Como Ganhar na Loteria Esportiva Sem Perder a Esportiva

Especial Futebol no Cinema Brasileiro

Como Ganhar na Loteria Esportiva Sem Perder a Esportiva
Direção: J.B. Tanko
Brasil, 1971.

Por William Alves

Criada há mais de quarenta anos, a Loteca, conhecida também como Loteria Esportiva, continua a ser um pote de ouro no fim do arco-íris. Diferentemente de outras modalidades, como a Mega Sena, cujo objetivo apenas é chutar seis números e torcer pela ínfima possibilidade de sucesso, a loteria esportiva depende mais de um conhecimento prévio do postulante ao prêmio.

Atualmente, são quatorze jogos em nível nacional, e o sujeito tem que se decidir entre empate ou vitória de um dos times que se enfrentam na rodada. O prêmio vem quando se acerta o resultado de todos os jogos. No entanto, após um escândalo de corrupção em 1979 (que envolvia árbitros, jogadores e técnicos), a Loteca perdeu muito de sua popularidade e hoje se arrasta no último escalão dos prêmios da sorte.

Dirigido pelo croata J.B. Tanko, em 1971, Como Ganhar Na Loteria sem Perder a Esportiva se baseia em toda essa relação de fé entre os cidadãos comuns, os bilhetes da loteca e o futebol. Na época de lançamento, o prêmio ainda se constituía uma novidade, justificando o enfoque nas entusiasmadas expectativas dos personagens quanto à premiação.

Figuras centrais, Flávio Migliaccio é um mendigo (papel que ele repetiria em mais ou menos umas 666 novelas do Globo posteriormente) que arrisca as suas últimas moedas na loteca; Agildo Ribeiro é um sacristão mal-intencionado que consegue convencer um padre a partilhar o preço de uma aposta e Costinha é o homossexual (ou “bicha” mesmo, segundo os detratores desbocados) trejeitoso que serve de intermediário das apostas. Outros personagens incluem o taxista pobre que namora uma interesseira, o deputado que frequenta assiduamente o rendez-vouz da cidade, e as próprias prostitutas do estabelecimento, que entram de cabeça na disputa do prêmio (estipulado em dois bilhões de cruzeiros novos).

Todos eles são motivados pela reportagem televisiva que abre o filme, em que uma família superpopulosa dos morros cariocas posa feliz com o triunfo na premiação anterior. O prêmio é levado tão a sério, que o funcionário malandro que havia viajado com sua secretária loira cheia de atributos, chega mesmo a se desinteressar com a visão de sua amante desejosa na cama do hotel, preferindo prestar atenção no rádio transmitindo as partidas do bilhete. Jaiminho, o personagem de Costinha, transita rebolando por grande parte das cenas, convencendo o maior número de indivíduos a apostar.

O resultado é que uma gama enorme de pessoas sai vitoriosa, mas como não sabiam dos outros tantos vencedores (o que divide o prêmio, em que cada um ganha pouco mais de mil cruzeiros velhos), as consequências são desastrosas.

Tanko já havia comandando a direção em diversas outras produções nacionais, incluindo comédias com Os Trapalhões (como Adorável Trapalhão em 1967) e trabalhos com cânones como Grande Otelo (O Dono da BolaComo Ganhar Na Loteria sem Perder a Esportiva são curtos, enfatizando as piadas que surgem a todo momento.

Com o escândalo que afetou a Loteria Esportiva brasileira em 1979 e a italiana no início dos anos 80, o filme serve também como uma espécie de registro da época em que o povo brasileiro ainda acreditava na premiação.

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