Inventário Grandes Musas da Boca

Vera Fischer

Por Adilson Marcelino

Nos anos 1970 e 80, era comum ter a seguinte resposta para a seguinte pergunta:

– Quais são as mulheres mais lindas do Brasil?

– Vera Fischer e Bruna Lombardi.

Bom, se Bruna realmente sempre foi linda, no caso de Vera o adjetivo se aplica como uma luva, já que foi revelada para o país ao vencer o concurso de Miss Brasil em 1969, ainda menor de 18 anos, e ficar entre as 15 finalistas do Miss Universo.

A façanha lhe abriu as portas da TV, onde se apresentou em várias atrações e bateu ponto como jurada do polêmico programa Flávio Cavalcanti. Mas foi o cinema que a colocou, definitivamente, no imaginário popular, transformando-a em início de carreira em uma das mais desejadas musas da Boca do Lixo.

Filha de descendentes alemães nascida em 27 de novembro de 1951, em Blumenau, Santa Catarina, Vera Fischer mostrou sua sensualidade explosiva e suas formas generosas em vários filmes. A estreia nas telas foi na Boca do Lixo, em 1972, dirigida por Fauzi Mansur, um dos mais talentosos cineastas do pedaço, com o filme Sinal Vermelho – As Fêmeas (1972).

O filme de Mansur tem trama em que uma bolada desviada por um empresário à beira da falência é cobiçada por uma gang perigosa. Vera Fischer chamou atenção de cara nesse seu primeiro filme e foi distinguida como atriz secundária com Diploma de Mérito para os melhores de 1972.

Mas foi no filme seguinte que Vera pode mostrar, além de sua estupenda beleza, todo o talento que iria buriliar nos anos seguintes: Anjo Loiro (1973), de Alfredo Sternheim.

Adaptado do texto de Henrich Man, que já originara o clássico Anjo Azul(1930), de Josef Von Sternberg, com Marlene Dietrich, Sternheim trouxe a trama para o Brasil, fazendo alterações que aproximasse o enredo para a nossa realidade.

Aqui, Mário Benventi é Armando, um professor até então um tanto recatado e austero, mas que ao se envolver com a aluna Laura, vivida por Fischer, tem a vida virada de ponta a cabeça. Sua degradação é acompanhada de perto principalmente pela colega professora vivida por Célia Helena, que o ama, e que fica cada dia mais espantada com o caminho sem volta que ele parece ter tomado.

Anjo Loiro arrebentou nas bilheterias logo ao ser lançado, mas problemas com a censura militar da época detonaram o sucesso do filme. Na verdade, a produção já encontrou dificuldades logo no início, quando teve que mudar de título três vezes para que fosse liberado: Anjo Devasso; Anjo Perverso; e, finalmente, Anjo Loiro.

E pior, depois de semanas de sucesso, o filme foi interditado, mutilado, voltando às telas somente seis meses depois, o que foi fatal para sua carreira. Em sua biografia na Coleção Aplauso, Alfredo Sternheim diz que a primeira opção para o par central foi Adriana Prieto e Francisco Cuoco, mas que essa escalação acabou não dando certo. Porém, vendo Anjo Loiro fica realmente difícil imaginar outros atores além de Benvenuti e Fischer, que estão ótimos nesse que é um dos grandes filmes de Sternheim.

Depois de Anjo Loiro, em que a atriz pode mostrar seu talento dramático, ela protagonizou filme feito sob medida: A Superfêmea (1973), de Aníbal Massaini Neto.

Os cartazes gingantescos de Vera nas fachadas dos cinemas colocaram, definitivamente, a atriz como musa idolatrada pelo público. Aqui, ela é a tal superfêmea do título, protagonista de uma campanha publicitária de um laboratório farmacêutico que está em dificuldades para lançar um pílula anticoncepcional para homens.

Em A Superfêmea, Vera Fischer contracena com Perry Salles, que vive o criador da campanha , e com quem vai ter um casamento de anos e amizade de vida inteira.

