Dossiê José Lopes
Entrevista com José Lopes
Parte 2: A TV Excelsior e o início da carreira no cinema
Por Matheus Trunk
Zingu! – No Minas de Prata, o senhor fazia parte de um trio de índios?
José Lopes – Isso. Éramos em três índios: Ouvido, Faro e Visão. Eu era o Visão. Inclusive, essa novela tinha um grande elenco, que incluía o Stênio Garcia.
Z – Chegou a fazer mais novelas na Excelsior?
JL – Depois participei do A Muralha, mas era um papel pequeno. Mas no Minas de Prata tinha um personagem bom. Ao mesmo tempo, era assistente de produção do Valentino Guzzo e trabalhava nos dois programas musicais do Chacrinha. Fazia A Hora da Buzina e A Discoteca do Chacrinha. O Valentino era produtor do Chacrinha e também fazia o Showriso do Paulo Celestino. Eu ficava na produção desse programa. Fazendo o Showriso, conheci Noira Melo, Rossana Ghessa, Célia Coutinho, Regina Célia, uma tropa de mulheres bonitas. E o Paulo Celestin,o uma pessoa maravilhosa e que está vivo graças a Deus. A Excelsior ficava na Nestor Pestana. Depois, deixaram de gravar na Vera Cruz e fizeram os estúdios na Vila Guilherme. As novelas eram quase todas filmadas nos estúdios da Vera Cruz.
Z – Como era trabalhar com o Valentino Guzzo?
JL – Valentino era uma figura maravilhosa, um baiano de Porto Seguro maravilhoso. Senti muito a morte dele. Depois, ele foi trabalhar com o Sílvio Santos na Globo e no SBT. Ficou acompanhando o Sílvio até morrer.
Z – E com o Chacrinha?
JL – Trabalhei mais de três anos nos dois programas dele. Aquele velho era um maluco maravilhoso. Sempre foi uma pessoa humilde, mas briguenta. Terminava o programa e ele ficava querendo saber como tinha sido o resultado do programa, se tinha sido bom. Ele tinha um coração bom, humilde, mas era maluco.
Z – Estar trabalhando próximo a muitos artistas consagrados mexia contigo?
JL – Não sei te responder isso. Só sei que já estava nessa escola maravilhosa que é São Paulo. Sempre converso com todo mundo. A única coisa que não nasceu dentro de mim é pedir. Não é questão de não ser humilde, sou humilde, só não gosto de pedir. A minha mulher chega a brigar comigo com isso. Então, as coisas que fiz foram porque me convidaram e acharam que eu tinha capacidade de fazer.
Z – O senhor conheceu o Tony Vieira na TV Excelsior?
JL – Conheci na Excelsior. Ele ficou meu amigo nesse tempo.
Z – Ele já usava bigode?
JL – Usava. Tinha pinta e ainda pintava mais a pinta (risos). Me lembro como se fosse hoje, ele na frente da emissora com uma camiseta vermelha. Ele sempre gostou de cuidar do corpo dele, fazer ginástica. E todo dia ele engraxava a bota na frente na porta da emissora (risos). Ele falava: “Meu irmão, estou engraxando a bota e estou vendo quem vem e quem vai. Os diretores me vêem aqui e eu já bato um papo”. Mas o Tony fez boas coisas na Excelsior. Ele teve um bom papel em A Viagem, mas o melhor foi no A Pequena Órfã, que o Dionísio Azevedo dirigiu. O Tony fazia o papel de um corintiano entregador de pão (rindo) e perturbava todo mundo. Ele fez bastante coisas, depois até luta livre. Eu fiz luta livre também. No fim, o apresentador do telecatch saiu, quando a Excelsior já estava entrando em decadência. O Bolinha apresentou algumas vezes e depois indicaram o Tony Vieira para apresentar a luta-livre. Ele foi apresentar e já colocou o Iragildo Mariano na equipe. O Ira diz que era lutador, mas ele era limpador de lona (risos). O Tony que colocou ele lá. O Ira é meu amigo também. Depois, o Tony foi fazer um filme do Mazzaropi. Nesse meio tempo, eu estava no Rio fazendo Meu Nome É Lampião, dirigido pelo Mozael Silveira.
Z – Como surgiu o convite do Mozael?
