Os filmes de Reichenbach em VHS/DVD

Dossiê Carlos Reichenbach

Por Vlademir Lazo Correa

Fazer uma listagem dos filmes de Carlos Reichenbach lançados em VHS ou DVD é de dar um nó no peito, visto a quantidade de lacunas que nos impedem de conhecer mais a fundo a carreira do cineasta em questão. O que reflete uma circunstância que atinge a obra de centenas de outros diretores brasileiros, dos quais é um tanto quanto difícil para o cinéfilo mais empenhado fazer uma reflexão mais geral e ter um conhecimento mais abrangente de diretores nacionais que admira. O mercado da indústria de DVDs é muito deficiente nesse sentido e são muitos poucos os diretores tupiniquins que possuem o privilégio e a sorte de ter a sua obra completa disponível no formato digital (a questão já foi levantada aqui mesmo na Zingu! em texto do editor Gabriel Carneiro). Com raras e honrosas exceções, a tendência é lançar no máximo dois ou três filmes mais antigos de nossos cineastas, quase sempre as suas obras mais reconhecidas (o que nem sempre corresponde exatamente aos melhores feitos pelos respectivos diretores), ao mesmo tempo em que lançando os novos filmes dos que vêm sendo produzido recentemente (como no caso do Carlão Reichenbach, do qual apenas está disponível em dvd os seus últimos três longas-metragens). O que acaba fomentando (e até justificando) o acesso aos filmes pelos meios mais escusos (internet, emule, downloads em geral, etc.).

A situação não era muito diferente na época do videocassete, cujo mercado de fitas VHS explodiu no começo da década de oitenta, propiciando aos amantes do cinema uma forma mais acessível de se tornar um colecionador de seus filmes preferidos, ou de simplesmente ir até a videolocadora e escolher o que de novidade ou de mais raro alugaria para assistir no conforto de sua casa (sem contar que o processo de ir até a locadora e passear entre as prateleiras, contemplando e manuseando as fitas de vídeo era um ritual dos mais lúdicos). Na época, o acesso aos filmes brasileiros era igualmente complicado, porque eram lançados os cânones de sempre (Limite, Ganga Bruta, Vera Cruz, Mazzaropi, Atlântida, Cinema Novo e do Cinema Marginal apenas alguns do Sganzerla e do Bressane), enquanto que eram relegados ao esquecimento e ostracismo absolutos (o próprio Canal Brasil somente surgiria anos depois para resgatar muitas dessas produções fílmicas perdidas no tempo).

Entretanto, no decorrer da década de oitenta ainda era forte o ciclo da pornochanchada, que arrastam multidões aos cinemas e possuíam um retorno financeiro garantido. As videolocadoras sempre faturaram com fitas de apelo erótico, e consequentemente um grande número de pornochanchadas foram despejadas nas locadoras. Foi nessa circunstância que dois dos primeiros longas de Reichenbach, produzidos pela Boca do Lixo, puderam ser lançados em VHS: A Ilha dos Prazeres Proibidos, distribuído pela extinta Poletel, e O Império do Desejo, lançado pela Look Vídeo, numa edição em vídeo bem melhor acabada do que a de outras pornochanchadas da época (e cuja capinha sugeria se tratar de um filme com sexo explícito, o que não era verdade). São dois filmes muito acima da média do que era catalogado como filme erótico nas locadoras, e o próprio Antônio Polo Galante, o lendário produtor da Boca do Lixo, definia: “Nos filmes do Carlão, os personagens falam coisas esquisitas, mas o público vai ver”. Enquanto isso, outros longas dessa primeira fase do diretor (Corrida em Busca do Amor, Lilian M., Sede de Amar, Amor Palavra Prostituta, O Paraíso Proibido, Extremos do Prazer e o cultuado Filme Demência) foram completamente ignorados pelo mercado de vídeo na época, situação que perdura até os dias de hoje, em que a grande maioria ainda não teve a devida oportunidade de conhecê-los.

As coisas melhoram significativamente a partir do grande Anjos do Arrabalde, definido pelo próprio Carlão como o seu filme mais popular, o mais premiado e bem recebido pela crítica em geral e o mais facilmente entendido pelo público. Foi a produção que passou a dar uma visibilidade maior ao cineasta, e que naturalmente foi lançado em VHS pela distribuidora Transvídeo. A partir daí, todos os longas que Reichenbach realizou desde então foram lançados em algum dos formatos de vídeo. Em VHS, ainda foram disponibilizados Alma Corsária (lançado pela Sagres), verdadeiro marco da retomada do cinema brasileiro dos anos 90, e o posterior Dois Córregos, pela Versátil, que também o lançou em DVD, junto com o curta Olhar e Sensação – hoje, fora de catálogo. No formato digital, também foram lançados todos os longas que Reichenbach dirigiu nessa presente década: Garotas do ABC (pela Europa Filmes, numa edição que inclui nos extras o belo curta Equilíbrio e Graça), Bens Confiscados, pela Imovision, que também lançou agora em 2009 o recente Falsa Loura, até o momento o último filme do diretor.

Enquanto isso, todos os outros filmes do cineasta esperam a sua vez no formato digital, incluindo aqueles mais antigos que no momento não nos é possível assistir e que no ostracismo em que se encontram vão se mantendo em uma cortina de fumaça especialmente densa, muito por conta de empecilhos burocráticos como o que está dificultando o lançamento de Lilian M. – Relatório Confidencial pela Lume Produções Cinematográficas, dentro da coleção dedicada ao Cinema Marginal. Entraves que certamente desanimam o realizador, mas que esperamos que sejam solucionados dentre o mais breve possível, por maior que as dificuldades que se apresentam.