José Lopes e Mojica

Dossiê José Lopes

José Lopes e Mojica

Por André Barcinski e Ivan Finotti
Seleção e transcrição: Matheus Trunk

Dias depois, Mojica e a equipe foram ao apartamento da atriz Terezinha Sodré, na rua Augusta, filmar a cena em que ela é flagrada pelo marido, transando com outro homem. Mojica havia escalado um de seus alunos para o papel do amante, mas Terezinha se recusou a fazer a cena, com a desculpa de que o rapaz era um amador e que ela não se sentiria à vontade. Mojica irritou-se e foi tomar um trago no restaurante Ferro´s, que ficava ao lado do prédio da atriz. No Ferro´s ele encontrou o amigo José Lopes, mais conhecido como Índio, um veterano da Boca do Lixo. Índio estava bem de vida, trabalhando na produção de Chacrinha na TV Excelsior, onde era assistente de Valentino Guzzo (ator que anos mais tarde interpretaria a antológica personagem Vovó Mafalda no programa do Bozo).

– Índio, graças a Deus que te encontrei! Estou com um problemão e acho que você pode me ajuda. Você conhece a Tereza Sodré?

– Lógico, Mojica!

– O que você acha de fazer uma cena pelado na cama com ela?

Mojica explicou o problema: disse que Terezinha havia se recusado a fazer a cena com um amador, mas que, com ele no papel, ela certamente toparia.

– É rápido, Índio, coisa de meia hora!

Índio não tinha mesmo nada mais interessante para fazer. Além do mais, a idéia de ficar agarrado com Terezinha Sodré não era de todo má… Mojica subiu para falar com a atriz. Disse que havia encontrado um “famoso ator de novelas” que aceitara fazer a cena (na verdade, Índio já havia atuado numa novela, As Minas de Prata no papel de – o que mais? – um índio chamado Visão, parte de um trio que incluía ainda os índios Audição e Olfato). Terezinha topou.

A filmagem não demorou trinta minutos como previra Mojica, mas seis horas. Além de trabalhar de graça, Índio ainda pagou o lanche de equipe. Ele ficou com pena ao ver que o pessoal não tinha dinheiro sequer para um sanduíche de mortadela, e resolveu pagar baurus e cerveja para todo mundo.

Alguns meses depois, Índio estava na rua do Triunfo, quando foi abordado pelo ator Tony Vieira, rei dos faroestes da Boca do Lixo.

– Índio, meus parabéns!

– Parabéns, por quê?

– Eu passei em frente ao Cine Ouro e sua foto está bem grande no cartaz!

Mojica havia gostado tanto da cena de sexo entre Índio e Terezinha Sodré que resolvera usá-la no cartaz do filme. Índio nunca poderia imaginar que sairia de casa um dia para tomar um trago e acabaria tendo sua foto espalhada por toda a cidade.

*Parte do capítulo 1969-1970: Zé do Caixão Contra a Embrafilme retirado do livro Maldito – A Vida e o Cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, de André Barcinski e Ivan Finotti, publicado pela Editora 34, em 1998.