JL – Eu estava na frente da Excelsior, e chegaram o Mozael e o Vilmar. Eu não sabia quem eram eles. O Vilmar era tio do Roberto Farias e cuidava da parte de produção dos filmes dele. Eles estavam procurando o endereço do Milton Ribeiro. Chegaram em mim e perguntaram sobre o Milton. Depois, o Mozael me confessou que tinha percebido que eu tinha pinta de artista e que devia saber onde o Milton morava. E realmente sabia, ele morava na Vila Maria. Fiquei meio desconfiado de dar o endereço a pessoas que não conhecia. Mas o Mozael se apresentou como cineasta e isso chamou a minha atenção. Pegamos um taxi e fomos na casa do Milton. Eles acertaram tudo e os dois voltaram comigo, me deixaram de novo na Excelsior. Na volta, tomamos um café e o Mozael falou: “Vilmar, como está o roteiro?”. Ele passou uns detalhes e depois o Mozael respondeu: “Será que tem algum papel pro Índio?”, o Vilmar: “Vamos ver, vamos ver”. Eles pegaram o meu endereço e quando o filme estivesse pra começar, mandariam um telegrama pra ir ao Rio. Sabe como é esse negócio de cinema nacional? Passou um mês, dois meses e nem mais lembrava dessa história. Uns três meses depois me chega um telegrama: “Vem pro Rio de Janeiro”. Era para ir em um escritório de cinema. Quando cheguei lá, ele reuniu todo elenco e fomos filmar em Macaé, no estado do Rio. Pra mim, esse filme é o meu grande trabalho, e foi uma das coisas mais gostosas que passei na vida. Inclusive, o nosso irmão Cláudio Portioli era assistente de câmera. Algumas vezes o Claudião fazia câmera, mas o câmera mesmo era o José Medeiros, que era o diretor de fotografia do filme.
Z – Esse foi o primeiro filme com mais destaque que fez?
JL – Para você ter uma idéia, contracenei com Milton Ribeiro, Milton Rodrigues, Rodolfo Arena, Zezé Macedo, Aurélio Tomasini. O Milton Rodrigues foi muito famoso na Globo, fez A Gata de Vison. Ele também chegou a contracenar com a Cláudia Cardinale. Inclusive o Milton Rodrigues demorou mais ou menos um mês pra fazer amizade comigo. Fiz amizade com um pessoal que cuidava dos cavalos e os moleques eram metidos a fazer esporte. Em dia de folga, a gente ficava na praia lutando. Nisso, o Milton Rodrigues ficava olhando de longe. Não sabia que ele era apaixonado por esporte. Um dia, ele se invocou e chegou na rodinha da gente: “Pô, vocês ficam aí e não me chamam”. A gente falou: “Pô, mas você é o galã da fita”. Ele respondeu: “Mas quero também jogar umas pernadas com vocês”. Depois disso, ficou meu amigo, de chegar em mim algumas vezes no hotel e falar: “Vamos jantar fora, vamos numa feijoada em tal lugar”. E tinha uma cena em que cuspia na cara dele. Era uma cena maravilhosa, que me deixou aéreo depois de terminar. No filme, o meu personagem estava na casa do coiteiro do Lampião, que era o Rodolfo Arena. Nisso, chega o Milton Rodrigues, que era da volante com a tropa dele. Nesse momento, o Rodolfo Arena me deixa escondido dentro de um baú. Aí o Milton entra com a tropa dele e vê um atabaque pendurado na parede e pergunta pro Rodolfo se ali passou alguém. Ele diz que não, mas o personagem do Milton continua desconfiado, sai e depois volta, conseguindo me pegar. Eles me levam para um tronco de árvore fora da casa, me amarram e me perguntam: “Pra onde foi Lampião?”. Eu não respondo. Eles perguntam de novo: “Pra onde foi Lampião?”. Daí, encho a boca e cuspo na cara do líder da volante, que era o Milton Rodrigues. Era pra cena ser feita com maquiagem, mas o Milton falou: “Índio, velho, pode cuspir direto. Faz a cena direto, pode cuspir na minha cara”. Até eu fiquei com nojo (rindo). Mas enchi a boca e fizemos. Depois, o Milton casou com uma moça e foi pro México. Há uns dez anos, estava andando na avenida Ipiranga e alguém me chamou: “Meu cangaceiro!”. Era ele.
Z – Como era o Mozael no set?
JL – O Mozael é meu amigo, eu adoro ele. Depois fiz mais uns cinco, seis filmes com ele. No As Audaciosas, tenho um papel bom.
Z – Meu Nome É Lampião era uma produção grande, do Roberto Farias.
