Inventário Grandes Musas da Boca

Novani Novakoski

Por Adilson Marcelino

Quando se fala em musas da Boca do Lixo, todo mundo vai logo destacando Helena Ramos, Matilde Mastrangi, Aldine Muller, Patrícia Scalvi e Zilda Mayo. Mas nessa galeria existem muitas outras musas, nem sempre muito lembradas. Caso da bela Novani Novakoski.

Nascida em Ponta Grossa, no Paraná, Novani Novakoski largou um casamento fracassado em sua cidade e se mudou de mala e cuia para São Paulo. Sua plástica impecável logo chamou a atenção e, mais uma vez, Novani mudou tudo, largou o emprego de secretária e foi fazer teste na TVS de Sílvio Santos. Por lá fez pontas em novelas, como O Espantalho (1977), de Ivani Ribeiro, tornando-se também Telemoça nos programas do patrão.

Ainda na sua trajetória artística, foi modelo, fez comerciais de TV, e posou para a Playboy, em janeiro de 1980, clicada pelo fotógrafo de dez entre dez mulheres mais desejadas do país, J. R. Duran. Versátil, foi também vocalista da banda Calibre 38.

A estreia no cinema se deu por convite do produtor Antonio Polo Galante e em seguida pelo mítico Tony Vieira. A partir daí atuou sob a direção de alguns dos nomes mais importantes da Boca do Lixo: Oswaldo Oliveira, Ody Fraga, Tony Vieira, Juan Bajon, José Miziara, e também em produção do genial Walter Hugo Khouri realizada na Boca.

Em Pensionato das Vigaristas (1977), produzido por A. P. Galante e dirigido por Oswaldo Oliveira, Novani é uma detetive que investiga uma gangue de trombadinhas colegiais no Rio de Janeiro. O filme deu o APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte – de Melhor Atriz Coadjuvante para Lola Brah em 1977.

No ano seguinte, Novani Novakoski encontra o cinema particularíssimo de Tony Vieira em Os Violentadores (1978), um faroeste que reúne Tony Vieira e sua musa Claudette Joubert, mais os parceiros de sempre Heitor Gaiotti e Hytagiba Carneiro. No filme, Novani é uma garota de saloon.

1978 é um ano mesmo especial para Novani Novakoski com mais cinco filmes sendo lançados. Em Reformatório das Depravadas, de Ody Fraga, ela é uma das meninas de família mal-comportadas que são enviadas para um reformatório linha dura dirigido com sadismo por Lola Brah. Já em Estripador de Mulheres, de Juan Bajon, é a empregada da pensão em que o vilão Ewerton de Castro se hospeda. Esse filme marcou a estreia de Juan Bajon, natural de Xangai e radicado em São Paulo, como cineasta. Foi mais um filme que Novani atuou e que foi premiado pela APCA, dessa vez com os prêmios de Melhor Roteiro para Bajon, e Melhor Música, para Manuel Paiva e Luiz Chagas.

Ainda em 1978 tem O Atleta Sexual, de Antonio Ciambra, e Com Mulher é Bem Melhor, de Nilton Nascimento. É também o ano de Na Violência do Sexo, de Antonio Bonancin Thomé, em que Novani é a protagonista ao lado de Edgar Franco. No filme, ela é Marta, uma mulher que é violentada por quatro bandidos em pleno dia do casamento com Rodrigo. Daí, ele vai à captura do bando em busca de vingança.

Em 1979, Novani Novakoski encontra o cinema do genial Walter Hugo Khouri, que teve dois filmes produzidos na Boca do Lixo – O Prisioneiro do Sexo (1979) e Convite ao Prazer (1980). Novani atua em O Prisioneiro do Sexo, filme em que Roberto Maya encarna mais uma vez o insaciável Marcelo, e em que, para variar, há um desfile de deusas – Sandra Bréa, Kate Lyra, Maria Rosa, Nicole Puzzi, Aldine Muller, Suely Aoki, Misaki Tanaka, e, claro, Novani Novakoski, como mais uma das presas do garanhão. Sua cena com Roberto Maya é belíssima, com uma Sandra Bréa, mulher de Marcelo, assistindo indignada.

