Dossiê Luiz Elias
Por Matheus Trunk
Aos 75 anos, José Mojica Marins é uma das maiores figuras da história do cinema brasileiro. Criador do mítico personagem Zé do Caixão, ele é um dessas pessoas que não negam uma entrevista. Seja por um veículo grande ou pequeno. Dispensa também os famosos assessores de imprensa. “Falo sobre o Luiz Elias com enorme prazer”, disse ele por telefone para a reportagem da Zingu!.
Elias montou cinco longas-metragens assinados por Mojica (A Sina do Aventureiro, Á Meia-Noite Levarei Sua Alma, O Diabo de Vila Velha, Esta Noite Encarnarei No Teu Cadáver e O Despertar da Besta). Também montou um curta-metragem (Pesadelo, realizado em 1965). São parceiros desde os anos 60. “Fizemos A Sina do Aventureiro sem recurso nenhum”, admite Mojica com a sinceridade de sempre.
Zingu!- Como o senhor conheceu o Luiz Elias?
José Mojica Marins- O primeiro trabalho profissional do Luiz Elias foi numa fita minha que se chama A Sina do Aventureiro. Na época, ele estava iniciando e tinha sido assistente da Vera Cruz (Mojica se engana. Luiz Elias tinha sido assistente na Maristela). Ninguém dava muito crédito ou acreditava no trabalho dele. Me lembro que eram poucos montadores ativos em São Paulo nesse período. Então, muitos deles não gostaram também porque isso representava um novo concorrente pra eles.
Z- Depois vocês acabaram sendo parceiros?
JMM- Sim. Esse primeiro trabalho deu certo e tudo continuou caminhando bem nos trabalhos posteriores. Além de ser um grande montador, o Luiz Elias sempre mostrou um caráter firme. Depois que ele trabalhou comigo, ele se firmou e acabou se tornando um dos técnicos mais procurados de São Paulo.
Z- Vocês fizeram muitos trabalhos juntos. Tem algum preferido?
JMM- Na verdade, eu gosto de todas as fitas que ele montou. Mas tem uma ficou na história que é O Despertar da Besta. Ele mexeu nessa fita e eu achei um trabalho fantástico dele. Guardo um carinho especial por esse trabalho porque foi muito difícil na época.
Z- O senhor acha que os técnicos do cinema brasileiro ele deveriam ter um maior reconhecimento?
JMM- Sim. Mas aqui não dão valor nem pros diretores e produtores. Imagina pros técnicos. Tem um grupo de mauricinhos que sempre conseguem patrocínios pras coisas feitas no Rio. Os paulistas sempre tem dificuldade em vencer essa barreira.
Z- Na opinião do senhor, por quê isso acontece?
JMM- Eles tem mais amizades. O carioca tem aquele jeitinho…sabem ser mais puxa-sacos do pessoal de Brasília. Eles têm força nesse sentido e os cineastas de São Paulo não.
Z- O senhor e o Luiz Elias fizeram A Sina do Aventureiro com poucos recursos?
JMM- Fizemos sem recurso nenhum. A gente conseguia alugar uma moviola por duas horas no máximo. Mas conseguimos terminar o filme. Meteram muito pau por eu ter chamado um novato pra montar um longa-metragem. Depois, esses outros profissionais que desciam o pau no Luiz Elias acabaram chamando ele pra outros trabalhos. Ele foi chamado sem parar. Sempre admirei muito o Luizinho seja no trabalho, seja no caráter dele.