Por Filipe Chamy
Há poucas semanas todos os noticiários e cadernos de cultura nos jornais, todos os sites e blogs e todos os comentários dos amigos que se interessam por cinema giraram em cima de um assunto: o Oscar. Por que um prêmio desses continua tendo tanta atenção?
No viés de “panorama da indústria”, o Oscar interessa aos ianques, e olhe lá. A nós não diz nada, e, a bem da verdade, não deveria dizer nada a eles. Podemos pensar por exemplo no ridículo efeito colateral que ele ocasiona quando faz produtores se coçarem de gana ao financiar projetos muito parecidos, investindo na fórmula “ganhou uma vez, ganhará de novo”; não que a lógica seja equivocada, mas é um pensamento tão torpe que, em cinema, equivale a, em relacionamentos, trocar de namorada por uma mulher exatamente com as mesmas características físicas da antiga parceira. Porque Oscar é isso, aparência de mentira, fachada da verdade, e em verdade uma besteira que não serve a nada. Mas o diabo é tão manhoso que aqui estou eu dedicando uma coluna inteira a esse prêmio que, já disse, não me interessa. Não é hipocrisia. É um pedido de open your eyes a algum eventual leitor.
O mais ridículo da história são os “bolos” de filmes que se encavalam nessa época. As distribuidoras adiam os lançamentos, para aproveitar o furor alucinante (sempre um mau sinal) que impera nas filas de cinemas pós-anúncio do Oscar. Aí vemos o fenômeno das maratonas, gente correndo para ver o máximo de filmes possível. Gente que no restante do ano diz não ter tempo para ver filmes, gente que não vê filmes no resto do ano. Ora, mas o que é isso? Não há qualquer justificativa para esse comportamento; ou vão dizer que usam o Oscar como parâmetro de boas indicações, sendo que todos já sabem e comentam que os critérios de seleção são políticos, subjetivos às raias da imbecilidade e totalmente inúteis? Ou é para comentar com os amigos? Tudo bem, eu mesmo participei de bolões este ano, mas levar a sério esse cardápio indigesto que o Oscar apresenta, como se fosse uma carta de sobremesas? Não é o caso de “é bom, mas engorda”, e sim de “só faz mal, mas como assim mesmo”.
Com a popularização da internet, também há cada vez mais presente o “baixamento” de filmes. E é outra coisa associada ao Oscar que não tem sua razão de ser: uma ou duas semanas antes de o filme passar em todos os cinemas (os bons, os maus, os caros, os baratos etc.), há uma imensa leva de pessoas baixando o filme em sua casa, não sei se para ter o bizarro prazer de assistir ao filme antes dos outros ou se para satisfazer uma curiosidade no mais absurda, pois todos já sabemos como são virtualmente todos os filmes do Oscar antes de vê-los.
Claro que não discuto os rótulos risíveis de publicações como Set e Caras, estilo “a noite máxima do cinema” — como se aquela meia dúzia de filmes bastante limitados dissesse respeito a uma tendência da arte ou mesmo a um quadro do que se entende hoje por cinema popular e de alcance; não, é claro que isso tudo é uma bobagem, mas o Oscar é achincalhado e mesmo assim todos querem ver os filmes indicados para falar, com nojo, “esse ou aquele filme não mereceu tantas indicações”. Como se as indicações do Oscar significassem qualidade, como se discutir prêmios da Academia tivesse importância, e como se todos os filmes marginalizados durante o resto do ano fossem instantaneamente abarcados pelo oba-oba que se cria em torno dessa carnavalesca premiação.
Chega de hipocrisia. O Oscar ser visto como algo digno de atenção já é superestimá-lo, mas fingir que não importam os resultados quando se faz torcida, votos e até campanha por algum filme da seleção é ridículo. Esqueçam o Oscar, vejam e discutam filmes.