Ainda em 1979 Novani Novakoski atua em mais três filmes: em pequenos papéis nos longas Embalos Alucinantes, de José Miziara, e Belinda dos Orixás na Praia dos Desejos, de Antonio Bonancin Thomé; e protagonista em uma das histórias de Uma Cama Para Sete Noivas, de Raffaele Rossi e José Vedovato. Nesse último, Novani é uma das sete noivas que passam sempre pela mesma cama e em episódios engraçados e inusitados. Na história da personagem de Novani, contracena com Tony Tornado.

Novani Novakoski conheceu o produtor e distribuidor Arnaldo Zonari Filho, da Fama Filmes, durante as filmagens de Reformatório das Depravadas, de Ody Fraga. Os dois se casaram e mais tarde Novani foi viver nos Estados Unidos, afastando-se da carreira de atriz no Brasil, ainda que lá tenha feito pontas em filmes de Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger e feito curso de teatro no Tepper Gallegos e na Faculdade Santa Monica.

Separada de Zonari Filho, atualmente Novani Novakoski vive em Ponta Grossa, onde tem a escola de idiomas Enny´s English Conversation. Mas no imaginário popular será para sempre uma das musas amadas da Boca do Lixo.

Filmografia

Pensionato das Vigaristas (1977), de Oswaldo Oliveira;
Os Violentadores (1978), de Tony Vieira;
Reformatório das Depravadas (1978), de Ody Fraga;
Estripador de Mulheres (1978), de Juan Bajon;
O Atleta Sexual (1978), de Antonio Ciambra;
Com Mulher é Bem Melhor (1978), de Nilton Nascimento;
Na Violência do Sexo (1978), de Antonio Bonancin Thomé;
O Prisioneiro do Sexo (1979), de Walter Hugo Khouri;
Embalos Alucinantes (1979), de José Miziara;
Belinda dos Orixás na Praia dos Desejos (1979), de Antonio Bonancin Thomé;
Uma Cama para Sete Noivas (1979), de Raffaele Rossi e José Vedovato.

Fontes:
Livro: Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa Metragem, de Antonio Leão da Silva Neto
Sites: Mulheres do Cinema Brasileiro e IMDb

Musas Eternas

Paula Melissa

Por Matheus Trunk

O início da década de 90 foi um período terrível para o cinema brasileiro. A extinção de instituições incentivadoras como a Embrafilme deixaram a produção de nacional em um período de total estagnação. Pouquíssimos filmes eram lançados comercialmente. Dessa maneira, diversas atrizes acabaram não tendo oportunidade de fazer carreira no cinema. Deusas como Mari Alexandre, Isadora Ribeiro e Cláudia Liz acabaram tendo filmografias pequenas.

A morena Paula Melissa é um dos grandes nomes dessa geração. Desde muito cedo, a moça sempre teve forte interesse por moda. Além de estudar o tema, sempre teve pretensão de ter sua grife própria, sonho que ainda não realizou.

Uma das primeiras aparições públicas da musa foi seu ensaio para a revista Trip, em setembro de 1995. Em entrevista a publicação, a moça se declarou “desiludida” e “completamente decepcionada” com o sexo masculino.

Desde então, Paula começou a ser capa de diversas revistas e se tornou conhecida nacionalmente. Em 1997, foi convidada para fazer um dos papéis principais da novela Mandacaru na TV Manchete. Infelizmente, a atração não teve grande audiência, talvez pela crise que a emissora carioca atravessava no período.

Entre os anos de 1999 e 2001, Paula Melissa esteve na telinha quase todos os dias. Isso porque ela era uma das grandes estrelas do Escolinha do Barulho, da Rede Record. Adriana Ferrari, Cida Marques e Mari Alexandre eram as outras componentes do elenco feminino do programa. Melissa fazia a dona Fifi de Assis, a aluna CDF da classe que quando obtinha a nota máxima tirava uma peça de roupa. Seu bordão era o seguinte: “Ai professor, toda vez que eu tiro um 10, eu sinto tanto calor”. Esse período foi o auge da musa, sendo sempre possível vê-la dando entrevistas em programas de celebridades na televisão

Em 2004, Melissa participou do seriado Turma do Gueto, da Record. Ela era talvez o único motivo capaz de fazer o telespectador manter a televisão ligada no programa. Na atração, a atriz fez a personagem dona Suzana, diretora da escola onde se passava a trama. A filha do mestre David Cardoso, Tallyta também fazia parte do elenco do programa.

