Panca de Valente

Especial Luís Sérgio Person

Panca de Valente
Direção: Luís Sérgio Person
Brasil, 1968.

Por Gabriel Carneiro

Ao se assistir Panca de Valente, a impressão que se tem é que Person havia se cansado dos filmes sérios e reflexivos e resolveu tirar férias. Nisso, ele realizou Panca de Valente, uma grande brincadeira com o cinema clássico americano, o cinema mudo, o faroeste, entre outros. Porque, o que é Panca de Valente, se não uma grande paródia?

Costa Larga é o bandido que mata todos os xerifes da pequena cidade de Espalha Brasa. Impõe então ao prefeito que Jerônimo (o nome já diz muito, não?), o mais paspalho e ingênuo cidadão do município, ocupe o cargo. Mesmo contrariado, Jerônimo aceita o cargo e põe a panca de valente, trajado como nos faroestes de quinta, aprende a montar a cavalo e a manipular uma arma. Tudo é motivo para zombar de seu personagem e da cidade onde vive. Person não economiza nas gags, mesmo quando elas são sem graça, em mérito de algo maior. Não há preconceito com tomadas batidas (como quando é filmado Jerônimo no cavalo, sem mostrar o animal, a princípio, para então abrir num plano geral que mostre a pateticidade do conjunto), desde que elas falem daqueles filmes referenciados.

Talvez seja esse o grande trunfo de Panca de Valente: ser um filme-festa, que busca meramente a diversão e o humor fácil, pastelão. Person mantém a seriedade apenas quanto ao rigor técnico e à qualidade fílmica, com bela fotografia de Oswaldo de Oliveira, além da ótima abertura, responsabilidade de Ypê Nakashima. O demais é Person se extravasando, brincando de fazer cinema sobre o cinema – com música, inclusive, letradas pelo diretor. Em determinado momento, Faz Tudo, interpretado por um Tony Vieira em início de carreira, olha para a câmera e diz: “essa chuvinha de cinema é fogo.” É uma fala aparentemente despropositada, que não acrescenta nada ao longa, mas representa bem o que é esse filme de Person.

Panca de Valente é considerado a película mais fraca do cineasta, e um de suas menos citadas, talvez por não ser justamente o filme sério, político e reflexivo como seus dois longas anteriores, São Paulo S/A e O Caso dos Irmãos Naves, e talvez o seja mesmo. Não é um grande filme, mas é um agradável, que funciona melhor com o tempo. Um dia depois de visto, Panca de Valente me parece bem melhor, com algumas ótimas sacadas – a primeira vez que Jerônimo monta a cavalo, ou as impagáveis cenas do treinamento de tiros ou dos exercícios físicos.

É um filme a se degustar, a se saborear na memória os momentos triviais, banais a princípio, mas que perduram e que passam a ter mais graça. A genialidade de Person estava aí, em criar um material que não seja tão facilmente esquecido, mesmo que o filme não seja brilhante.