JL – Esse Meu Nome É Lampião era do Roberto Farias. Nas outras produções do Mozael, quando não era totalmente do Roberto, ele ajudava de alguma maneira. A filha do Roberto é afilhada do Mozael Silveira. O Mozael era gerente de banco, não tinha nada a ver com cinema.
Z – E como era o Milton Ribeiro?
JL – Olha, o Milton Ribeiro era outra figura maravilhosa. Todo mundo fala de alguns problemas com ele. Sei que era uma pessoa decente. Ele chegava para mim antes da filmagem: “Menino, vamos ensaiar porque quando chegar lá, eles podem errar, mas a gente não”. Era uma pessoa muito bacana. Deus que dê um bom lugar para ele.
Z – Como foi teu relacionamento com a Zezé Macedo?
JL – Zezé Macedo, que se foi agora há pouco, era minha queridinha. Depois fiz outros filmes com ela, fizemos juntos Pedro Bó, o Caçador de Cangaceiros, também em Macaé. A Zezézinha chegava para mim: “Meu filho, vamos dar uma saidinha. Te espero lá embaixo”. A gente ia num botequinho de fim de linha para tomar uma cervejinha. Ela me falava: “Se a gente toma uma cerveja lá, todo mundo fica olhando”. Nossa, Deus que a tenha em bom lugar, uma pessoa maravilhosa e minha amiga.
Z – Com tantos trabalhos, ela era uma pessoa bastante humilde.
JL – Humilde demais, uma pessoa doce. Fiquei muito triste e acho que até chorei quando a Zezézinha morreu. Minha amiga de tomar cervejinha. Nossa, que Deus a abençoe.
Z – Por que você acha que pessoas como a Zezé Macedo não são tão lembradas? O país tem memória curta?
JL – Acho que o brasileiro é muito fraco de memória e também não dá valor. Hoje em dia, a mídia é para mulher de peito grande, bunda grande e estão todo dia na imprensa. E o valor? Não sei, todo mundo tem o seu valor, não quero criticar ninguém. Mas a mídia vai em cima dessas coisas. Hoje em dia, um cara participa de um programa de competições e diz depois que é celebridade. Sinceramente, nunca quero ser chamado de celebridade. Se um dia fizer um trabalho que dê uma repercussão mundial, me torno celebridade. Porque tem o cara conhecido, o cara famoso e celebridade é outra coisa. Celebridade viva nós temos o Pelé. Mortos temos Ayrton Senna; a Martha Rocha também é uma celebridade. Sempre quando se fala de moda ela é lembrada. Agora o cara aparece um dia num lugar e no outro já é considerado celebridade? Isso é errado.
Z – Depois você foi fazer um filme com o Mazzaropi?
JL – Fui fazer um filme com ele. Quem escreveu o roteiro colocou um personagem índio na história. Isso foi em O Grande Xerife. Eles estavam precisando de um índio e o Mazza já me conhecia, mas não sabia onde estava. O meu amigo Pio Zamuner – por isso, dizem que tenho bronca do Pio – queria que outro índio, o Índio Paraguaio, ficasse com o papel. O Enoque Batista chegou no Mazza e disse: “O Índio está lá nas bocas de cinema todo dia”. O Mazzaropi pediu pra ir ao escritório dele. Fui e o Pio ficou meio assim, acho que não me queria no filme. Acertei com o Mazza, ele chorou pra acertar. Mas acertamos um cachê bom. Ele chorou, mas o que foi acertado me pagou. Mazzaropi era uma pessoa honesta e muito decente. Na produção, tive vários atritos, porque as pessoas ficaram com inveja porque estava ganhando muito bem. Telefonava para taxi ir me buscar na fazenda, me levar pra Taubaté tomar a minha cerveja e voltar. Terminei o filme, cortaram muita coisa, mas afinal foi um bom trabalho e o Mazzaropi era uma pessoa maravilhosa.
Z – Ele era tranqüilo no set?
