Carnaval Atlântida

Especial O Carnaval no Cinema Brasileiro

 

Carnaval Atlântida
Direção: José Carlos Burle
Brasil, 1952

Por Matheus Trunk

A companhia cinematográfica Atlântida iniciou suas atividades em 1941. A ideia original dos fundadores da empresa era produzir longas-metragens com pretensões artísticas, tendo como principal influência o Neo-Realismo italiano. Mas essa ideia acabou não vingando. Com o tempo, ficou provado que somente os filmes carnavalescos tinham um público cativo.

Médico de formação, o pernambucano José Carlos Burle foi um dos grandes diretores do período. Buscou diversas vezes o filme social (Moleque Tião) e mesmo os dramalhões nos moldes da Vera Cruz (Maior Que o Ódio). Mas fez escola com as chanchadas, que eram perseguidas pela crítica da época.

Paródia a Hollywood, Carnaval Atlântida é um dos mais divertidos longas-metragens de todos os tempos. O produtor Cecílio B. de Milho (Renato Restier) quer realizar uma fita sobre Helena de Tróia no Rio de Janeiro. Para isso, ele contrata o professor Xenofontes (Oscarito), um profundo conhecedor da mitologia grega. Ao mesmo tempo, dois empregados do estúdio (Grande Othelo e Colé Santana) querem transformar tudo numa chanchada.

Com o tempo, todos os personagens da trama veem a impossibilidade de realizar um trabalho igual aos americanos. Por isso, o antes sisudo professor de assuntos da Grécia Antiga e o produtor americanófilo acabam caindo no samba.

Um aspecto que precisa ser destacado neste longa-metragem são os números musicais. Nomes sagrados da nossa música popular como Blecaute, Caco Velho, Nora Ney e Dick Farney cantam seus respectivos sucessos. Esse desfile de artistas não afeta o ritmo do filme.

Trabalho bastante autoral de Burle, este filme não é uma chanchada comum. Isso pode ser visto de várias maneiras. O nome do produtor Cecílio B. de Milho é claramente uma gozação com Cecil B. de Mille, realizador norte-americano reconhecido por trabalhos marcantes como Os Dez Mandamentos e Sansão e Dalila.

Passados quase 60 anos da realização desta fita, podemos dizer que Carnaval Atlântida é sem dúvida uma paródia atemporal. Resistiu muito bem ao tempo e seu recado continua valendo. Muitos produtores e cineastas brasileiros continuam sendo grandes Cecílios B. de Milho. Não pensam numa estética popular e brasileira. Querem somente imitar modelos estrangeiros.