Depoimento: Rubens Ewald Filho

Dossiê Alfredo Sternheim

Perguntam com freqüência qual o critico que me influenciou e sinceramente tenho dificuldade em responder. Foram muitos e nenhum. Nem mesmo Rubem Biáfora que só fui conhecer melhor quando nos tornamos colegas de jornal. Mas tinha um critico que eu lia, guardava o nome e de que gostava muito: Alfredo Sterheim, que escrevia no Estado de S. Paulo. Até hoje ainda admiro seu estilo limpo, claro, com belo texto mas sem pedantismo. Onde dá para perceber que é bem informado (e bem formado). Que sabe das coisas mas não se preocupa em gritar isso aos quatro ventos. E demonstra a cada momento sua paixão pelo cinema e seu inconformismo com a má utilização da linguagem, a estreiteza de ideias e a mesquinhez do ambiente.

Nunca disse isso para ele, nem mesmo quando nos tornamos amigo. Ou talvez por causa disso mesmo. A gente acha que não precisa. Mas havia outra razão para minha admiração. É que Alfredinho, assim carinhosamente chamado, tinha o mesmo sonho que eu, que era o de fazer cinema. Já havia sido assistente de Walter Hugo Khoury, um diretor que eu admirava. Ou seja, era um “role model”, alguém para quem eu olhava como modelo a seguir. Daí meu entusiasmo acompanhando sua carreira como diretor, torcendo pelos seus filmes. E às vezes mesmo,confesso me aborrecendo se por acaso eles não chegavam a ter o resultado desejado.

Mesmo porque a vida de diretor de cinema em qualquer lugar do mundo não é fácil. Mas no Brasil é ainda mais difícil (pensando bem como tudo neste país onde a regra é se matar um leão por dia). Vendo os problemas que Alfredino enfrentava, acho que de certa maneira me fez decidir em ser apenas critico. Não achei que tivesse talento para dar tal passo.
Esse talento para escrever temos confirmado aqui mesmo na Coleção Aplauso, onde Alfredo escreveu varias biografias ( Luiz Carlos Lacerda, Arlete Montenegro, David Cardoso, Suely Franco) e fez um antológico e inédito Dicionário da Boca do Lixo – Cinema da Boca – Dicionário de Diretores. E que culmina agora nesta sua autobiografia sincera e reveladora. Mas quando alguém conta sua própria historia há algumas omissões. O que Alfredinho não podia revelar é o belo ser humano que ele é, amigo de seus amigos, de um enorme generosidade e grandeza de alma. Por nos todos, amado e respeitado.

Rubens Ewald Filho é crítico de cinema, autor de vários guias de cinema, comentarista do Oscar, novelista, diretor de teatro.

Obs.: convidado a dar depoimento sobre Alfredo Sternheim, Rubens Ewald Filho destacou este texto que escreveu para a biografia de Alfredo, Um Insólito Destino, publicada pela Coleção Aplauso.