As Libertinas

Dossiê Carlos Reichenbach

As Libertinas (Episódio: Alice)

Direção: Carlos Reichenbach

Brasil, 1968.

Por Gabriel Carneiro

Primeiro e pior dos três episódios de As Libertinas (os outros são Angélica, de Antonio Lima, e Ana, de João Callegaro), Alice é um longo e arrastado média-metragem sobre o adultério de um homem com a Alice do título. Porém, insatisfeito em explorar a personagem Alice, Carlos Reichenbach esquece-a no meio do filme para contemplar a libertinagem da personagem Augusta, esposa do adúltero, que também pula a cerca.

Ao que inicialmente parece uma tentativa de debochar de toda aquela situação esquisita, usando elementos tais como diferentes cenas que partem do mesmo princípio, como se uma substituísse a outra, através, especialmente, da mente de quem está vivendo a cena, o episódio de Reichenbach se perde na metade. Parece que ao tentar resolver de maneira satisfatória seu episódio, só o prolongasse, em busca de uma solução que nunca vem. Chega um momento, em que sem ter mais saída, ele encerra seu episódio com uma cena non-sense que busca certa graça estética. Porém, parte disso poderia ser poupado, principalmente quando a chata Augusta toma conta do filme para dar uma espécie de quebrada na verve do longa. Augusta toma o papel do homem e deixa de ser apenas o objeto sexual, passando a explorar sexualmente, e fora do casamento, um homem. Seria a forma, talvez, de Reichenbach vingar essa mulher traída – que se mostra muito mais desencanada que o marido. Nisso, Alice, bela e graciosa, apaixonada pelo marido de Augusta, fica deslocada, e numa cena banal, pega um ônibus e desaparece do filme.

Talvez pela herança cultural de Reichenbach, buscando sempre flertar com o autoral e, nesse caso, com a marginália, ele cria um filme recheado de um clima fake, avacalhado por natureza, com cenas estereotipadas e non-sense, tentando encontrar uma identidade – assim como busca criar para seus personagens -, e parece não ser bem sucedido – em nenhum dos casos. Primeira experiência do cineasta em longas-metragens, mesmo que em As Libertinas seja um longa de episódios, o filme carece de estrutura. São poucas as cenas que se sustentam, e o ritmo lerdo para que se propõe pode entediar o espectador.

Ao final do episódio, fica claro que é um filme de partida, de começo, de experimentação – típica de quem ainda não entendeu direito o que fazer e como fazer. Felizmente, o grande mestre Carlos Reichenbach se acertou muito bem nos anos seguintes, realizando obras-primas autorais, e deixando de lado, o que talvez seja a grande frustração em Alice, o olhar de rebelde sem causa.