Depois de Fauzi Mansur, Alfredo Sternheim e Aníbal Massaini Neto, chega a vez de Vera Fischer trabalhar com outro nome mítico da Boca do Lixo: Ody Fraga.

Macho e Fêmea (1974) é uma comédia que coloca em cena mais uma vez a dupla de Anjo Loiro, de Alfredo Sternheim, Vera Fischer e Mário Benvenuti, ainda que em personagens completamente diverso. Na trama, ele é um boa-vida que recebeu herança milionária e quer viver novas emoções. Só que o que virá será uma confusão dos diabos, pois ao financiar pesquisas de um cientista, acaba usando uma droga que faz libertar de seu inconsciente sua porção-mulher nas formas voluptosas de Fischer.

Com argumento e roteiro também assinados por Ody Fraga, Macho e Fêmea é um dos primeiros filmes dirigidos por ele, que nos anos posteriores desenvolverá carreira importante não só como cineasta, mas também como roteirista de dezenas de produções.

Da mesma época, As Delícias da Vida é uma comédia anárquica dirigida por Maurício Rittner, cineasta que faria apenas dois filmes: Uma Mulher para Sábado (1971); e esse As Delícias da Vida.

Produzido pela Cinedistri, de Aníbal Massaini Neto, uma das produtoras mais atuantes da Boca do Lixo, As Delícias da Vida tem trama situada no mundo da televisão. Daí, acompanhamos o universo das novelas e também de seus bastidores, em que a protagonista Eva – Bete Mendes – se envolve com Perry Salles – Júlio -, um jornalista casado com a personagem de Vera Fischer, Fernanda.

Depois dessas duas últimas produções, Vera Fischer troca a Boca do Lixo em São Paulo pelo cinema do Rio de Janeiro, onde desenvolverá a maior parte de sua carreira, inclusive como uma das estrelas de novelas da Rede Globo.

Em solo carioca, Vera Fischer atuará sob o comando de cineastas como Victor di Mello, Perry Salles, Braz Chediak, Arnaldo Jabor, Cacá Diegues e Sérgio Rezende. Dará vida também à Neusa Suely em Navalha na Carne (1997), escrito por Plínio Marcos e dirigido por Neville D´Almeida, em que será um dos produtores – a personagem já tinha sido vivida no cinema por Grauce Rocha em filme homônimo dirigido por Braz Chediak em 1970.

Vera Fischer tem ainda um capítulo especial em sua trajetória, com três filmes dirigidos pelo maior cineasta brasileiro, o paulista Walter Hugo Khouri: Amor, Estranho Amor (1982), uma produção de Aníbal Massaini Neto; Amor Voraz (1984), produzido por Enzo Barone; Forever (1991), produzido por Aníbal Massaini Neto e Augusto Caminito.

FILMOGRAFIA

Sinal Vermelho – As Fêmeas (1972), de Fauzi Mansur
A Super Fêmea (1974), de Aníbal Massaini Neto
Anjo Loiro (1973), de Alfredo Sternheim
Macho e Fêmea (1974), de Ody Fraga
As Mulheres que Fazem Diferente (1974), episódio de Adnor Pitanga
Essa Gostosa Brincadeira a Dois (1974), de Victor di Mello
As Delícias da Vida (1974), de Maurício Rittner
Intimidade (1975), de Michael Sarne e Perry Salles
Perdoa-me por me Traíres (1980), de Braz Chediak
Eu Te Amo (1981), de Arnaldo Jabor
Bonitinha mas Ordinária (1981), de Braz Chediak
Amor Estranho Amor (1982), de Walter Hugo Khouri
Dora Doralina (1982), de Perry Salles
Quilombo (1984), de Carlos Diegues
Amor Voraz (1984), de Walter Hugo Khouri
Doida Demais (1989), de Sérgio Rezende
Forever (1991), de Walter Hugo Khouri
Navalha na Carne (1997), de Neville d’Almeida
Xuxa e os Duendes 2 – No Caminho das Fadas (2002), de Rogério Gomes e Paulo Sérgio Almeida