Dossiê Alfredo Sternheim
Corpos Quentes
Direção: Alfredo Sternheim
Brasil, 1987.
Por Adilson Marcelino
Em sua biografia da Coleção Aplauso, Um Insólito Destino, Alfredo Sternheim elenca Corpos Quentes (1987) como uma das três realizações da fase explícita prediletas – as outras duass são Borboletas e Garanhões (1985) e Sexo Doido (1986). E registra: “A terceira é Corpos Quentes, em que enveredei pelo sobrenatural. A neurótica e rica protagonista matava os homens com quem transava e os enterrava na sua propriedade. Mas aparece o irmão gêmeo de um dos assassinados. Justamente um padre. Em uma sequência de pesadelo fiz uma das vítimas sair da cova ansiosa por sexo. Não foi fácil filmar o sujeito surgir de debaixo da terra sobre seu corpo. Mas, com a dedicação do elenco, da equipe e de meu iluminador Reinaldo Paes de Barros, depois de muitas horas obtivemos um ótimo resultado”.
Não há como discordar de Sternheim, Corpos Quentes é mesmo um baita filme. A trama começa com um assédio de um garotão por uma mulher em um bar que poderia ser como outros tantos que acontecem nas noitadas. Só que depois da transa, enquanto ela dorme, ele tenta surrupiar sua grana. Ela acorda, nega a pagar o michê, mas é agredida e obrigada por ele a abrir o cofre da casa e entregar-lhe seu dinheiro e jóias. Mal sabia ele com quem estava mexendo. Ela pega o revólver, atira uma balaço nele e o enterra no bosque que margeia sua casa.
Essa poderia ser também mais uma daquelas histórias de sexo com final trágico, mas daí ficamos sabendo que a moça já tinha um possível assassinato nas costas, pois fora suspeita de assassinar o próprio marido. E quando o namorado de sua empregada e a própria descobrem o corpo enterrado, e o ambicioso rapaz resolve chantageá-la, eles acabam também por encontrar o mesmo destino das covas no quintal – ainda que mortos acidentalmente.
Com tantos sumiços, entram em cena o amigo e a namorada da primeira vítima, e também o irmãos gêmeo da segunda, um padre, que farão de tudo para descobrir o que aconteceu naquela casa.
Corpos Quentes tem ótimo roteiro, com personagens muito bem construídos. O filme conta ainda com interpretação arrebatadora de Ludimila Batalov. Atriz de recursos dramáticos e sem pudor em protagonizar as cenas de sexo explícito, Batalov é o ponto altíssimo desse penúltimo filme de Alfredo Sternheim.
Durante toda a trama sua personagem é assaltada por pesadelos, todas claro repletas de sexo – é engraçadíssimo ver fantasmas de pau duro e fudendo a valer – , o que exige da atriz ser convincente não só na cama mas também na interpretação. E Ludmila Batalov dá conta do recado, mesmo quando o roteiro reserva diálogos chulos com pretensões divertidas: “mal sabe a família do seu marido que sua periquita está acesa”, tasca sua primeira vítima.
Corpos Quentes é prova de que filme de sexo explícito não precisa ser sinônimo de bagaceira, e aqui Alfredo Sternheim realizou um ótimo exemplar do gênero.