Dossiê Alfredo Sternheim
Paixão na Praia
Direção Alfredo Sternheim
Brasil, 1971.
Por William Alves
Primeiro longa-metragem inteiramente dirigido por Alfredo Sternheim, que já estava envolvido com o cinema nacional, fazendo as vezes de diretor assistente. E logo na primeira experiência, Sternheim conseguiu escalar Norma Bengell, que já havia atuado em poderosíssimos filmes nacionais, como O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, e O Anjo Nasceu, de Júlio Bressane. O Pagador de Promessas, inclusive, é de 1962, mesmo ano em que ela se tornou a primeira atriz brasileira a protagonizar uma cena de nu frontal, realizada em Os Cafajestes.
Paixão na Praia é de nove anos depois, que parecem não ter mitigado o sex appeal da atriz. Débora, a personagem de Bengell, é a força motriz de toda a trama. Pedro (Adriano Reys) e Jairo (Ewerton de Castro) são os assaltantes amadores que a mantém refém em sua própria casa, que ela divide com o marido, sujeito glacial e metódico, envolvido em negociatas escusas.
Débora é infeliz. Seu marido é bem-sucedido e representa perfeitamente o papel de macho provedor. Porém, sua frieza contrasta com a necessidade de afeto da esposa. É natural, portanto, que ela comece a ceder aos encantos de Pedro, um dos bandidos que a corteja. Pedro é galante e respeitoso, ao contrário de Jairo, que é petulante e irascível. Jairo também se interessa sexualmente por Débora, e o fato de ela corresponder aos atributos de Pedro só vai tornando cada vez mais insustentável a relação dos três.
Os criminosos são motivados por motivações políticas pueris, – Sternheim talvez tenha sido influenciado pelo própria situação do país em 1971, em pleno controle dos militares – mas, felizmente, isso não compromete o filme. Paixão na Praia é quase um thriller policial, nos moldes das melhores obras dos mestres Sidney Lumet e William Friedkin. Apesar da fragilidade que ostenta em quase todos os 80 minutos, Débora se permite alguns esgares, principalmente no trato com Jairo, que remetem às femme fatales, também figuras centrais da cultura cinematográfica americana.
Sternheim é sóbrio na condução. Pedro corteja Débora em boa parte das cenas, mas sem apelar para a perseguição implacável. A intenção aqui não é esmiuçar um romance. A afeição que Débora desenvolve é apenas mais um elemento da história, não sua razão de existir. Vale ressaltar que o diretor não lança mão de cenas picantes com o intuito de atrair cinéfilos apenas pelo apelo sexual, retomando sempre o foco na relação belicosa dos três personagens principais.
Sternheim alcançaria mais sucesso (e prêmios) em 1974, com Pureza Proibida. Mas pesquisadores e fãs do cinema brasileiro não devem desprezar esse conciso, mas valoroso Paixão na Praia.