Inventário Grandes Musas da Boca

Adele Fátima

Por Adilson Marcelino

Pode uma atriz fazer um único filme na Boca do Lixo e se tornar uma de suas mais amadas musas? Pode! Isso se seu nome for Adele Fátima.

Adele Fátima nasceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de fevereiro de 1954. E foi em solo carioca que desenvolveu sua carreira. O começo foi no início dos anos 1970, época em que foi modelo e garota-propaganda. Sua beleza estonteante e seu ziriguidum faceiro chamaram logo a atenção de Oswaldo Sargentelli, que a convidou para integrar seu grupo de mulatas.

Os palcos e a televisão receberam com gosto a bela mulata – no teatro, atuou com o genial Grande Otelo. Já, na TV, foi jurada de programas de auditório, dançarina, cantora, apresentadora e atriz, marcando presença em vários programas da Globo – Faça Humor Não Faça Guerra, Fantástico, Chico Anísio Show, Viva o Gordo, Brasil Pandeiro, Sandra & Miéle. Adele Fátima ainda atuou em produções importantes, como na minissérie Agosto, exibida em 1993 pela Rede Globo, e adaptada da obra de Rubem Fonseca por Jorge Furtado e Giba Assis Brasil.

Mas foi lá na década de 70, que o talento, a beleza e a sensualidade de Adele Fátima sacudiram o cinema. A estreia foi com Carlo Mossy em Com as Calças na Mão, em 1975, filme dirigido e protagonizado por ele. A partir daí, torna-se uma de suas musas e atua em outras produções em que ele está envolvido: As Granfinas e o Camelô (1976), dirigido por Ismar Porto e produzido e protagonizado por Carlo Mossy; As Massagistas Profissionais (1976), dirigido por Mossy; Manicures a Domicílio (1977), dirigido por Mossy.

No Rio de Janeiro, outros cineastas que dirigem Adele Fátima são Reginaldo Faria – O Flagrante (1975) -, Jece Valadão – Os Amantes da Pantera (1977) -, Luis Antonio Piá – O Homem de Seis Milhões de Cruzeiros Contra as Panteras (1975-78) -, David Neves – Fulaninha (1986) -, Paulo Cézar Saraceni – Natal da Portela (1988) e O Viajante (1999) -, além da co-produção Rio de Janeiro-Brasil e Paris-França No Rio, Vale Tudo (1987), dirigido por Philippe Clair.

A carreira é praticamente todo no Rio de Janeiro, mas foi em São Paulo que Adele Fátima protagonizou seu grande sucesso e que ficou para sempre no imaginário popular. Estamos falando da apimentada versão para Branca de Neve, dos Irmãos Grimm, em Histórias que Nossas Babás Não Contavam, em 1979. O filme reúne três grandes nomes da Boca: Oswaldo de Oliveira, na direção; Aníbal Massaini Neto, na produção e no roteiro; e Ody Fraga, nos diálogos.

Em Histórias que nossas Babás não Contavam, Branca de Neve vira mulata na pele desejada de Adele Fátima. E toda a corte enlouquece de tesão: os nobres da corte, o príncipe de Denis Derkian, o caçador de veados de Costinha e os sete anões safados. Como na fábula, mata de ódio e de inveja a rainha má e madastra, na pele lasciva de Meire Vieira – em um de seus melhores papéis no cinema, além de estar lindíssima. O longa é exemplo da criatividade da Boca do Lixo, pois tudo funciona bem no filme. Desde a musiquinha sacana até as presenças impagáveis de Costinha – a cena de Adele pelada na cachoeira e ele com suas caras e bocas é engraçadíssima, a de Renato Pedrosa como o espelho que inferniza a rainha, e a dos sete anões tarados, com direito a uma versão gay do Zangado e um Dunga quase vítima de pedofilia (destaque para a cena em que ela transa com todos os anões, menos Zangado, é claro).

Histórias que nossas Babás não Contavam é um grande momento da Boca do Lixo, e Adele Fátima está ótima de ponta a ponta, além da beleza para ninguém botar defeito.

Se você já desconfiava
das historias que a babá contava
tinha toda razão
ela lhe contou uma outra versão

o lado que você conhecia
era só a fantasia
história de príncipe e princesa
sempre acaba em safadeza

como João e Maria
que faziam bacanal
e chapéuzinho vermelho
que dava muito pro lobo mau

e ainda existem outras versões
que queremos contar pra vocês
mas isso é uma outra história
que fica para uma outra vez

que fica para uma outra vez
que fica para uma outra vez
Canção – Alaor Coutinho e Oscar Nusbaum

Filmografia

Com as Calças na Mão (1975), de Carlo Mossy;
As Granfinas e o Camelô (1976), de Ismar Porto;
O Flagrante (1976), de Reginaldo Faria;
As Massagistas Profissionais (1976), de Carlo Mossy;
Os Amores da Pantera (1977), de Jece Valadão;
O Homem de Seis Milhões de Cruzeiros contra as Panteras (1978), de Luiz Antonio Piá;
Manicures à Domicílio (1978), de Carlo Mossy;
Histórias que Nossas Babás não Contavam (1979), de Oswaldo de Oliveira;
Fulaninha (1986), de David Neves;
No Rio, Vale Tudo (1987), de Philippe Clair;
Natal da Portela (1988), de Paulo César Saraceni;
O Viajante (1999), de Paulo César Saraceni

Fontes:
Livro: Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa Metragem, de Antonio Leão da Silva Neto
Sites: Mulheres do Cinema Brasileiro e IMDb