No meio cinematográfico, a musa só teve uma única incursão: no longa-metragem Olhos de Vampa (1996), do realizador Walter Rogério. No filme, Melissa é a terceira vítima do serial killer Vampa (Joel Barcellos). Esse interessante suspense foi inteiramente filmado no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Com grandes problemas na parte de produção, Olhos de Vampa nunca foi lançado comercialmente. Uma pena porque se trata de uma bela tentativa de se fazer cinema de gênero no Brasil.

Nos últimos tempos, Paula Melissa misteriosamente sumiu dos meios de comunicação. Durante toda sua trajetória na vida artística, além da sensualidade natural, essa grande musa sempre manteve um olhar marcante e extremamente provocante. Infelizmente, o tempo passou e o cinema brasileiro desprezou grandes beldades dos anos 90.

Uma vida dedicada ao cinema

Dossiê Francisco Ramalho Jr.

Por Adilson Marcelino

Produtor, cineasta e roteirista, Francisco Ramalho Jr. é nome fundamental na história do cinema brasileiro.

Nascido em 1940, em Santa Cruz das Palmeiras, São Paulo, Francisco Ramalho Jr. passou a infância em Pirassununga, também interior paulista. Foi lá que nasceu a paixão pelo cinema, assistindo aos seriados no cinema e criando histórias e exibindo para os amigos em projetor doméstico improvisado. Mais tarde, fica ainda mais íntimo do cinema quando cursa a Politécnica e dirige o Centro Acadêmico, e depois vai trabalhar na Cinemateca Brasileira, em época do grande Paulo Emílio Salles Gomes.

Depois das brincadeiras de garoto, a primeira experiência como realizador é no formato Super-8. Em 1964, dirige o curta Teatro Popular, em 1967, Mal de Chagas, e em 1974, Tietê – além de assistência de montagem nos curtas Subterrâneos do Futebol (1965), de Maurice Capovilla, e Auto da Vitória (1966), de Geraldo Sarno.

Em 1968, Francisco Ramalho Jr. estreia em longas com o filme Anuska – Manequim e Mulher. Adaptado do conto Ascensão ao Mundo de Anuska, do livro Depois do Sol, e em dois contos não publicados de Ignácio de Loyola Brandão, que assina os diálogos, o filme fala de uma história de amor e de ciúme entre um jornalista, vivido por Francisco Cuoco, e uma modelo, vivida por Marília Branco. Situado no mundo da moda, Anuska – Manequim e Mulher é uma estreia com estilo e que possibilita rara oportunidade de ver Francisco Cuoco no cinema, já que o ator retomaria sua carreira nas telas só a partir da década de 1990.

Francisco Ramalho Jr. ficaria quase uma década sem dirigir longas, pois foi a época barra pesada da ditadura militar, época em que trabalhou em outras frentes, como professor de física e diretor do Museu Lasar Segall. O retorno se dá com À Flor da Pele (1976), filme de sucesso e vencedor de vários prêmios – Melhor Filme, Melhor Atriz (Denise Bandeira), e Melhor Roteiro (Ramalho) no Festival de Gramado 1977, e Prêmio Especial Air France de Cinema 1976 para Denise Bandeira. O filme, baseado em peça de Consuelo de Castro, conta a tumultuada história de amor entre um autor de telenovelas, Juca de Oliveira, e sua aluna na Escola de Artes Dramáticas, Denise Bandeira. Em 1976, dirige também o episódio Joãozinho, do longa Sabendo Usar Não Vai Faltar, uma produção de Alfredo Palácios e Antonio Polo Galante.

Em 1978, Ramalho dirige o maior sucesso de sua carreira e, curiosamente, o único longa que não tinha produzido até então, O Cortiço. Adaptado da obra-prima naturalista de Aluísio Azevedo, O Cortiço é uma super produção para a época e bancada pelo produtor Edgar de Castro. O filme reúne nas telas um dos casais mais explosivos daquele momento, Betty Faria e Mário Gomes, que vinha da novela de sucesso Duas Vidas (1976/77), de Janete Clair, e de separação bombástica entre Betty e o diretor Daniel Filho. O Cortiço não tem a força do romance, mas conta com bom elenco – ainda tem Armando Bógus, Marcus Vinícius, Ítala Nandi, Jacyra Silva, Beatriz Segall, Zaira Zambelli, Sílvia Salgado; e belíssima música de John Neschling – a canção Rita Baiana na voz de Zezé Motta foi sucesso nas rádios.

