Por Adilson Marcelino
Silvia Salgado tem carreira pequena no cinema, com menos de 10 filmes no currículo. Ainda assim, esbanjou beleza e talento atuando em filmes de pelos menos dois nomes essenciais da Boca do Lixo: José Miziara e Cláudio Cunha. O que lhe garantiu, claro, cadeira cativa na galeria de musas da Boca.
Silvia Salgado nasceu em 3 de maio de 1950, em Fortaleza, Ceará, mas radicou-se na primeira infância em São Paulo. Graduada em psicologia, em 1977 dá guinada na vida ao ser revelada no concurso de talentos do programa de Moacyr Franco, na TV Globo. Esse fato carimba seu passe de atriz e ela debuta nas novelas da Globo em Á Sombra dos Laranjais (1977), de Benedito Ruy Barbosa e Sylvan Paezzo.
Silvia começa estudos na área e logo estreia no cinema em O Cortiço (1980), de Francisco Ramalho Jr, em que se destaca nessa produção anos-luz aquém do romance clássico do naturalismo, a obra-prima O Cortiço, de Aluísio de Azevedo. Aqui ela é Pombinha, uma menina que teima em não vira mulher, mas que depois acaba tendo a vida completamente mudada.
O estouro nacional ela encontra ao personificar a frágil Jose em O Astro (1977/78), novela de Janete Clair que bateu recordes de público na época – aquela famosa do “Quem Matou Salomão Hayala?”. Ainda na TV, Silvia Salgado vai participar de outras tantas novelas, com destaque para a Bruna Prado de Ciranda de Pedra (1981), de Teixeira Filho, em que atormentava a vida da protagonista Virgínia, interpretada por Lucélia Santos.
O Cortiço não só carimbou a estreia de Silvia Salgado nas telas como despertou os olhos de vários cineastas, encantados com a beleza e talento da jovem atriz.
E esses primeiros cineastas que a escalaram estava todos ligados á Boca: José Miziara, Claudio Cunha, Hércules Breseghelo. Por isso, seu posto irrefutável de uma das musas da Boca do Lixo.
José Miziara reserva não só um papel, mas a própria protagonista de seu Meus Homens, Meus Amores (1978), em que Silvia Salgado co-estrela com a cantora Rosemmary. As duas são vizinhas de porta, e ainda que digam amenidades cada vez que se encontram no elevador, ambas vivenciam momentos dramáticos em suas vidas. Nesses rápidos encontros, elas sempre disfarçam o que sentem em conversas banais. Aparentemente, não têm nada a ver uma com a outra, a não ser o fato de que são estudantes em uma universidade. Porém, há mais semelhanças entre elas do que ambas possam supor.
Na trama, Silvia Salgado é Ana, bela mulher casada com Peter, interpretado por Roberto Maya, um empresário ciumento e escroto que não a deixa trabalhar e a afasta cada vez mais de seus amigos e amigas. Dentre eles está o personagem de João Signorelli, um antigo namorado que tenta reconquistar a amada. Sufocada pela possessividade, agressividade e maus tratos do marido, Ana se sente cada vez mais angustiada e insatisfeita, estado que chega ao auge quando o vê com uma amante. Vivendo em estado crescente de tensão, solidão e opressão, Ana protagonizará ato que irá mudar sua vida.
Nesse terceiro e bom filme de José Miziara, já se pode observar o quanto Silvia Salgado, além de bela e boa atriz, é totalmente cinematográfica.
Silvia Salgado tem encontro também com outro nome fundamental revelado na Boca do Lixo: Claudio Cunha. Com Cunha, ela participa do notável Sábado Alucinante (1979), ambientado no Rio de Janeiro, cuja trama gira em torno dos freqüentadores de uma discoteca. Dentre esses freqüentadores daqueles frenéticos tempos de Dancin Days estão Sandra Bréa como a atormentada Laura, a despachada Baby de Djenane Machado, a grávida solteira Gina de Simone Carvalho, o galã das pitas Bebeto de Marcelo Picchi, dentre outros. Silvia é Diana.
A atriz atua em filme de mais um nome da Boca: o paulista Hércules Breseghelo. Por Um Corpo de Mulher é um drama com tintas policiais ambientado no universo de modelos e fotógrafos.
Com Os Rapazes da Difícil Vida Fácil, Silvia Salgado volta a atuar sob a lente de José Miziara. Dessa vez ela é Carla, noiva ciumenta e virgem do personagem de Ewerton de Castro, que não cede aos avanços sexuais do noivo, com a exigência de só liberar depois do sim do altar. Mal sabe ela que ele vai acabar se tornando um michê. A atriz está no auge de beleza, em filme que tem fotografia e câmera do mestre Antonio Meliande.
Já com nome fora da Boca do Lixo, Sílvia Salgado atua sob a direção de Antonio Calmon, A Mulher Sensual (1981), filme em total sintonia com os produzidos pela galera paulista, inclusive protagonizado pela maior estrela daquele pedaço: Helena Ramos. A Mulher Sensual é último filme do cineasta de temática adulta, antes dele visitar, com sucesso, o gênero juvenil com Menino do Rio (1982), e sua continuação Garota Dourada (1983).
A atriz marca presença também em filmes dos Trapalhões: O Cinderelo Trapalhão (1979), e Os Três Mosqueteiros Trapalhões (1980), ambos dirigidos por Adriano Stuart, cineasta revelado na Boca do Lixo.
O Cortiço, 1978, Francisco Ramalho Junior
Meus Homens, Meus Amores, 1978, José Miziara
Sábado Alucinante, 1979, Cláudio Cunha
Por um Corpo de Mulher, 1979, Hércules Breseghelo
O Cinderelo Trapalhão, 1979, Adriano Stuart
Os Três Mosqueteiros Trapalhões, 1980, Adriano Stuart
Os Rapazes da Difícil Vida Fácil, 1980, José Miziara
A Mulher Sensual, 1981, de Antonio Calmon
Fontes:
Site Mulheres do Cinema Brasileiro
Dicionário Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro, de Antonio Leão da Silva Neto
Enciclopédia do Cinema Brasileiro, de Fernão Ramos e Luis Felipe Miranda (orgs)