Especial Luís Sérgio Person
Trilogia do Terror (ep. A Procissão dos Mortos)
Direção: Luis Sérgio Person
Brasil, 1968.
O longa Trilogia do Terror, dividido em três segmentos, é um clássico do cinema brasileiro. Um de seus méritos é a singularidade autoral de cada um dos diretores de cada segmento. Ozualdo Candeias fez uma fábula faustiana em pleno Brasil rural, trabalhando com os marginalizados elementos do Catimbó, em O Acordo. José Mojica Marins exercitou seu horror primitivo no mais assustador dos três episódios, Pesadelo Macabro. Já o mais politizado dos três, Luís Sérgio Person, que escreveu e dirigiu o episódio A Procissão dos Mortos, trabalhou com a alegoria. Com o Regime Militar instaurado, Person se utilizou das possibilidades alegóricas do cinema fantásdtico para registrar sua visão sempre crítica do Estado de Coisas que o Brasil se encontrava, destacando o delicado e polêmico tema dos desaparecidos políticos.
No elenco, nomes importantes como Lima Duarte. O projeto do longa em três episódios foi produzido pelos lendários Renato Grecchi e Antonio Polo Galante. A Procissão dos Mortos tem trilha sonora de Rogério Duprat, fotografia do genial Oswaldo de Oliveira, em P&B e edição de Silvio Renoldi, que ficou a cargo dos três segmentos, nessa produção que é um clássico exemplo da Era de Ouro da Boca do Lixo Paulisttana.
Lançado no mítico ano de 1968, Trilogia do Terror tem na alegoria dos guerrilheiros mortos do segmento de Person, um grande exemplo dos artifícios que muitos autores, em todas as artes, usarm para expressar sua visão da realidade “editada” pela censura dos Regimes Militares, sejam eles de que orientação política forem. A lenda de um local sinistro, onde os mortos vagavam juntos durante a noite, como em uma procissão, é narrada por um grupo de pessoas em uma taverna estilizada. O desafio de ver a tal procissão fantasmagórica dos guerrilheiros mortos é lançada, em um movimento clássico de várias narrativas góticas, e até de tempos bem anteriores. A representação dos espectros cria um anticlímax – o que sentimos não é o medo do sobrenatural, mas sim um fascínio por aquelas figuras que encerram a história preparando o espectador para o episódio seguinte, o de Mojica, o único que realmente pode receber a classificação de ‘terror’ dos três. Mas o episódio de Person permanece como um registro alegórico de época, digno do grande mestre que foi.