 30 anos
Fuk Fuk à Brasileira
Direção: J. A. Nunes (Jean Garrett)
Brasil, 1986.
Por Sérgio Andrade
Siri é anão, negro, órfão, pobre, mas fala com o espectador por telepatia com a voz de um galã de telenovela (adeptos do politicamente correto devem passar longe). Ele nos conta sua história, desde quando foi adotado por um casal que o transformou em escravo sexual e recebia como prêmio, toda semana, um pinto de borracha que guardava com carinho.
Uma noite o casal traz uma amiga para participar das brincadeiras e, no auge da animação, o marido resolve dar uma de Marlon Brando em O Último Tango em Paris: pede para Siri trazer a manteiga, mesmo a moça não sendo nenhuma Maria Schneider. Ela recusa a oferta e cabe à mulher ser devidamente besuntada, mas como ao invés de manteiga eles só tinham margarina (“afinal não estamos em Paris, mas no Brasil”) essa também desiste da brincadeira. O cara, então, decide se satisfazer com Siri mesmo, que foge entrando pela privada. Ele ainda consegue voltar escondido para a casa afim de pegar sua valiosa coleção e cair no mundo.
Em sua jornada será acolhido por um casal de portugueses (quando poderá usar de toda a criatividade no uso da coleção com a portuguesa), passará pela casa de um gay cujo pai sofreu derrame cerebral (Oasis Minniti, desta vez sem fazer sexo), vai trabalhar na casa de massagem Suga Suga e finalmente receberá a visita de uma nave espacial, no formato de um pinto gigante, vinda do planeta Conas que o escolheu para aprender tudo sobre sacanagem (com direito à tiração de sarro sobre a pobreza dos efeitos especiais no cinema brasileiro).
Dirigido por Jean Garrett, um dos melhores (o melhor?) diretor da Boca, aqui assinando como J.A. Nunes (de seu verdadeiro nome, José Antônio Nunes Gomes e Silva), o filme tem mesmo alguns momentos bem engraçados, a começar pelos letreiros de abertura que trás créditos como roteiro de J. A. Improviso, música do Maestro Agulha e produtores um sinal de interrogação. As mulheres são menos feias do que de costume. Mas quem garante a diversão e o anão Chumbinho, figura freqüente nos pornôs da Boca e que hoje em dia possui uma legião de admiradores.
No gênero, porém, Garrett se sairia melhor em O Beijo da Mulher Piranha que, apesar do título, é um drama policial no qual ele pôde dar vazão aos seus enquadramentos sofisticados e o gosto pelo insólito (Amadas e Violentadas, Excitação, A Força dos Sentidos, A Mulher que Inventou o Amor, O Fotógrafo) na trama da garota que transa com sua piranha (o peixe mesmo!) de estimação e ela própria devora seus amantes.
Claro que sempre haverá quem goste de filmes como Fuk Fuk à Brasileira. Outros, no entanto, acharão que é mais um desperdício de um talento do nosso cinema.
Garrett dirigiu seu último filme em 1986 e morreria dez anos depois, em 21 de abril, cinco dias depois de ter completado 50 anos.