Especial Boca Pornô – 30 anos
A Dama de Paus
Direção: Mário Vaz Filho
Brasil, 1989.
Por William Alves
A Dama de Paus tem uma das sequências iniciais mais atordoantes da história do cinema nacional. Milhares de indivíduos encapuzados, que se assemelham à temida ordem Ku-Klux-Klan, se enfileiram para penetrar Débora Muniz, uma das grandes musas do sexo explícito brasileiro.
O ápice (para ela e para quem assiste) é esticado para o final, quando ela é sexualmente violada pelo líder, que ostenta uma máscara, portentosamente confeccionada, de (pasme!) cavalo. Em dez minutos, Mário Vaz Filho já gastou todos os trunfos de uma produção de gênero, você diz. E você está brutalmente equivocado, já que um cavalo de verdade vai pintar lá pelo meio da produção.
Ao contrário de outros diretores da Boca do Lixo, como Alfredo Sternheim e José Miziara, Vaz Filho não tem uma filmografia “convencional”, já que ingressou diretamente nas produções pornôs. Talvez por isso, seja consideravelmente mais criterioso em suas perversões do que ambos. Enquanto Sternheim e Miziara se limitavam a posicionar os seus personagens em fazendas borbulhantes de hormônios, Vaz Filho tinha um arsenal mais variado de promiscuidade. Ele prova, tal como MacGyver, que dois tomates e uma cenoura, em posições previamente calculadas, constituem um tremendo afrodisíaco.
Como se filmar sexo não fosse o bastante, A Dama de Paus tem uma “história”. Uma esposa insatisfeita (Débora) se perde em devaneios libidinosos, para esclarecer o mínimo. Invariavelmente, múltiplos personagens aleatórios se juntam à trama – um deles é interpretado por um tal José Mojica Marins -, sem maiores explicações. Afinal, o intento é socializar, não discriminar.