Com Paula – A História de uma Subversiva (1979), Francisco Ramalho Jr. faz seu filme mais pessoal. Pela primeira vez escreve uma história original, o reencontro entre um arquiteto e seu antigo torturador na época da ditadura e as lembranças de um antigo amor morto pelo regime, e que tem muita a ver com a vivência de Ramalho – durante a ditadura ele foi preso duas vezes. O filme marcou também a primeira co-produção com a Embrafilme, que ainda fez a distribuição. Paula – A História de Uma Subversiva é protagonizado por Walter Marins – o arquiteto Marco Antonio e ex-professor da Faculdade de Arquitetura da USP -, Armando Bógus – Oliveira, ex-torturador e atual chefe do setor de entorpecentes da polícia -, Carina Cooper – Paula, líder estudantil que integra a luta armada -, Regina Braga – fotógrafa e esposa de Marco Antônio -, e Marlene França – professora infantil e ex-esposa do arquiteto. Quando a filha de Marco Antônio desaparece, ele reencontra seu ex-torturador, agora designado pela polícia para encontrar o paradeiro da moça. Esse episodio faz Marco Antonio relembrar o passado e seu caso de amor com Paula, líder estudantil caçada ferozmente por Oliveira. Paula – A História de Uma Subversiva é um bom filme, mas fracassou totalmente nas bilheterias.

Nos anos 1980, dirigiu o cultuado Filhos e Amantes (1981), produzido por Antonio Polo Galante. O filme conta o encontro em uma casa nas montanhas de vários personagens e as conseqüências que vão originar daí. Sexo, homossexualidade, drogas e amor livre em elenco com Lúcia Veríssimo, Denise Dumont, André de Biase, Nicole Puzzi, Hugo Della Santa, Rosina Malbouisson, Walmor Chagas e Renee de Vielmond. O outro filme da década é o sucesso Besame Mucho (1986), adaptado da peça homônima de Mário Prata. O filme conta, de trás para frente, a história de dois casais – Antônio Fagundes e Christiane Torloni, José Wilker e Glória Pires – desde a adolescência até a tumultuada vida de casados. Sucesso popular, Besame Mucho foi premiado no Festival de Gramado 1987, como Melhor Roteiro (Prata e Ramalho), e no Festival de Cinema Íbero-Americano de Huelva, Espanha, 1987, como Melhor Filme.

Depois de Besame Mucho, Francisco Ramalho fica longe da carreira de cineasta por quase duas décadas, retornando em 2006 com Canta Maria. Adaptado do romance Os Desvalidos, de Francisco J. C. Dantas, o filme conta uma história de amor e ciúme no nordeste povoado por cangaceiros e volantes. No elenco, Vanessa Giácomo, Marco Ricca, José Wilker e Edward Boggiss.

Além da carreira de diretor, Francisco Ramalho Jr. tem também importante carreira de produtor, não só de seus filmes mais de inúmeros outros cineastas. A parceria mais bem sucedida foi com Hector Babenco, que começou com o sucesso internacional de Babenco, O Beijo da Mulher Aranha (1985) – Oscar de Melhor Ator e prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes para William Hurt, além de outros prêmios na Noruega, Japão, Espanha e Estados Unidos. Ainda com Babenco, Ramalho produziu Coração Iluminado (1998).

Francisco Ramalho Jr. participou de várias produções, como produtor ou produtor executivo, de filmes como Os Amantes da Chuva (1980), de Roberto Santos; Das Tripas Coração (1982), de Ana Carolina; Cristina Quer Casar (2003), de Luiz Vilaça; Jogo Subterrâneo (2004), de Roberto Gervitz; O Casamento de Romeu e Julieta (2005), de Bruno Barreto; O Contador de Histórias (2009), de Luiz Villaça; e acaba de chegar sua nova produção aos cinemas, a volta de Arnaldo Jabor, A Suprema Felicidade.

Fontes:
Livros: Dicionário de Cineastas Brasileiros (Luiz F. A. Miranda), Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa Metragem (Antonio Leão da Silva Neto)
Documentário: Francisco Ramalho Jr. (André Barcinski)
Sites: Mulheres do Cinema Brasileiro, Insensatez e IMDb