Dossiê Geraldo Vietri
Entrevista: Arlete Montenegro
Por Adilson Marcelino
Sempre fiel ao seu elenco, Geraldo Vietri escalava seus atores prediletos tanto para a televisão como para o cinema. Com Arlete Montenegro não foi diferente. E além das novelas, é de um filme de Geraldo Vietri uma das mais impressionantes atuações da atriz no cinema: a ofendida esposa traída em Sexo, Sua Única Arma. Nesta entrevista exclusiva à Zingu!, Arlete Montenegro ressalta a incrível capacidade de Vietri acumular as funções de escritor, diretor e editor de suas novelas, o ciúme que ele tinha de seu elenco a ponto de não querer que “seus” atores participassem de programas na emissora, e o trabalho com ele no cinema.
Zingu!: Gostaria que você falasse sobre o Geraldo Vietri.
Arlete Montenegro: Nossa, que saudade! Geraldo, fiz Tanta novela interessante dele. Ele era um homem tão diferente… Porque ele era uma pessoa que fazia tudo, sabia? Ele não só escrevia, como dirigia e editava a novela que ele fazia. Ele não deixava ninguém se meter na história dele.
Z: O que é bem diferente de hoje em dia.
AM: hoje em dia o autor tem vários colaboradores. Ele nunca teve. Aliás, na Tupi, eu acho que ninguém tinha. Isso foi uma coisa que veio com a Globo, que aconteceu na Globo. Era tão engraçado, quer dizer, engraçado não. Mas porque sempre lá no meio da novela ele ficava doente. Porque era muito trabalho, né? Ele ficava estressado, ia parar no hospital.
Z: Mesmo?
AM: E aí sabe o que acontecia? Colocavam alguém para dirigir a novela. Ele era proibido pelos médicos de dirigir, ele só escrevia, no hospital mesmo. Então eles iam buscar os capítulos lá. Depois, quando ele voltava para casa, os médicos proibiam ainda de dirigir durante um mês. Nem editar, só escrever.
Você sabe que então ele ficava na porta do estúdio? E quando a gente saia, depois de ter gravado alguma cena importante, ele estava lá? E aí ele perguntava: “Arlete, me diga uma coisa, como é que você fez a cena? Como é que ele dirigiu essa cena? Não é por nada não, eu sei que ele pode fazer mil vezes melhor do que eu. Mas doeu, sabe…” Ele dizia assim tão triste, ele era assim.
Z: Entrega total, né?
AM: Aquilo era a vida dele, era impressionante a dedicação dele ao trabalho. E as novelas eram belíssimas, até hoje é o autor que mais soube escrever sobre o cotidiano.
Z: Ele era muito fiel ao elenco, não é? A Elisabeth Hartmann disse, inclusive, que ele tinha até ciúme.
AM: Sim, ele tinha ciúme da gente, não deixava que a gente fosse ao Clube dos Artistas, não deixava que a gente fosse ao Almoço com as Estrelas. Interessante a pessoa. E era muito amoroso, brigava com você, e no dia seguinte mandava flores.
Z: Como ele era no cinema?
AM: Eu nunca fiz nenhum filme com ele…
Z: Fez sim.
AM: Mentira! Fiz assim. Foi um filme que eu nunca vi,chamava-se Sexo…
Z: Sexo, Sua Única Arma.
AM: Não era para ser esse nome, ele odiava, os distribuidores é que puseram. O filme era bom, a história era muito boa.
Z: A Selma Egrei como protagonista.
AM: A Selma Egrei. A Geórgia Gomide, que nos deixou agora. Com muita gente boa. Era a história da vingança dela (personagem de Selma Egrei), ela se fingia de cega. Era bonito, a gente filmou aqui perto, onde se faz muito vinho licoroso.
Z: Ele dirigia no cinema como dirigia na televisão?
AM: Igualzinho. Quer dizer, na linguagem de cinema, né?
Z: Mas ele tinha também esse controle total como na TV, não é?
AM: Total e absoluto, e ficava doente quando não podia ter. Doente. Uma figura estranha, né?