Especial Boca Pornô – 30 anos
Coisas Eróticas
Direção: Raffaeli Rossi e Laerte Calicchio
Brasil, 1981.
Por Adilson Marcelino
Quando do seu lançamento em 1981, Coisas Eróticas causou sensação. Não era para menos, afinal era o primeiro filme brasileiro de sexo explícito lançado nos cinemas do país.
E daí toma cinemas lotados no centros das cidades, com muito marmanjo disputando à tapa uma cadeira vaga. E o pior – ou melhor para muitos – tendo que dividir espaço lado a lado no escurinho do cinema com outros barbados.
Mesmo na época, o elenco de moços e moças nas telas, com exceção de algumas beldades como Zaira Bueno, meio de paraquedas naquilo tudo, era um tanto tosqueira. Mas como não se impactar já na primeira cena, quando Oasis Minitti levanta do trono e se masturba no banheiro? Afinal, era sacanagem no estilo gente como a gente e, mais impressionante ainda, falada em português.
Como se sabe, o que abriu brecha para esse Coisas Eróticas entrar em cartaz em plena ditadura foi o uso do mesmo mecanismo de mandado de segurança que possibilitou o lançamento de O Império dos Sentidos, o filme dirigido por Nagisa Oshima que causou escândalo no mundo inteiro. Daí, foi impossível frear a onda do pornô, que a partir de novos mandados de segurança despejou inúmeros rebentos na praça, o que determinaria, principalmente, a derrocada da produção efervescente da Boca do Lixo, em São Paulo.
Coisas Eróticas foi apenas o primeiro de um filão que parecia inesgotável.
Coisas Eróticas é filme dividido em três episódios – primeiro e segundo dirigidos por Raffaele Rossi, e segundo por Laerte Calicho; com Rossi assinando também a produção.
O primeiro episódio não tem nome e começa exatamente com a cena de prazer solitário de Minutti. Bom, isso logo muda quando ele sai de carro e em um sinal conhece uma mulata voluptosa e sedutora. O começo até parece que vai dar namoro, com encontro à noite e convite para final de semana em família na chácara. Mas no final, o que vai rolar mesmo é cena de cama entre o casal de um lado, e amasso lésbico no banheiro entre a filha da dona do pedaço e a sua amiguinha. Depois de papar mãe e filha, ficamos sabendo que Minutti tinha sido apenas mais uma vítima da tara familiar.
O segundo episódio é o que dá nome ao longa e é dirigido por Caliccho. Em cena, a prática do swinger entre um casal chegado ao sexo masoquista e outro debutando na farra moderna da época. O sexo entre as moças é mostrado de forma generosa, já entre os moços só é mesmo insinuado, ainda que ouse em mostrar cena em que os varões se bolinam, com direito a mão na bunda por dentro da sunga e piadinhas sobre dedo duro.
Já o terceiro, novamente com direção de Rossi, chama-se Férias de Amor, e é o que conta com o elenco mais bonito, inclusive com presença da musa Zaira Bueno, que não entra na dança da genitália em ação e parece um tanto perdida ali naquele meio. Na trama, um bonitão que vai passar o final de semana na casa da namorada, e lá é seduzido por toda a família da moça – mãe e irmãs.
A trilha sonora desse Coisas Eróticas é um capítulo à parte, pois junta numa panela só como fundo musical para trepadas e amassos de diferentes quilates, uma inesperada Manhã de Carnaval, de Luis Bonfá; a música-tema de Emmanuelle; a francesa Je T´Aime ma non Plus; e o romantismo dos Carpenters. Inacreditável!