Dossiê Gilberto Wagner
Parte 3- A decadência do cinema e o futuro
Por Matheus Trunk
Z- Depois do cinema, quais trabalhos o senhor teve?
GW- Depois dos postos, eu comecei a trabalhar com venda de carros, comprava em leilão. Eu arrumava o veículo e revendia. Um tempo eu acabei trabalhando na transportadora de um amigo meu. Eu já trabalhei com um monte de coisa, em empresas de amigo tomando conta de departamentos. Mas cinema eu nunca voltei.
Z- Mas tem vontade de voltar?
GW- Não, não tenho. Depois disso, eu trabalhei mesmo com o Luizinho ajudando ele no filme da TV Colosso (Gilberto refere-se ao longa-metragem Supercolosso, o Filme dirigido por Luiz Ferré em 1994) e no Pelé Eterno. Isso foi a única coisa que eu fiz depois que eu larguei o cinema.
Z- O senhor acha que os técnicos são pouco lembrados no cinema brasileiro?
GW- Agora é outra época. Nem tem porque ser lembrado. Não é como um diretor. Por exemplo, um cara que faz um espetáculo e sempre vai ser lembrado. O John Herbert foi lembrado porque foi casado com a Eva Wilma, fez muitas novelas. Depois foi dirigindo, estava na Globo recentemente. Então, ele foi uma pessoa que ficou conhecida. Lógico que tem que ser lembrado, mas os demais. Técnicos…montador. Quantos filmes o Luizinho montou? Quantos prêmios ele ganhou? Quantos méritos ele teve? Alguém lembra dele?
Z- O senhor acha que ele poderia ser mais lembrado?
GW- Eu acredito que sim. Acho que ele deveria como os outros foram. Ele tem o mérito dele dentro do cinema. Só que o mérito fica pra quem? Pra quem dirige, pra quem está em destaque. Você não vê quantos atores estão encostados por aí? Alguém lembra deles? Ficou velho acabou. Vamos supor: se a Globo fizer o que você está fazendo e falar do Luiz Elias. Mas quem era o Luiz Elias? Ele ficava atrás da câmera, bem atrás das câmeras. Como ele, como eu e os outros montadores. Hoje, me faz lembrar o programa do Faustão. Ele brinca com o câmera e o cara acaba sendo conhecido. Mas fora isso podem falar: “Aquele cara foi câmera da Globo”. Mas o Luizinho e eu ficávamos atrás das câmeras, bem atrás inclusive. Atrás do diretor inclusive. Mas lógico: eu acho que deveria ser lembrado sim. Nós tivemos méritos. Se o filme foi pra Gramado e ganhou prêmio o mérito fica pro produtor, pro diretor. O editor não aparece. E o editor é uma peça importante num filme.
Z- O senhor acredita que muitas vezes o montador pode ser uma espécie de co-autor? Por exemplo, o senhor falou que no Intimidades de Analu e Fernanda o seu trabalho foi importante no produto final do filme.
GW- Olha, foi um trabalho bacana pra caramba de se fazer. Mas eu nem sei se o Miziara ganhou algum prêmio com aquele filme.
Z- O senhor chegou a ganhar algum prêmio como montador?
GW- Não. Nunca ganhei nada. Ganhava elogios: “Parabéns. O filme ficou bom”. Isso na Boca, no meio artístico. Sempre falavam assim: “Quem montou foi o sobrinho do Ary, o Gilberto”. O meu nome era sobrinho do Ary, Gilberto. O nome do meu tio sempre na frente porque ele foi cineasta. Quando o meu tio estava em cinema, eu não era nem nascido.
Z- Isso incomodou alguma vez o senhor?
GW- Magina, nunca. Em hipótese nenhuma. Nunca me perturbou isso em nada, de jeito nenhum. Muito pelo contrário, eu ficava satisfeito porque foi o filme que eu tinha editado. De repente, a gente estava numa reunião e alguém perguntava quem tinha montado. Eu respondia e sempre me elogiaram. Foi isso aí.
Z- Seu Gilberto, pra gente encerrar: o que o senhor acha que fica do senhor pra posteridade?
GW- A memória de quem lembrar de mim. Como o Miziara, o pessoal de cinema mesmo. Outras pessoas, você que está me conhecendo agora. Você está fazendo a entrevista e sabe o que eu fiz. Lógico se você está fazendo isso é porque você gosta de cinema. Então, vai ficar na memória dessas pessoas e do pessoal do cinema. Porque pra muita gente eu e um paralelepípedo não tem grande diferença. Isso deve acontecer com os outros montadores também que foram técnicos e não tiveram muito destaque. O meu tio, por exemplo, era conhecido. Ele foi no Faustão, tinha reconhecimento por ter sido produtor e diretor. Ao contrário de mim, eu era apenas editor, ficava atrás dele. Agora pro futuro: amanhã eu morro, venho a falecer e fica que eu fiz tudo isso que você está me entrevistando. Pra você e pro pessoal de cinema. Entendeu? Eu comecei como ator e depois virei editor.
Z- E dos grandes…
GW- Ah…(olhando negativamente)
Z- Na Boca…
GW- Na Boca sim.
Z- Montar Walter Hugo Khouri convenhamos que não é qualquer um.
GW- Não é qualquer um que montava. Com certeza.
Z- Pela nossa conversa, eu percebo que o senhor gostaria de refazer o Vigilante Rodoviário.
GW- Sim. Eu tenho certeza que esse seriado faria sucesso hoje. Porque fez muito sucesso na época. Agora lançou em DVD e eu tenho todos os capítulos. Cheguei a passar alguns pra minha filha, pra uma amiguinha da minha filha e elas dão risadas. Poxa, o seriado foi feito em 1963, 64. Tem umas horas que o cachorro faz isso, faz aquilo e dão risada. Todo mundo dá risada e nós estamos em outra época.
Z- São mais de 40 anos.
GW- Mais de 40 anos. Eu tenho certeza que se produzir o Vigilante de novo com certeza vai ter uma repercussão boa. Mas precisa de patrocínio…o cinema hoje é diferente de antes. Hoje não é película.