JL- Muito, muito. Gente fina e muito honesto. Ele chorava pra acertar o cachê, mas depois que acertava com você, nem precisava assinar. No meu trabalho, gosto de respeitar os outros e de ser respeitado. Parte do elenco e do pessoal ficou um ciúmes de mim. Eles descobriram que eu estava ganhando mais que dona Wanda Marchetti, que era uma atriz bem conhecida. Quando descobriram isso, começaram algumas pirracinhas. Mas tirei de letra. Tinha dia que você ia deitar, chegava no colchão e voava água em cima de você. Uma vez, colocaram uma pedra debaixo da minha cama. Mas eram brincadeiras. Contracenei com o Mazzaropi, mas não sei quem acabou cortando várias cenas minhas. O meu papel era grande. Mas o importante é que sai de bem com todo mundo, recebi o meu e fiz amizades. Não tenho nada de mal pra falar do Mazzaropi, só coisa boa. Fiz muita amizade com a dona Clara, mãe dele – não foi pra puxar o saco não. Foi porque eu adoro crianças e pessoas de idade. Ela era uma pessoa maravilhosa, uma pessoa muito gente fina.
Z – Como era o Pio no set? Ele era muito mandão?
JL – Você está me provocando porque sabe que falo a verdade. O Pio era meu conhecido e de muito tempo pra cá ele é meu amigo. Não tenho mágoa de ninguém, mas ele era meio doido, me deu muita bronca sem necessidade. Depois, ele cortava o meu papel e dizia que era coisa do Mazzaropi. Chegamos a discutir algumas vezes, mas acho que não me prejudicou em nada. É essa coisa de cinema. Falo aqui o que já falei na cara dele: o Pio era meio nazista. Muito boca dura. Depois, nós fizemos mais filmes juntos e até hoje somos amigos. Agora se você me perguntar: ‘você gosta do Pio?’ Gosto. Só que lá ele era o rei, o dono da cocada branca. Teve um dia que ele mandou os caras me jogarem dentro da lagoa com roupa de cena e tudo. Isso só pra me sacanear. Não precisava. Mas deixa pra lá, ele é meu amigo e hoje estamos velhos. Velhos não, usados (risos) e gosto dele.
Z – Quando o senhor passou a freqüentar a Boca?
JL – Eu frequentava a Boca sem muita freqüência (rindo). Frequentava porque antes fiz Águias de Fogo, do Ary Fernandes. Mas, de 1971 até 1990, estava quase diariamente na Boca. Trabalho era na Boca, era tudo lá.
Z – Águias de Fogo era com o Carlos Miranda também?
JL – Não. O Miranda só fez mesmo O Vigilante Rodoviário. O Carlinhos, que está vivo graças a Deus, é outro que, se entrar nesta revista, receba um beijão e um abraço do seu amigo Índio. Teve uma vez que estava fazendo produção de um filme do Chico Cavalcanti em Peruíbe, a gente ia e voltava para São Paulo quase todo dia. Eu estava dirigindo uma kombi em Itanhaém, voltando de Peruíbe, à noite. Nessa hora, pensei: “Vou dormir dentro dessa perua, senão vou terminar batendo o veículo”. Parei a kombi numa rua e peguei no sono. Lá pelas nove e meia do outro dia, vejo um cara batendo na perua. Eu acordei todo suado, com o sol me queimando. Por coincidência, tinha parado na porta da casa do Carlos Miranda. Aí ele me chamou. Águias de Fogo também era um seriado, mas com vários atores. O principal era o Roberto Bolant. A gente fazia o seriado, que era filmado em Cumbica, principalmente, com o pessoal da aeronáutica. – inclusive usando os aviões e helicópteros. Quando cheguei, o pessoal falou: “O Índio vai filmar”. Um tenente chegou em mim: “Índio, você quer dar uma volta de avião?”. Entrei num caça, os caras quase que me matam do coração (risos). Fizeram de sacanagem comigo, o avião decolou e começou a dar pirueta no ar, eu com aquele troço no ouvido (risos). Depois, desci com as pernas tremendo.
Z – O Ary já tinha um certo nome na época?
JL – Já tinha sim. Ele tinha feito O Vigilante Rodoviário. Tomara que esteja com boa saúde. Eu adoro o Ary Fernandes até hoje.
Z – Você também teve passagem pela Tupi?
JL – Tive. Lá, inclusive, tinha uma pessoa maravilhosa que está até hoje na televisão. Pros amigos, ela é Vivinha, para os outros, ela é Eva Wilma. Cheguei a participar de um programa que ela tinha na Tupi, que se chamava Penélope [na verdade, o programa se chamava As Confissões de Penélope]. Eu fazia algumas coisinhas nesse programa. Depois, o Zara foi fazer uma novela chamada Maria Nazaré, em que ela ia ser a atriz principal. Era uma novela de cangaço, montaram todos cenários, mas a Tupi já estava meio caída. Saí da Excelsior que acabou e depois fui pra Tupi que também fechou. Estávamos todos ensaiando a novela em Itu. Durante todo esse tempo, a Eva Vilma sempre foi uma pessoa maravilhosa. O Carlos Zara, que ia dirigir a novela, tinha aquele jeitão dele, mas era uma figura bacana. Não chegamos a fazer a novela. A Tupi acabou indo à falência e a novela não foi feita.
