Por Marcelo Carrard
Island of Death
Direção: Nikos Mastorakis
Ta paidia tou Diavolou, Grécia, 1974.
Dentro da gigantesca filmografia Exploitation produzida na Europa dos anos 70, alguns filmes se tornaram uma espécie de lenda, por seus extremos na representação da sexualidade e da violência. A grande maioria desses filmes foram feitos na Itália e muitos deles já foram comentados por aqui. Tão subversivo quanto um filme de Joe D’Amato ou Lucio Fulci, o filme grego Island of Death é um espetáculo de atrocidades em série, em um trabalho bastante autoral do pouco conhecido e não menos importante Nikos Mastorakis. Um grande número de edições desse filme foram lançadas em todo o mundo, inclusive em VHS por aqui. Vítima de severos cortes da censura, somente agora temos acesso à sua versão original, graças a reedições em DVD, razoavelmente fáceis de serem encontradas, inclusive com legendas em português na internet, em endereços variados de compartilhamento de filmes via download.
A trama é ambientada na ensolarada ilha grega de Mikonos, até hoje um paraíso do sexo livre e da badalação de turistas de todo o mundo, onde é presenciado um casal de irmãos incestuosos cometendo uma série de assassinatos brutais, todos com uma motivação moral. A fotografia procura deixar tudo às claras, sem sombras fortes, para que o espectador observe em detalhes cada crime. A mulher do casal fotografa tudo criando um interessante maneirismo de montagem. Esta, aliás, além da fotografia, do roteiro e da edição, ficou a cargo do próprio diretor. O primeiro assassinato é carregado de simbolismo católico, quando a vítima tem as mãos pregadas no chão em um ritual perturbador de crucificação. O tema dos assassinatos com motivação moral e doentia não são uma novidade, mas no caso desse filme parecem ser uma espécie de redenção dos pecados do casal incestuoso. Com uma trilha de canções meio hippies, tudo parece uma subversão do clima de paz e amor presente na ilha. A sexualidade carregada de morbidez e de conotações abjetas e grotescas aparece na sequência em que o homem transa com uma cabra, e que acaba se tornando seu objeto de sacrifício de sangue e quando uma mulher expressa suas taras sendo brutalmente assassinada pelo casal após uma sessão de perversões, tal o masoquismo e o Golden Shower.
A patológica homofobia do vilão surge como a própria negação de sua sexualidade, expressada nas mortes do casal gay e da bela lésbica que transa com sua namorada/irmã, sendo observada por ele com um fascínio doentio. A solução final da trama surpreende por sua crueza em uma mescla de punição e sublimação do casal em auge, em plena vertigem de seu desejo desenfreado que durante todo o filme transita pela dualidade Prazer/Morte. Obsessivos, amorais, violentos, eles entram para uma galeria de casais de assassinos em um lugar de destaque. A crueza do filme, típica das produções da época, o transforma em um clássico obrigatório para os fãs de Cinema Exploitation, que, por muitos anos, permaneceu na lista negra de filmes classificada na Inglaterra de Video Nasties.