Z – O senhor sabe porque a Excelsior fechou?
JL – Os velhos Simonsen morreram e os filhos ficaram. Parece que os filhos moravam nos Estados Unidos. Nessa época, o Edson Leite era o diretor responsável. Aí foi esse negócio de herança dizem que os filhos pegaram o dinheiro e gastaram. Não sei, não sei. Não estou afirmando nada. Sei que a televisão foi caindo, caindo, caindo e chegou à falência. Agora, como vai à falência uma televisão que tinha uma estrutura como a Excelsior não sei.
Z – A Tupi também tinha uma estrutura muito grande.
JL – Exatamente. A Tupi foi fundada pelo Assis Chateaubriand, que conheci pessoalmente. Uma vez fizeram uma matéria comigo no Diário da Noite, do Diários Associados. Era uma página inteira comigo. O título da reportagem era: Um índio a caminho do sucesso. Foi um jornalista gaúcho que fez a matéria. Ele inclusive me levou pra ser jurado de um concurso de escultura na areia uma vez.
Z – O senhor fez mais coisas em televisão?
JL – Olha, televisão nunca foi o meu forte. O meu negócio é cinema. Na verdade, não tenho nenhum tesão para televisão. Mas o cinema é a minha vida e a minha doença.
Z – O senhor já via filmes lá na Bahia?
JL – Via. Lá em Alagoinhas, fiz amizade com um cidadão chamado RF Dias, que era locutor da rádio local. O patrão dele, o Zequinha, era político e dono da rádio e do cinema. Eu era muito amigo do RF Dias e ele conseguia que eu visse muitos filmes proibidos. Eu entrava pelo fundo do cinema. Em filme de índio então… Gostava muito de faroeste. Seriado também, tipo Zorro, coisas bem antigas mesmo.
Z – Já queria ser ator de cinema nessa época?
JL – Só pensava a respeito. Mas nunca se sabe. De repente, você está dentro de algo que nunca imaginou. Acho que é o destino e você tem que correr atrás. Tudo que aconteceu na minha vida devo ao cinema. Sou uma pessoa muito feliz, não sou frustrado. Teve muitos trabalhos que fiz que não gostei, mas muitos gostei. Tenho um cachorro maravilhoso, uma sobrinha maravilhosa, uma periquita, minha mulher, meus amigos. Então, me sinto uma pessoa praticamente realizada. Porque totalmente acho que ninguém era.
Z – Tinha algum ator que você gostava de ver?
JL – Gostava muito da Doris Day, Aldie Murphy. John Wayne, claro! Achava ele um puta ator. Gostava muito também daquele loirinho, que depois morreu, o James Dean.
Z – Esses filmes você conseguia ver na Bahia?
JL – Conseguia. Dos atores brasileiros, tinham muitos que eu gostava. Tem um que está velho, uma figura maravilhosa. Deus que dê mais saúde para ele: Anselmo Duarte. [A entrevista foi realizada em setembro de 2009, Anselmo iria falecer em dezembro do mesmo ano; Anselmo é homenageado nessa edição também].
Z – Via também as chanchadas da Atlântida?
JL – Via. Gosto muito do baiano Geraldo del Rey. No gênero de cangaço, não tem outro igual ao Milton Ribeiro. As chanchadas também tinham grandes atores: Zé Trindade, Oscarito, Ankito, Grande Othelo – que ator maravilhoso.
Z – Quando você começou a se tornar ator somente de cinema?
JL – Isso foi em 71. Antes, tinha feito Meu Nome É Lampião. Nessa época, o Tony foi pro cinema. A gente já era amigo e ele acabou me levando. Fui assistente de câmera, sei acender um refletor. Adorava fazer efeitos especiais. Inclusive, fiz os efeitos do O Beijo da Mulher Aranha.
Z – Sério?
JL – Sério. O Babenco é outra pessoa maravilhosa. Só que ele colocou o José Marquesim como diretor de efeitos especiais. O Marquesim começou a fita, mas quem terminou fui eu. O Babenco me botou como truca.